sábado, 31 de dezembro de 2016

ALGUNS HAICAIS SOBRE A CHUVA.

Essa chuva me ilha
em casa. Corta-me as asas,
interrompe a trilha!
         
             ***

O céu todo cinza:
A chuva sem fazer curva,
na manhã ranzinza.

            ***

Pingo, pingo, pingo...
A chuva, a vista turva!
manhã de domingo.

           ***

Na tarde chuvosa:
As flores com suas cores...
Qual a mais viçosa?

          ***

Na sexta molhada,
o asfalto reflete a imagem
da jovem passante.

Miguel de Souza

sábado, 24 de dezembro de 2016

SOBRE O NATAL

É NATAL!
                                                                                                      
É Natal! E junto a ele, a falsidade
dos que fingem, ao menos, por um dia,
numa atitude tanto quanto erradia,
uma falsa e sem lógica amizade!

Mas é Natal! Eu sei, é bem verdade!
Há mais de dois mil anos Jesus nascia,
vindo aqui sem nenhuma regalia,
morrer por nós, em plena mocidade!

É Natal! Queimam fogos de artifícios,
e o Menino naquele sacrifício,
correndo risco de perder a vida!

Mas é Natal! Há festas, guloseimas,
e o homem: cabeça dura, sempre teima,
nessa atitude tanto indevida!

Miguel de Souza



domingo, 18 de dezembro de 2016

SOB ENCOMENDA

Fernanda e Aurélio se casaram no domingo dia 11. E para celebrar esse momento tão bonito, compus este soneto a pedido da noiva, lido por mim no casamento.

                                                      EPITALÂMIO

O belíssimo passo do casamento,
com ternura e com toda finesse,
pra recamar com amor essa messe,
é dado com louvor nesse momento.

E que o casal que por hora se casa,
possa atravessar mesmo todas
as possíveis e as impossíveis bodas,
que um duradouro casamento passa.

E, logo após, às bodas de prata,
pelos vinte e cinco anos de namoro,
de harmonia fiel e radiante!

Como duas pessoas sãs e gratas:
celebrarão também as bodas de ouro,
e consequentemente as de diamante!


Miguel de Souza 

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

15 de dezembro - Dia do Jardineiro.

Meus parabéns a esses profissionais que embelezam as praças, jardins e o espaço físico das empresas, condomínios, etc...

Alguns haicais sobre o Jardineiro.

Entre tenras flores
Jardineiro e Colibri
sorvem aroma e néctar.



Na rega das plantas
pequeno arco-íris dá
o ar de sua graça.

No ir e vir sem trégua,
a grama, maquinalmente,
exala perfume.

Verde novo na
grama. Ver de novo a grama
com seu verde novo.

Com arte e talento
o Jardineiro-Artesão
poda suas plantas.

Miguel de Souza

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

ENTRE POETAS

Deu sua passagem um grande brasileiro, como diria Paulo Autran. Ferreira Gullar, ao que me parece entendeu bem o que é ser um fingidor, pois sua obra plena de criatividade refletiu e reflete na pele as mazelas deste povo tupiniquim.

POEMA BRASILEIRO

No Piauí de cada 100 crianças que nascem
78 morrem antes de completar 8 anos de idade

No Piauí
de cada 100 crianças que nascem
78 morrem antes de completar 8 anos de idade

No Piauí
de cada 100 crianças
que nascem
78 morrem
antes
de completar
8 anos de idade

antes de completar 8 anos de idade
antes de completar 8 anos de idade
antes de completar 8 anos de idade
antes de completar 8 anos de idade

Ferreira Gullar
in: Dentro da noite veloz


GULLAR MORTO

Você não foi como a poesia,
que segundo você mesmo: não fede nem cheira.
Você fedeu!
Fedeu nas narinas daqueles que cheiravam rosas.
Fedeu nas mãos dos que atiraram a bomba suja.
Mas fedeu, principalmente, no coração dos homens maus.

Você disse e soube dizer...
E quando calado, seu jeito de calar foi a maneira
que encontrou de regurgitar palavras,
de transbordar verbos.
Seu setembro de flores úteis,
seu agosto sem Rimbaud,
suas tardes de maio de urina e terror,

refletem verdades absolutas de poesias e compromissos.

Hoje, 4 de dezembro de 2016, dia de Santa Bárbara,
morreu um homem (in)comum
brasileiro, maior, casado, reservista,
e um dos maiores Poetas que esta terra já deu!
Adeus, Gullar.

Miguel de Souza


*Caricatura compilado do blog de Flavio Luiz cartunista.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

ENTRE POETAS

O MOSQUITO

O mundo é tão esquisito:
Tem mosquito.

Por que, mosquito, por que
Eu... e você?

Você é o inseto
Mais indiscreto
Da criação
Tocando fino
Seu violino
Na escuridão.

Tudo de mau
Você reúne
Mosquito pau
Que morde e zune.

Você gostaria
De passar o dia
Numa serraria -
Gostaria?

Pois você parece uma serraria!

Vinicius de Moraes


O MOSQUITO (AEDES AEGYPTI)

O mundo é tão esquisito!
Tem Aedes Aegypti.

Por que Aedes Aegypti?
Por que adoecer?

Você é o inseto,
Mais temido,
Desse inverno.
Picando a tez,
De uma só vez...
Pavor eterno!

Tudo de ruim,
Você une...
Mosquito, tez
Que pica e pune.

Você gostaria
De passar o dia
Numa pele macia -
Gostaria?

Pois você adora uma pele macia.

Miguel de Souza

domingo, 27 de novembro de 2016

SOBRE LIVROS


Chegou às prateleiras o livro Aprecie a Vida do poeta Everaldo Nascimento, com 12 poemas inéditos todos escritos no mês de setembro de 2015, com quatro versos de quatro estrofes cada poema. A mensagem do livro é lírica, romântica e mostra a beleza da vida em todos os sentidos e momento que ela nos oferece. O amor, a saudade, as mudanças, adversidades, desafios, a morte, o recomeço, os dissabores da vida, as alegrias – são temas abordados pelo autor na certeza de que apreciar a vida é o segredo para ser feliz.  Afirma Everaldo.

Lançamento de 28/11 a 9 de dezembro na GRÁFICA REAL na Rua José Clemente – Centro. Das 09 às 17 h. Exposição Cultural de Lançamento do Livro APRECIE A VIDA. Apenas R$ 5,00 o exemplar.

APRECIE A VIDA!

A vida é uma caixinha
De surpresa para se viver
Aprecie cada momento
Eles são feitos pra você.

Aprendemos a caminhar
Sempre em busca de um amor
Mas, cuidado com os espinhos
Que ficam em volta da flor.

Seus caminhos; suas escolhas
Que aprendemos a lidar
Não é fácil, mas, aprecie
Tanto o poema quanto o olhar.

Aprecie, pois o tempo passa
E sua vida vai prosseguindo
Os anos vão se passando
E as horas diminuindo.

Everaldo Nascimento
In: Aprecie a Vida
P. 02  

sábado, 26 de novembro de 2016

INTERAÇÃO

LIÇÃO

Uma folha pousou no rio,
trazida pala força do vento!
E vi nessa simples leitura,
um grandioso ensinamento:

Eu vi, no rio, minha vida,
e no vento, o meu destino...
A folha, com certeza, era eu,
no meu tempo de menino!

Miguel de Souza

P.S.: Poema publicado no blog Varal de Poesia, no dia 10 de janeiro de 2016, e que obteve os seguintes comentários:
 
Maurício Caldeira disse:

Poema sensacional!
Sempre tive vontade de fazer um poema sobre algo na natureza, principalmente no olhar, o céu, entre as árvores. É algo que gosto muito de fazer. Ainda não veio a inspiração! Não sei se um dia virá! Se ver em uma folha, jogada na vida em natura, me faz lembrar de Saramago retratando sua infância. E tenho um gostar particular por Saramago. Considero o melhor escritor do Mundo! Mas é somente a minha, pequenina, opinião. Acho que essa semelhança do retratar da infância de Saramago com o seu poema, me fez gostar tanto! Parabéns pela criatividade, sensibilidade, e escrita!
1/11/2016 6:28 PM
Miguel de Souza disse:

Obrigado meu caro pelas palavras tão elogiosas ao meu poema. E sobre a inspiração... bem, os poemas acontecem naturalmente, não precisa ter pressa e nem forçar esse acontecimento. Com relação ao Saramago, é motivo de lisonjeio para mim, que meu inofensivo poema te faça lembrá-lo. Saramago certamente é um dos melhores escritores do Mundo! Concordo. 
1/12/2016 7:17 PM
Vinii Marques disse:

 Você pousou na vida, trazido pela força do destino, no seu tempo de menino! Incrível.
A força dessa simples metáfora impactou!! Muito bom!!
2/08/2016 12:16 AM

sábado, 19 de novembro de 2016

INTERAÇÃO

Olho para o céu!
Quero ver a superlua
despontar do cinza...

                 Iraí Verdan


Comentário:

Até num inofensivo haicai o poeta não perde sua veia crítica! Gosto disso. Lembrei-me  do Caetano Veloso: "Da feia fumaça que sobe apagando as estrelas."

O tempo ranzinza
esconde, não sei onde, a
lua toda cinza.

           Miguel de Souza

terça-feira, 15 de novembro de 2016

CURIOSIDADE LITERÁRIA

Um lugar, um poema.

Não sei mesmo qual a relação daquele lugar com o poema em questão. Mas o fato é que toda vez que, ao passar por aquele lugar, vinha à mente a inspiração para compor o poema. Que já estava pronto. Só faltava tempo para materializá-lo no corpo de um papel. Mas logo em seguida, ante aos afazeres da vida, me esquecia de compô-lo. E no dia seguinte de novo...
Certa vez, me comprometi comigo mesmo para sua composição. De hoje não escapa, disse em tom de brincadeira! E assim se sucedeu... O poema é lindo! Tenho verdadeira adoração por ele. Pela forma como ele se me apresentou.  O fiz de um fôlego só, também pudera! Há tempos teimando para ser escrito.
O lugar... bem, o lugar não tem muito a ver com o poema, não. Ou será que tem?! Esta explicação não cabe a mim. Disse certa feita, num outro poema que: “parada de ônibus é ponto de encontro de pessoas desconhecidas”. O fato é que gosto desse poema minimalista que compus outro dia. Pois, esse lugar ao qual me refiro é, exatamente uma parada de ônibus, uma das muitas que há em Manaus.
O poema surgiu através do contraste estrelas X flores, se é que elas se contrastam, mas a ideia do poema era essa, misturar o ofício de ambas no subjetivismo do eu lírico numa queixa de solidão que perpassa todo o texto e a vida do poeta. Pura verdade. Na ação que fazemos diante das estrelas e das flores, contar as estrelas, imagem romântica, o apogeu do amor, a certeza. Despetalar as flores, incerteza, dúvidas no amor. Assim aconteceu o poema.
Poemas acontecem de várias formas, pelo menos comigo. “Pétalas” não é um caso isolado de poemas que pedem para serem escritos, mas é o mais contundente. Por isso resolvi revelar neste pequeno texto, essa relação do poeta com o poema no momento de sua criação.  


Pétalas

Houve um tempo
Em que eu
Despetalava estrelas

Que acabavam sempre
No malmequer!

E contava as flores...

Hoje em dia
Eu conto
As estrelas

E despetalo as flores

Que acabam sempre
No malmequer!

                        Miguel de Souza






quarta-feira, 9 de novembro de 2016

CONVITE

                                                   clique em cima do convite

sábado, 5 de novembro de 2016

HAICAI

Adentra novembro:
Suave pouso dessa ave,
Penúltimo membro.

                   Miguel de Souza

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

HOMENAGEM

o nome

pouco importa, o nome fica.
o nome é a única coisa
que fica!
relacionado ao carácter de quem,
por ventura se foi,
colher o bem por sua caridade,
ou não!

mas tudo passa,
o nome fica!

na pauta do tempo,
nas costas do vento,
gravado, grafado na história,
grifado nos tópicos,
o nome, único legado, fica!

o corpo se deteriora,
a terra o consome,
mas o nome, o nome,
o nome fica!

fica na boca, na mente, e
no coração dos homens.

Miguel de Souza

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

POESIAS POLÍTICAS

ENREDO

Embora a vida me pareça vil,
Pelos exemplos desses pobres homens,
Que mais parecem uns lobisomens,
A colocarem medo no Brasil!

Muito embora depois... ninguém os viu,
E para fora daqui, eles somem
Com a maior fatia!... Que comem
Bem longe dessas terras do Brasil!

E depois vêm aqui pedir voto,
E o povo, indiferente, sempre ignoto,
Deposita com fé, na tecnológica urna...

E, após quatro anos, eles vêm de novo,
Lograr o mesmo dito e bobo povo,
Cego e habitante de asquerosa furna!

 Miguel de Souza


sábado, 22 de outubro de 2016

MANAUS EM PARALAXE

A Manaus na visão da poetisa Amy  Higgins Schneider, que é filha da minha querida amiga, a doutora Ana zélia da Silva.


MANAUS DO CÃO!

O “Louco” morreu “Enforcado”! 
Nesta cidade que é o cúmulo do absurdo da nojeira. 
Um carma maldito é viver em ti. 
Já fui, já voltei... 
O que me prende a esta terra insana? 
Não sei! 

É carma! O que mais seria? 
Antes de nascer me perguntaram: 
“_Queres ir para Cabul ou para Manaus? 
Para o Afeganistão ou para a Cidade do Cão?” 
O que me restava entre um inferno horrível e outro pior ainda? 
Escolhi Manaus, achando que seria mais fácil fugir daqui. 
Vim para a floresta sem árvores das Bestas-Feras, 
Do jaraqui que jaz morto aqui. 

Pagar pecados, até quando? 
Neste chão onde não sopra o minuano. 
Que é a filial da montanha da perdição. 
Uma cidade em constante maldição. 

Manaus, uma cidade melhor? 
Só se for posta em abaixo, como a “Torre”, virar pó. 
Reconstruir do nada o que nada é, 
Só pra quem tem muito estômago, 
E mais ainda, fé! 

Amy Schneider

* Compilado de sua página na Usina de Letras.

sábado, 15 de outubro de 2016

ENTRE POETAS

POÉTICA

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo
Abaixo os puristas

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer seja fora
de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do
amante exemplar com cem modelos de cartas
e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.

Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare

- Não quero saber do lirismo que não é libertação.


Manuel Bandeira
In: Antologia Poética
José Olympio - editora










POÉTICA

Estou de saco cheio da poesia metida a besta
com nota de rapapé
arcabouço teórico
prefácio
e posfácio
Estou de saco cheio da poesia marginal publicada pela
                                                            [imprensa oficial
Da poesia que treme diante de um travessão e de um
                                                            [ponto-e-vírgula
Estou de saco cheio da poesia que tem medo de pôr o
                                                            [dedo na ferida
Todas as palavras inclusive morte amor ciúme
Todas as construções inclusive as sextinas os acrósticos
                                                            [e os decassílabos
Abaixo a tirania do verso-livre
Abaixo as revoluções segundo a receita
Estou de saco cheio da poesia asséptica
exegética
disléxica
anoréxica
Da poesia politicamente correta e poeticamente abjeta
De resto pode até ser poesia
(pra isso servem os carimbos e atestados da academia)
Mas lirismo não rima com chatice
e pra ser lúdico não precisa ser estúpído

- Não quero saber da poesia sem ritmo e sem sangue


Marco Catalão
In: Palimpsestos
P: 47


*Caricatura compilado do site Caricatura Brasil.

domingo, 9 de outubro de 2016

MILAGRES DE NOSSA SENHORA APARECIDA.











O ENCONTRO MILAGROSO

Depois de muitos lances sem sucesso,
João Alves, ao recolher a sua rede,
Pois de peixe ele tinha fome e sede,
Percebeu que teria algum progresso:

Surpreso com a imagem de barro,
Que ele havia pescado sem cabeça...
E ao jogar sua rede, essa outra peça,
João Alves tornou a recolher! Sem sarro,

Àquela hora sagrada, comovida,
Viram que era a Senhora Aparecida,
Porque trazia a lua sob seus pés...

A partir daí a pescaria abunda!
E de peixes, a barca quase afunda!
E todos ali se tornaram fiéis.


Miguel de Souza


O SACRÍLEGO PUNIDO

Conforme foi crescendo a devoção
à Virgem Santa: Nossa Senhora;
já existia nos tempos de outrora,
o ódio habitando sem compaixão,

a mente dos imigos da religião:
certo homem que, montado a cavalo,
veio fazer um terrível abalo...
e, com sua sacrílega intenção:

Romper as dependências da igreja, e
numa cruel, maldosa peleja,
sacolejar a imagem rumo ao chão.

Mas, a Santa sem nada que a medra,
deixou o cavalo preso nas pedras...
e o sacrilégio desse homem foi em vão!

Miguel de Souza


A CURA DA MENINA CEGA

Entre tantos inúmeros prodígios,
realizados pela Virgem Santa,
p'la fé em Nossa Senhora ser tanta!
Ficaram nos anais os vestígios

que Lhe valeram certos prestígios,
pela cura de uma menina cega!
Que até hoje em dia ninguém nega,
pro ódio dos que praticam litígios.

... Pedia à mãe para ir à Aparecida
em peregrinação. Mas sem recursos,
foram pedindo esmolas no percurso...

E a menina antes envolta em atro,
exclama: - Olha lá a igreja de Aparecida!
Fato ocorrido em 1874.

Miguel de Souza


SALVO DE SER ESMAGADO POR UM BONDE

José, filho do Sr, João Sebe,
com apenas três anos de idade,
andava pela rua da cidade,
quando, ao passar fagueiro, em frente à sede

da Santa, em aflições que não se mede, foi
colhido por um bonde inconsequente,
causando, no menino, grave acidente,
horrorizando por lá toda a plebe.

Nesse momento foi invocada a Santa...
E a fé em Nossa Senhora foi tanta,
que o menino foi retirado salvo!

Com grande admiração daquele povo,
o menino, naquele dia, de novo,
tinha nascido, e dessa fé ele foi o alvo.

Miguel de Souza  



sábado, 1 de outubro de 2016

HAICAI

É a vez de outubro:
inteiro céu de brigadeiro,
e o sol sempre rubro.

                     Miguel de Souza

domingo, 25 de setembro de 2016

INTERAÇÃO

POETA BOM JÁ NASCE MORTO

Dizem: -poeta bom já nasce morto!
Frase com um tom de melancolia,
Dessas que não se põe na ordem do dia,
Pois saiu da boca de um anjo torto.

Uns querem se apossar da Academia
Assumam as cadeiras, boa sorte!
Estarão velhos à beira da morte,
Uma pena, é o fim de suas vias!

Vou falar e não é da minha conta
Quintana não teve sequer cadeira
Uma constatação triste, uma afronta!

Sinto então um imenso desconforto
Dá a entender que a frase é verdadeira,
Será, poeta bom já nasce morto?

Hélio J. Silva

Uma interação na página do Poeta Hélio da Silva, no Recanto das Letras sobre o soneto: "POETA BOM JÁ NASCE MORTO", por me lembrar do aforismo: "O poeta nasce adulto", de Adélia Prado que me pus a compor este soneto.


*Aqui uma belíssima interação do Nobre Amigo Miguel de Souza.


O POETA NASCE ADULTO

Dizem também meu caro, nobre bardo,
que lá no fundo, o poeta nasce adulto!
Se coube nessa frase algum insulto,
só se perguntarmos à Adélia Prado.

Não tenho o pensamento muito tardo,
faço até parte desses que são cultos,
e contra toda essa ignorância luto,
e, por isto, não crio nenhum sardo.

Pois, sei que quando a Poeta nos fala,
sua loa, poeticamente resvala,
nesses quatro pilares do universo.

Que o poeta nasce adulto, hoje concordo,
e do belo aforismo, não discordo,
por ser, talvez, ensaio de algum verso.

Miguel de Souza

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

ENTRE POETAS

OSWALD MORTO

Enterraram ontem em São Paulo
um anjo antropófago
de asas de folha de bananeira
(mais um nome que se mistura à nossa vegetação tropical)

As escolas e as usinas paulistas
não se detiveram
para olhar o corpo do poeta que anunciara a civilização do ócio
Quanto mais pressa mais vagar

O lenço em que pela última vez
assoou o nariz
era uma bandeira nacional

NOTA:
Fez sol o dia inteiro em Ipanema
Oswald de Andrade ajudou o crepúsculo
hoje domingo 24 de outubro de 1954

Ferreira Gullar


Notícia
                                                                   
A terra antropófaga devorou ontem
Em São Paulo
O maior dos Modernistas
O mais pachorrento dentre todos

Pobre e sem fama
Continuará vivo nos seus livros
Na sua forma esparramada
De viver a vida

Agora vale a memória
Vale a história pastichenta
Na maneira léria de viver

Minhas condolências ao Brasil
60 anos depois
Terça-feira 15 de abril de 2014

Miguel de Souza



*Caricatura por cartunista Liberati. (Compilado de seu blog)






domingo, 18 de setembro de 2016

POEMA









desfile

teus braços:
-dois pêndulos-
no ir e vir na
contramão
do espaço,
ladeando
o corpo
trigueiro,
esbelto e
bem brasileiro...

tuas mãos soltas:
-folhas ao vento-
no rodopiar
do momento,
parece flutuar
no etéreo
escondendo
possível
mistério!

tuas pernas:
-duas setas-
expostas
a desfilar
nessa passarela:
a rua,
quando por ela
anda
uma mulher
sob a luz
falsa da lua.

Miguel de Souza


sexta-feira, 9 de setembro de 2016

SAIU A NOVA "FOLHA DO POETA"





A Folha do Poeta é um Suplemento Literário coordenado pelo compositor e poeta Everaldo Nascimento. Com 18 anos de existência, a Folha vem cumprindo o seu papel de dar vez e voz aos neófitos desta cidade,
Cabe aqui o meu agradecimento ao Everaldo por me inserir nesses 18 anos de sucesso. Nesta edição, o leitor da Folha lerá para minha satisfação pessoal, dois (2) poemas do Miguel de Souza: "Lição" e "Sempre Outono". Boa leitura a todos que terão em mãos esta brilhante Folha.


sábado, 3 de setembro de 2016

HAICAI

E chega setembro...
Essa era é da primavera,
Se bem eu me lembro!

                   Miguel de Souza

sábado, 27 de agosto de 2016

SOB O VÉU DA AMIZADE

BOM DIA!

O meu bom dia foi algo sem resposta;
Não obteve mesmo nenhum sucesso;
Então me calei! E percebi o reverso,
No decorrer do tempo... sem aposta!

O teu bom dia foi uma proposta,
Que surpreendeu até o universo!
Por isso que me pego com ‘stes versos,
E com a mesa da amizade posta!

Antiquado, fechei-me nesse cenho,
Após a tua estapafúrdia mudez...
Mas todo dia, nós nos percebemos.

Agora, nestes versos brandos, venho
Relatar com prazer, e, sem talvez,
Que uma bela amizade nós fizemos.


Miguel de Souza

sábado, 20 de agosto de 2016

ENTRE POETAS

TRISTEZA NO CÉU

No céu também há uma hora melancólica.
Hora difícil, em que a dúvida penetra as almas.
Por que fiz o mundo? Deus se pergunta
e se responde: Não sei.

Os anjos olham-no com reprovação,
e plumas caem. Todas as hipóteses: a graça, a eternidade, o amor
caem, são plumas.

Outra pluma, o céu se desfaz.
Tão manso, nenhum fragor denuncia
o momento entre tudo e nada.
ou seja, a tristeza de Deus.

Carlos Drummond de Andrade


SOBRE UM POEMA DO DRUMMOND

Se no céu há também hora triste?
Não sei caro poeta.
Mas sei que Deus jamais tem
dúvida do que fez. E nunca
se indagou sobre tal fato.

Mas, se por ventura, Ele se perguntasse,
teria por certo a resposta
inquestionável!

Que o céu existe esta claro.
Mas será que Deus mora
realmente lá?

Com todos os Anjos e Santos?
Todos, enfim, da Vossa Sagrada Família?
Será?

Miguel de Souza

sábado, 13 de agosto de 2016

HOMENAGEM

SER PAI

Ser pai é ser suporte
de sua família.
- Acima de tudo um forte!-
É ser anônimo
em certos momentos...
A ti alguns sinônimos
que só a ti convém:
chefe da família,
homem da casa,
dono do lar...
Cabe a todo pai
ser responsável,
ter boa conduta,
arcar com as despesas,
pôr o pão à mesa.
Cabe a ti a imensa
responsabilidade
do pão de cada dia!
Por isso o meu respeito,
minha homenagem
nesta poesia.
Onde estão os poetas
que não cantam teu feito?
Te curvas ante o ofício
doloroso da Mãe!
E o teu sacrifício,
embora árduo, é pequeno!
Nas tuas obras vãs.

Miguel de Souza

sábado, 6 de agosto de 2016

HOMENAGENS

SOB ENCOMENDA

Minha querida amiga Giovana me encomendou um poema para seu filho Reroldd, pela passagem do seu aniversário no último 02 de agosto. Como bom fingidor que sou, coloquei-me no seu lugar de mãe, bolei um mote e glosei.

MOTE:

Parabéns a você, meu filho amado,
Por esta data de hoje, tão querida!   

GLOSA:

Há quatorze anos, numa data linda,
Eu recebi um presente divino...
Que veio ao mundo em forma de menino, e
Sua presença entre nós foi ainda
É, e sempre será super bem-vinda!
E nesta data de hoje comovida,
Em que ganhei o maior presente desta vida,
Venho trazer-lhe este pequeno agrado.
Parabéns a você, meu filho amado,
Por esta data de hoje tão querida!

Miguel de Souza



Faz aniversário no dia 07 de agosto a Hellen, minha sobrinha. Que no dia de nascimento foi homenageada com este poema:

SONETILHO

Carinha de anjo
E olhar futuro!
Também me esbanjo no
Clamejo duro

Do teu voejo...
Enquanto passo
Tângido, inerme
No meu compasso,

Feito esse verme!
Tu vens chegando
Linda! Sorrindo

Pela vida adentro...
Enquanto vou indo,
E, no infindo, entro!

                                                  Miguel de Souza 




 E, finalmente, no dia 08 de agosto, este que vos escreve aniversaria.

AGOSTO
                                                                                                              
Agosto mais u’a vez no calendário,
Apresenta-se exótico, mui afoito!
E, no seu respectivo dia oito,
Comemora-se o meu aniversário.

Que sem rumor, ou som de estradivário,
-Coisas que desse gênero não acoito!-
Prefiro a paz dos dias onde enoito
De tristeza ou qualquer sentir vário.

Passa esse dia, enfim, sem barulho...
Mas no fundo do peito, u’a nesga de orgulho
Com tamanho prazer e muito gosto.

Não há presentes, nem há bolo ou festa!
Mas, a mor alegria que se manifesta,
É a de ser filho teu: - tenaz agosto! -

Miguel de Souza


sábado, 30 de julho de 2016

SARAU

SONETOS LIDOS POR MIM NO SARAU EM HOMENAGEM AO DIA DO ESCRITOR.

SER POETA

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
e não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, e ter sede de infinito!
por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
e dizê-lo cantando a toda a gente!

Florbela Espanca


VI

Na minha rua há um menininho doente.
Enquanto os outros partem para a escola,
Junto à janela, sonhadoramente,
Ele ouve o sapateiro bater sola.

Ouve também o carpinteiro, em frente,
Que uma canção napolitana engrola.
E pouco a pouco, gradativamente,
O sofrimento que ele tem se evola...

Mas nesta rua há um operário triste:
Não canta nada na manhã sonora
E o menino nem sonha que ele existe.

Ele trabalha silenciosamente...
E está compondo este soneto agora,
Pra alminha boa do menino doente...

Mário Quintana

sábado, 23 de julho de 2016

SOBRE POEMAS

Já disse em momentos outros que poema não é um texto qualquer com palavras dispostas de uma forma estranha no papel. É, antes de tudo, o relato de algo muito forte que o poeta sente no devido momento de sua criação.  E Ana Zélia nos dá uma lição Maravilhosa de como surge um poema. Leiam o que ela diz sobre o seu magnífico texto, A Mensagem da Vela:
“-Um dia negro em minha vida. Perdia a última esperança e achava que a morte seria a solução. Acendi uma vela e pedi a Deus forças, rezava em silêncio. A vela queimou, apagava, estava no fim.
De repente ela reacende linda como a lutar pela vida. A lição estava dada. Deus é maior. Mudei modos de vida e venci."

A MENSAGEM DA VELA

É o fim...
Ela tenta, tenta reacender.
Um fiasco de luz azulada que se confunde com o
vermelho do fogo que morre.
Tenta, tenta reacender e fenece...

A vela está no fim.
Uma luz efêmera que se extingue.
Fico horas a vê-la, contemplando a luta entre
a chama acesa e a que se finda.
Há um pouco de cera, parafina e ela tenta,
tenta fazer vibrar o fogo que se esvai.
Morre!
Morre!...

Não! Uma chama renasce, viva, linda,
como a dizer com alegria:
- Não morra! Você precisa viver,
renasça como eu
das cinzas...

Ana Zélia
In: Revista Brasília 
abril/maio 2005.
  

   

sexta-feira, 15 de julho de 2016

POESIAS POLÍTICAS

UM SONETO DE PATATIVA DO ASSARÉ

O Peixe
Patativa do Assaré


Tendo por berço o lago cristalino,
Folga o peixe, a nadar todo inocente,
Medo ou receio do porvir não sente,
Pois vive incauto do fatal destino.

Se na ponta de um fio longo e fino
A isca avista, ferra-a inconsciente,
Ficando o pobre peixe de repente,
Preso ao anzol do pescador ladino.

O camponês, também, do nosso Estado,
Ante a campanha eleitoral, coitado!
Daquele peixe tem a mesma sorte.

Antes do pleito, festa, riso e gosto,
Depois do pleito, imposto e mais imposto.
Pobre matuto do sertão do Norte!


domingo, 10 de julho de 2016

SOBRE POEMAS

Certa feita eu fui convidado para ler poemas num determinado lugar. Como era um ambiente em que não ia com freqüência, e teria por lá um público, pelo menos em sua maioria, novo. Resolvi levar alguns poemas de cunho social. Após a leitura de alguns poemas já conhecidos como aqueles que figuram n’A Quinta Estação, fiz a leitura, enfim, dos sonetos escolhidos por mim para aquela noite. Dentre eles: “Mariposas”, um soneto sobre as prostitutas, e “Feito um filho da puta”, uma crítica sobre o engodo que os operários sofrem na pele, enfim...
O fato é que depois, ouvi críticas de algumas pessoas que me acompanham e estão sempre na plateia: - você não deveria falar palavrão, eu não esperava isso de você. Desde então fiquei inquieto com aquilo tudo. É preciso entender o poeta.
O palavrão só é palavrão quando é dito aleatório, sem direção, quando não tem um endereço. Quando é direcionado, ele deixa de ser palavrão e passa a ter o conteúdo daquela mensagem. Portanto, minha cara, os dois “palavrões” empregados no soneto, apesar de soarem como tal!...
Peço desculpas se decepcionei alguém. Mas sempre vou estar do lado dos menos favorecidos, dos descamisados, dos desdentados, dos descalçados, das prostitutas, dos mendigos, dos mal amados, dos maltrapilhos, dos operários que suam a camisa de sol a sol, dos garis que varrem as ruas, dos jardineiros que embelezam as praças e de todos aqueles que não têm voz e nem vez.

Apanágio

Não sou o poeta certinho, que talvez,
Muita gente pensasse que eu fosse,
Com meus poemas incrivelmente doces,
Pra adoçar os ouvidos de uns três

Gatos pingados que, de quando em vez,
Dão o ar de sua graça, a trouxe-mouxe!
Não sou o poeta que a vida comum trouxe
Para embelezar os sonhos de quatro ou seis...

Eu sou o poeta desses maltratados,
Dos maltrapilhos e dos mal amados,
Que não têm vez, e não há de ter voz!

Eu sou o poeta de todos os mendigos,
Das prostitutas e dos sem abrigo,
Eu sou o poeta sim, de todos vós!

 Miguel de Souza


sábado, 2 de julho de 2016

GRATIDÃO.


Em 1995, eu era um homem com uma indagação. O que fazer com um número considerável de poemas engavetados? Pois havia chegado o momento de expô-los. Mas de que forma? Foi quando, por acaso, descobri numa estação de rádio, uma voz feminina no comando de um programa sobre literatura chamado “Momento Poético”. Fiquei na escuta, embevecido com aquilo tudo. Lá pelas tantas, a voz feminina se coloca a disposição para divulgar poemas dos ouvintes.
Não acreditei! Era a minha chance, enfim, de expor os meus escritos. Passei uma semana me preparando. O programa era aos sábados. Naquela época, um idiota havia ido à TV expor a imagem de Nossa Senhora Aparecida ao ridículo. Como católico/espírita que sou não poderia deixar passar aquilo em branco, e fiz um poema chamado “Acinte a Nossa Senhora”, juntamente com mais dois poemas rabiscados no papel e levei-os até a rádio.
Com um walkman nos ouvidos, fiquei ouvindo o programa na porta da rádio, esperando o seu término, para enfim, conhecer a dona daquela voz feminina e tão maviosa. Quando terminou o programa, dou de cara com uma senhora loira, de olhos esverdeados, e muito educada. Sentamo-nos ali mesmo, no batente da porta da rádio, ela passou a vista nos meus textos e disse que na semana seguinte leria os poemas.
Aí se deu um fato estranho aos meus ouvidos, porque ela me chamou de poeta! Na semana seguinte fui questionar o porquê daquilo tudo. Segundo eu, era para ela me apresentar como um ouvinte que escreve poemas, e não um poeta! Ela me disse: - E quem escreve poemas o que é? Açougueiro, por acaso! Tive que aceitar essa insígnia que até hoje acho uma responsabilidade muito grande.
Bem, daí em diante foram tantos poemas meus lidos que perdi até a conta. Digo que a Ana Zélia me ensinou o caminho das pedras, me encaminhou ao poeta-compositor Everaldo Nascimento com seus projetos literários. Foi quem me descobriu, por isto sou tão grato a ela.
                                                        

 Leiam o que Ana Zélia falou sobre mim em sua página na Usina de Letras.


No programa “Momento Poético” tinha um espaço: DIVULGANDO OS POETAS DA TERRA.
Muitos foram os que procuraram, entre eles, um fiel, Miguel de Souza. Tímido, chegava na rádio antes das 17h. Hora em que eu chegava para apresentar o programa às 18h. Um dia abri o microfone ao Miguel para que ele falasse alguma coisa, ele simplesmente emudeceu. Fora do ar disse ao Miguel que falar era fácil. Uma técnica apenas. A sós você amarra um fio no alto e vai puxando este fio e a cada puxada você fala bem alto uma palavra qualquer. Conta de 3 a 1 e vai, o medo passa, as coisas são superficiais, tudo tem técnica. Acredito que o poeta deva defender seu trabalho. Hoje vejo Miguel declamando firme, sem papel. O nosso tempo passou, ele é jovem, tem espaço pra assumir. Manaus, 23.01.2010 (Ana Zélia)   

sábado, 25 de junho de 2016

CURIOSIDADE LITERÁRIA

Estávamos assistindo a uma palestra da Quarta Literária, quando havia Quarta Literária na Livraria Valer. Eu e Pollyanna Furtado. Naquela ocasião quem palestrava era Jorge Bandeira. Quando foi pedido para a plateia formular perguntas ao palestrante...
A Quarta Literária era um evento que acontecia sempre às quartas-feiras na Valer, onde se reunia a nata da literatura Amazonense. Tinha por finalidade aproximar os escritores dos leitores, e formar com isto uma nova geração de escritores, como de fato aconteceu, surgiu daí o CLAM: Clube Literário do Amazonas com 10 anos de jornada ininterrupta.
... Pollyanna Furtado, uma jovem poeta, atriz e professora universitária, de súbito ao meu lado começa a escrever incessantemente! Preocupei-me em não interrompê-la, achando eu que estaria a formular pergunta ao Jorge. Engano d’alma. Naquele momento à minha revelia, surgia um dos poemas mais belos desta talentosa poetisa: “Por um fio”. Este poema figura no seu livro “SIMETRIA DO CAOS”. Mas tarde, na praça, como se não bastasse ter assistido ao seu parto, tive a honra de ouvi-la declamando-o. Ao perguntar se era sempre daquela forma que surgia os poemas, respondeu-me que sim. -Depois eu ajeito melhor, dou uma olhada, troco uma ou duas palavras e pronto, disse ela.
Não poderia deixar passar em branco aquele momento tão peculiar. Na primeira oportunidade que tive, debrucei-me sobre o papel e escrevi um soneto shakespeariano todo em redondilha maior, com o sugestivo título de “PARTO”, brindando aquele momento tão sublime.

                                                                                                     

 POR UM FIO

Estou no mundo,
nas ruas, em todos os espaços
de braços abertos ou cruzados.
Trago inquietações
dentro de meu ser
meio tenso
de tantas adversidades.

Eu estou em casa, no quarto,
mirando o mundo por uma janela,
procurando os pontos finais...

Eu estou buscando soluções...

Eu estou na cama,
no meu mundo,
entre meus sonhos,
trançando cordas
para atravessar o abismo.

Eu estou na vida, e na morte.
Entre a vida e a morte,
em cima da ponte.



Eu estou por um fio,
olhando seres transtornados
que me fitam de baixo.
São formigas tumultuadas.

Eu estou inconformada,
buscando as peças
do grande quebra-cabeça.

Eu sou um fragmento.
Eu sou um fiasco.
Eu sou voz.
Também um pouco
de silêncio.

Pollyanna Furtado
P. 27/28
In: simetria do caos


parto

aflora-se à flor da pele,
uma inquietante dor!
que revestida de cor,
àquele momento a impele.
e ali, ao meu lado, a poeta,
transpõe no papel esquálido,
versos que surgiam pálidos,
e obtiveram a correta
cor, no manuseio douto,
que só ela, no fundo, sabe
fazer o que a ela cabe,
nesses versos livres, soltos.
salta do âmago qual parto,
seus versos belos e fartos!

                Miguel de Souza