quarta-feira, 23 de outubro de 2013

HOMENAGEM

                                                             CIDADE DE MANAUS

MANAUS

Dizem que tu não tens primavera
e, tampouco, que tens outono!
Mas o Supremo Deus, lá do Seu trono
não se esqueceu de ti...Oh! Cidade vera!

Se alguma outra cidade... -Quem me dera!-
Fosse igual a ti: -tela de cromo-
Pelo verde, vermelho, azul... Que somos
ou, pelo menos, se mais cor tivera!

E, ao invés de quatro, fossem duas
as estações efêmeras do ano
e as outras duas fossem perenes...

eu me extasiaria com as tuas
flores, com os olores do cotidiano
com o trocar das folhas tão solenes!

Miguel de Souza


P.S:. 24 de outubro, aniversário da cidade de Manaus.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

UMA RESPOSTA

     Quando saiu a antologia do CLAM em 2008, éramos todos inexperientes em livros é bem verdade. Mas, quando pus os olhos nos meus dez poemas ali editados fiquei contrariado com o que vi, pois haviam mexido na estrutura dos sonetos Shakespearianos, todos em redondilha maior escolhidos a dedo para aquela edição. O soneto "PRESENÇA EGRÉGIA" foi transformado num rondel, não nessa estrutura que anda por aí, não. Mas, naquela que Luiz Bacellar nos ensinou muito bem, no seu "SOL DE FEIRA." Na primeira oportunidade que tive, respondi em forma de poema, mostrando toda a minha indignação pelo ocorrido!

UMA PILHA!

Não desarrumem meus poemas,
oh, senhores doutos no assunto!
O soneto inglês é junto,
como juntas são as algemas.
Não quis compor um rondel;
o rondel conta outra métrica,
com a mesma ordem numérica
dos versos dispostos no papel.
Mas, em diferentes estrofes:
uma oitava e uma sextilha.
Ah! Isto me deixou a pilha,
a fim de expor todos bofes
     dos que mexeram no texto,
     não sei com que pretexto.    

                            Miguel de Souza

sábado, 12 de outubro de 2013

DIA DE NOSSA SENHORA APARECIDA

                                                     NOSSA SENHORA APARECIDA

A BENÇÃO

A benção minha Mãe,
minha Mãe tão querida!
Não tão somente por hoje,
mas por todos os dias
da minha vida.

A benção minha Mãe,
minha Mãe compadecida!
A benção Virgem Santa,
Nossa Senhora da
Conceição Aparecida.

A benção minha Mãe,
não tão somente agora,
mas por todos os momentos
da minha existência!
A benção Nossa Senhora.

A benção minha Mãe,
Rainha das rainhas,
Rosa de todas as rosas!
A benção Virgem Imaculada,
escutai a prece minha.

A benção minha Mãe,
nesta luta tão renhida!
A benção Virgem das virgens,
Nossa Senhora, sem
pecado, concebida.

             Miguel de Souza

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

PARCERIA INUSITADA

     No livro RELIQUIAE de 1931, Florbela Espanca publica um soneto no mínimo curioso, pois não há a primeira quadra do soneto intitulado "Eu não sou de ninguém..." Querendo desta forma, informar ao leitor de algo a mais que não estava explícito no texto. Vejamos o Soneto:

EU NÃO SOU DE NINGUÉM

................................................................
................................................................
................................................................
................................................................

Eu não sou de ninguém!... Quem me quiser
Há de ser luz do sol em tardes quentes;
Nos olhos de água clara há de trazer
As fúlgidas pupilas dos videntes!

Há de ser seiva no botão repleto,
Voz no murmúrio do pequeno inseto,
Vento que enfuna as velas sobre os mastros!...

Há de ser outro e outro num momento!
Força viva, brutal, em movimento,
Astro arrastando catadupas de astros!

                               Florbela Espanca


     Eu, na minha curiosidade de bisbilhotar as coisas, resolvi preencher a primeira estrofe do soneto, procurando entender bem, o que a poetisa quis dizer com aquela ausência! Claro que é loucura, pois lendo e relendo as três estrofes restantes, cheguei a esta conclusão:

"Eu não sou de ninguém!... Nem quero ser...
A não ser que, ao invés de ser demente,
Seja, ao menos igual a essa gente,
Que me odeia, mas lá no fundo  me quer!"

                               Miguel de Souza


Então, eis aí senhoras e senhores, o quebra-cabeça montado:


EU NÃO SOU DE NINGUÉM

Eu não sou de ninguém!... Nem quero ser...
A não ser que, ao invés de ser demente,
Seja, ao menos igual a essa gente,
Que me odeia, mas lá no fundo me quer!

Eu não sou de ninguém!... Quem me quiser
Há de ser luz do sol em tardes quentes;
Nos olhos de água clara há de trazer
As fúlgidas pupilas dos videntes!

Há de ser seiva no botão repleto,
Voz no murmúrio do pequeno inseto,
Vento que enfuna as velas sobre os mastros!...

Há de ser outro e outro num momento!
Força viva, brutal, em movimento,
Astro arrastando catadupas de astros!

             Florbela Espanca / Miguel de Souza
                               

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

DE POETA PARA POETA

                                                           OSWALD DE ANDRADE

     Em 11 de janeiro de 1890 nasceu, em São Paulo, Oswald de Andrade, uma das figuras mais polêmicas de nossa literatura, que se confundia aos personagens de seus próprios romances.
     De temperamento anarquista, opunha-se às normas literárias, políticas e sociais, instigando, entre seus contemporâneos, o combate ao passadismo, a renovação constante e a descoberta de novos talentos artísticos.
     Teve uma vida sentimental intensa, ligando-se a várias mulheres, com algumas das quais teve filhos ou casou-se; entre elas, estão a pintora Tarsila do Amaral (com a qual fundou o movimento antropofágico) e Patrícia Galvão, a "Pagu" (com a qual fundou o jornal "O Homem do Povo").
     Procedente de rica família paulistana, empreendeu muitas viagens para a Europa, que tiveram grande influência em sua obra, pois representam uma redescoberta do Brasil e uma conscientização do escritor com relação às suas próprias raízes. Para realizá-las, Oswald era capaz de despender toda a sua fortuna.
     Oswald viveu num período de transição descrito por ele mesmo em seu livro de memórias: "Nossos pais vinham do patriarcado rural, nós inaugurávamos a era da indústria".
     Em 1954, morre Oswad de Andrade após prolongada doença, aos cuidados de sua terceira esposa, Maria Antonieta d'Alkmin, a mais duradoura de suas relações.
     Quanto às suas atividades literárias, foi ficcionista, poeta, jornalista e escreveu peças teatrais.
     Como ficcionista, Oswald estreou com o livro Os Condenados, publicado em 1922. Mais tarde, intitulado Alma, ele integraria os romances A Estrela do Absinto e a Escada de Jacó, formando uma trilogia que foi então batizada de Os Condenados.
     Esse primeiro romance trata da vida de Alma, uma prostituta dividida entre a exploração de Mauro Glade (um "cáften") e o amor romântico de João do Carmo, que acaba por suicidar-se. A importância desta obra está na sua originalidade técnica, que prenuncia os procedimentos dos textos mais importantes de Oswald de Andrade.
     Em seus romances seguintes, Memórias Sentimentais de João Miramar (1924) e Serafim Ponte Grande (1933), o ficcionista desvincula-se dos padrões tradicionais da narrativa, fundindo a prosa e a poesia e criando um estilo original.
     Memórias Sentimentais relata as viagens e aventuras de um burguês paulista, numa sátira social em que se misturam  o estilo paródico e o humorístico.
     Em Serafim Ponte Grande há um aprofundamento da sátira social, visando à classificação dos valores burgueses. É considerada uma obra de vanguarda por subverter a ordem habitual do romance, distanciando-se de qualquer esquema tradicional de composição. Narra a vida de Serafim ponte Grande: sua formação, viagens à Europa e ao Oriente, retorno ao Brasil e termina com uma permanente viagem utópica do personagem.
     Como poeta, Oswald estreou com o livro Pau Brasil, em 1925, buscando uma poesia renovadora, a qual chamaria de "poesia de exportação". Trata-se de uma poesia desligada dos modelos tradicionais, pois é construída a partir de uma linguagem coloquial, plena de humor e ironia. Assim, Oswald propõe escrever, sob forma poética, a história do Brasil, fazendo paródias de textos do passado ao mesmo tempo em que o questiona.
     Com relação à sua produção teatral, a peça O Rei da Vela é a mais importante. Publicada em 1937, representa o primeiro texto moderno do teatro brasileiro, Pois só veio a ser apresentada trinta anos depois, em São Paulo.
     A peça é dividida em três atos e trata da aliança da burguesia ascendente com a aristocracia decadente, simbolizada por Abelardo e Heloísa. No título, há a referência à vela, produto da fábrica de Abelardo, que simboliza a estagnação brasileira.
     
     Acompanhe agora a homenagem que Ferreira Gullar prestou a Oswald de Andrade no dia de seu passamento:

OSWALD MORTO

Enterraram ontem em São Paulo
um anjo antropófago
de asas de folha de bananeira
(mais um nome que se mistura à nossa vegetação tropical)

As escolas e as usinas paulistas
não se detiveram
para olhar o corpo do poeta que anunciara a civilização do ócio
Quanto mais pressa mais vagar

O lenço em que pela última vez
assoou o nariz
era uma bandeira nacional

NOTA:
Fez sol o dia inteiro em Ipanema
Oswald de Andrade ajudou o crepúsculo
hoje domingo 24 de outubro de 1954

                      Ferreira Gullar
     

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

DIA DE SÃO FRANCISCO

                                                             SÃO FRANCISCO

                                                             Era Ele, quem falava com o vento,
                                                             e andava simples, com os pés no chão;
                                                             tinha no peito grande coração,
                                                             e da paz do Senhor, era instrumento!

                                                             Era Ele, quem trazia novo advento,
                                                             e quem chamava o fogo de irmão!
                                                             e, com remendos em seu surrão,
                                                             trazia a todo mundo novo alento!

                                                             Era Ele, quem levava tanto amor,
                                                             onde antes, todo ódio, prosperava;
                                                             e onde houvesse trevas, levava luz...

                                                             Era Ele, o Santo fiel condutor,
                                                             quem toda a gente, também amava,
                                                             Bem, como toda a gente, amou Jesus! 

                                                                                       Miguel de Souza



quinta-feira, 3 de outubro de 2013

MÚSICA, HAICAI, SONETO

     INTERTEXTUALIDADE

     A intertextualidade é uma espécie de acordo entre textos, quando ambos comungam da mesma ideia. Há pelo menos sete tipos de intertextualidades que se tem notícia: a EPÍGRAFE: (pequeno trecho de outra obra que o autor transcreve de modo introdutório e que guarda certa relação com o texto em voga.) A CITAÇÃO: (fragmento transcrito de outro autor inserido no texto, deve vir sempre entre aspas.) A PARÁFRASE: (deve ter a ideia original do texto, com outras palavras.) A PARÓDIA: (funciona em dizer o oposto do texto parodiado com objetivos críticos ou irônicos.) O PASTICHE: (imitação rude de outros criadores com a intenção pejorativa, numa recriação do texto original.) A REFERÊNCIA: (ato de mencionar determinadas obras, de maneira direta ou indireta.) Entre outros.
     Fiz essa pequena explanação acima para trazer aqui um exemplo de intertextualidade, e de como esses textos comungam da mesma ideia:



                                                            JOÃO-DE-BARRO

MÚSICA

JOÃO-DE-BARRO

O João-de-Barro pra ser feliz como eu
Certo dia resolveu, arranjar uma companheira
No vai-e-vem, com o barro da biquinha
Ele fez sua casinha, lá no galho da palmeira
Toda manhã, o pedreiro da floresta
Cantava fazendo festa, pra aquela que tanto amava
Mas quando ele ia buscar o raminho
Pra construir seu ninho, seu amor lhe enganava
Mas como sempre o mal feito é descoberto
João de Barro viu de perto, sua esperança perdida
Cego de dor, trancou a porta da morada
Deixando lá a sua amada, presa pro resto da vida
Que semelhança entre o nosso fadário
Só que eu fiz o contrário do que o João de Barro fez
Nosso Senhor, me deu força nessa hora
A ingrata eu pus pra fora, por onde anda eu não sei

Letra: Teddy Vieira
Música; Muhib Cury


                                                                  HAICAI

                                                                  Ninguém tira sarro,
                                                                  da casa da cor de brasa,
                                                                  do João-de-Barro.

                                                                                     Miguel de Souza



                                                                         
                                                                             SONETO

                                                                             TRAIÇÃO

                                                                             Tal qual autêntico e fiel carpinteiro,
                                                                             que constrói sua casa sem sarro,
                                                                              nosso trabalhador, João-de-Barro,
                                                                              também, como boníssimo companheiro,

                                                                              tendo no coração amor verdadeiro,
                                                                              projeta sua casa toda em barro!
                                                                              Embora possa parecer bizarro,
                                                                              o desfecho do caso por inteiro.

                                                                              É que a casa será também borrasca,
                                                                              se ela a trair, ele vem, e a enrasca,
                                                                              tapando pela frente a única fresta...

                                                                              Deixando essa ave presa com filhotes!
                                                                              Ela, asfixiada morrerá, sem dotes
                                                                              para salvar-se... é o que, por isto, lhe resta!

                                                                                                                 Miguel de Souza