domingo, 29 de novembro de 2015

MAXIMÍNIMAS

SONETOS SOBRE AFORISMOS 

                                 Corrupção é a alma do negócio.                                                                                            Dori Carvalho                                                  
XX.

Na calada da noite, quando em ócio,
Mentes sórdidas agem no atro vil,
Larápios passam a mão no Brasil,
E, tramando no escuro, com seus sócios,

Vão lucrando com ótimos negócios,        
Deixando a populaça em frente ao rio,
Plantado nesse cais a ver navios!
Esta é a sina de todo capadócio!

E, por falar em corrupção, a propósito;
O Brasil, na verdade, é um depósito
De bandidos, ladrões, estrupadores...

Tudo porque no início da história,
Se não me falha a frágil memória,
Exilaram pra cá esses malfeitores!

                              Miguel de Souza


terça-feira, 24 de novembro de 2015

MOTE E GLOSA

Glosa é um tipo de poema utilizado normalmente pelos poetas do nordeste do Brasil, principalmente os cantadores. São estrofes de dez sílabas métricas conhecidas como décima que respondem a um mote. A décima é composta em redondilha maior ou versos de dez sílabas métricas.

 Mote é geralmente um dístico que funciona como se fosse uma epígrafe, e é a razão do poema. O tema desenvolvido pelo glosador. 


               MOTE
Pior que o peso da idade,
É a terra em cima da gente.                           
                
               GLOSA
Quando jovem não se pensa,
Que um dia a gente morre!
Só se brinca, pula e corre,
Essa é nossa recompensa.
... Quando a vida fica densa,
E a juventude se sente,
Ficar da gente ausente,
No fim dessa mocidade...
Pior que o peso da idade,
É a terra em cima da gente.

Mote do poeta Zé Saldanha, glosado por Miguel de Souza.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

19 DE NOVEMBRO, DIA DA BANDEIRA

                                                               

                                                         Verde, amarela, azul, branca
                                                         Tremula no ar, a bandeira!
                                                         Com cores vivas, alegres, francas:
                                                          "Símbolo da nação brasileira."

                                                                     Miguel de Souza

sábado, 14 de novembro de 2015

CURIOSIDADE LITERÁRIA

Acho que os melhores poetas são os poetas repentistas. Aqueles que criam seus versos na hora, sem precisar de salamaleques ou firulas para compô-los. Não foi à toa que Manuel Bandeira se encantou por esses caras, e compôs o poema “Saudações aos cantadores” em homenagem a eles. Somente com o intuito de brincar, fiz o soneto “Pendenga com poeta popular”, que Dimas Batista, numa dessas coincidências extraordinárias, retrucou com uma décima. É claro que, ao fazer o soneto, não tinha o conhecimento da décima de Dimas, assim como Dimas, não conheceu o meu soneto. Mas ficou interessante, parece realmente que Dimas Batista, estava respondendo ao meu soneto com sua décima. Confiram!     

Pendenga com poeta popular

Joga teu verso no ar grande poeta,
Feito fumaça que se esvai qual vento!
Que eu grafarei pra sempre meu momento,
Mesmo se, para alguns, não for esteta.
Toca tua vida. E, de repente,
Teu repente flui como por encanto!
Que eu, sem pressa nenhuma, o meu canto
Vou construindo paulatinamente.
Faz teu verso perfeito, sem demora
E arranca da platéia teus aplausos,
Que eu darei um fim, pra sempre, nesse causo,
Pois, o meu verso fica, e o teu se evapora.
                O teu verso é como sombra esparsa,
                Que chega e parte sem nenhuma graça.

                                                   Miguel de Souza

Uma décima de improviso

Eu muito admiro o poeta da praça,
que passa dois anos fazendo um soneto,
depois de três meses acaba um quarteto,
com todo esse tempo inda fica sem graça.
Com tinta e papel o esboço ele traça,
contando nos dedos pra metrificar,
que noites de sono ele perde a estudar,
pra no fim mostrar tão minguado produto,
pois desses, eu faço dois, três, num minuto,
cantando galope na beira do mar.
* * *
                                           Dimas Batista

domingo, 8 de novembro de 2015

PARÓDIA


A paródia é uma recriação de textos, geralmente célebres, em tom burlesco, satírico, humorístico, contestador, crítico, irônico, jocoso.

O excelente soneto, “As quatro velas” de Dedé Monteiro, vem sendo homenageado pela criatividade de outros poetas. Eu também resolvi parodiá-lo com o meu “As quatro estrofes.

Texto-Base: As quatro velas

Quatro velas ardiam sobre a mesa,
E falavam da vida e tudo o mais.
A primeira, tristonha: “Eu sou a PAZ,
Mas o mundo não quer me ver acesa…”

A segunda, em soluços desiguais:
“Sou a FÉ! Mas é triste a minha empresa:
Nem de Deus se respeita a Realeza…
Sou supérflua, meu fogo se desfaz…”

A terceira sussurra, já sem cor:
“Estou triste também, eu sou o AMOR…
Mas perdi o fulgor como vocês…”

Foi a vez da ESPERANÇA – a quarta vela:
“Não desiste ninguém! A Vida é bela!
E acendeu novamente as outras três!

DEDÉ MONTEIRO


Paródias:

As quatro putas

Quatro putas falavam em um bar
Sobre a vida que era muito dura...
A primeira, cheinha de frescura,
Diz assim: “Eu vou me aposentar!

A segunda, morrendo de chorar,
Diz pra outra: “Ninguém mais me segura,
Tô com um metro e cinqüenta de altura
E a balança acabou de se quebrar.

A terceira, já com sessenta anos,
Disse às outras: “Restaram desenganos,
Ninguém mais quer três velhas prostitutas...

Veio a quarta, a que era cafetona,
E, lembrando dos tempos bons da zona,
Deu coragem de novo às outras putas.

Felipe Júnior


 Os quatro cornos

Quatro cornos sentados numa praça
Lamentavam por ter desilusões,
O primeiro lembrando as tradições:
- Eu me vingo das pontas na cachaça.

O segundo chorava de desgraça
E dizia: não perco as ilusões.
Se a mulher preferiu ter Ricardões
Isso é fase, mas sei que logo passa.

O terceiro chifrudo, o mais matreiro:
O que importa é a mulher trazer dinheiro
Pra o que falam de mim, nunca liguei.

Já o quarto cornão, foi taxativo:
- Quando a minha me trai sou vingativo,
Eu arranjo outro bofe e vou ser gay.

Ismael Gaião

 Os quatro bêbados

Quatro bêbados bebiam numa mesa,
E falavam da vida e tudo enfim,
O primeiro dizia: “Eu bebo assim,
Pra poder afogar minha tristeza”...

O segundo, engolindo uma de gim,
Diz: “a cana é quem faz minha defesa...
Se não fosse a bebida, essa beleza,
Minha vida seria muito ruim!

O terceiro, morrendo de ressaca,
Diz: eu sinto a matéria muito fraca,
Vou parar de beber essa semana!

Grita o outro: “não faça essa desgraça,
Mande abrir mais um litro de cachaça,
Que é pra gente morrer bebendo cana!”

Gonga Monteiro

 Os quatro poetas

O primeiro poeta com as velas
Deu um show de poesia, com certeza,
O segundo, num bar, ouve na mesa,
Depois narra, dos bêbados, as seqüelas.

Outro escuta, das putas, as mazelas,
Comentar sobre os ossos do ofício,
E, escutando dos cornos, o suplício,
Chega outro e relata tais procelas:

Como é dura a vida dos poetas,
No afã de cumprirem suas metas,
Desmanchando-se em versos, quem diria

Juntam: bêbados, cornos, velas, putas
Em estrofes bem simples, mas astutas
Transformaram isso tudo em poesia.

Carlos Aires


 As quatro estrofes
                                                                                                          
Quatro estrofes sondavam o poeta,
Pra fazerem parte desse soneto;
A primeira, como algo obsoleto,
Vislumbra-se de forma mui indiscreta!

A segunda, já com feições de esteta:
- Mente adentro do poeta me meto,
Mas vou fazer parte, isso eu prometo,
Pois, esta é que tem sido a minha meta!

A terceira atrai como se fosse ímã,
Para constar também naquela rima.
Mas foi mais uma para o descarte!

Foi a vez, enfim, da quarta estrofe,
Coxa, como quem tá botando os bofes,
Inselecionável a essa obra de arte!

Miguel de Souza


domingo, 1 de novembro de 2015

SOBRE LIVROS


 Um dos livros mais intrigantes da nossa literatura é "PARNASO DE ALÉM TÚMULO" (Poesias mediúnicas), primeiro livro psicografado por Francisco Cândido Xavier (Chico Xavier). Nele, encontramos poetas como Alberto de Oliveira, Alphonsus de Guimaraens, Antero de Quental, Antônio Nobre, Arthur Azevedo, Augusto dos Anjos, Auta de Souza, Casimiro de Abreu, Cruz e Sousa, Fagundes Varela, Guerra Junqueiro, Olavo Bilac, Raimundo Correia, entre outros.
       
       

 Francisco Cândido Xavier

Nasceu em Pedro Leopoldo, MG, em 2 de abril de 1910, onde residiu até dezembro de 1958. Transferiu-se para Uberaba, MG, em janeiro de 1959. Filho de João Cândido Xavier e de Maria João de Deus, desencarnados em 1960 e 1915, respectivamente. Aposentou-se como funcionário público federal. Médium de atividade ininterrupta há quase meio século, publicou através da Casa-Máter do Espiritismo - Federação Espírita Brasileira, em junho de 1932, o Parnaso de Além-Túmulo, primeiro livro de suas faculdades mediúnicas,seguiram-se-lhe mais de 110 livro mediúnicos, diversos deles publicados em Esperanto, Castelhano, Japonês, Inglês e Francês. Os romances psicografados (entre eles Paulo e Estêvão, há mais de dois mil anos... e Renúncia) são periodicamente radiofonizados e televisionados. Criatura simples, afável e operosa, jamais se beneficiou dos direitos autorais de sua vasta produção mediúnica. Respeitado e estimado em todo Brasil, onde é popularíssimo, goza ele ainda de sincera admiração em outros países. Viajou para o exterior algumas vezes, sempre no exercício de seu mediunato.

          DE PÉ, OS MORTOS!

          Pede-me você uma palavra para o intróito de "Parnaso do Além-Túmulo" que aparecerá brevemente em nova edição.
          A tarefa é difícil, Nas minhas atuais condições de vida tenho de destoar da opinião que já expendi nas contingências da carne.
          Os vivos do Além e os vivos da Terra não podem enxergar as coisas através de prismas idênticos. Imagine se o aparelho visual do homem fosse acometido segundo a potencialidade dos raios X: as cidades estariam povoadas de esqueletos, os campos se apresentariam como desertos, o mundo constituíram um conjunto de aspectos inverossímeis e inesperados.
         Cada esfera da vida está subordinada a certo determinismo, no domínio do conhecimento e da sensação.
          Decerto, os que receberem novamente o "Parnaso de Além-Túmulo" dirão mais ou menos o que eu disse (2). Hão de estranhar que os mortos prossigam com as mesmas tendências, tangendo os mesmos assuntos que aí constituíam a série de suas preocupações. Existem até os que reclamam contra a nossa liberdade. Desejariam que estivéssemos algemados nos tormentos do inferno, em recompensa dos nossos desequilíbrios no mundo, como se se nossos amargores, daí, nos bastassem para nos inclinar à verdade compassiva.
          Individualmente, é indubitável que possuímos no Além o reflexo das virtudes ou das nossas misérias.
          Mas é razoável que apareçamos no mundo, gritando como alucinados? Os habitantes do reino da morte ainda apreciam o decoro e a decência, e o nosso presente é sempre a experiência do passado e a esperança no futuro.
          "Parnaso de Além-Túmulo" sairá de novo, como a mensagem harmoniosa dos poeta que amaram e sofreram. Cármen Cinira aí está com os seus sonhos e desafios, de mulher e de menina, Casimiro com a sua sensibilidade infantil, Junqueiro com a sua ironia, Antero com a sua rima austera e dolorosa.
          Todos aí estão dentro das suas características.
          Os mortos falam e a Humanidade está ansiosa, aguardando a sua palavra.
          [...]
                                                                                       Humberto de Campos (*)
                                                                                                  (Espírito)


Reparem como Casimiro de Abreu não perdeu seu estro, e revela saudades do Brasil, no seu tempo encarnado na matéria.

Casimiro de Abreu

Poeta fluminense desencarnou aos 18 de outubro de 1860, na fazenda de Indaiaçu, no então município de Barra de São  João, hoje denominado Casimiro de Abreu, com 21 anos de idade, acometido de tuberculose pulmonar. Figura literária da mais típicas do seu tempo, o autor malogrado de "Primaveras" ainda aqui se afirma no seu profundo quão suave nativismo lírico. Suas composições possuem "um sabor estilo colorido, sensível e personalíssimo." disse Ronald de Carvalho.

À MINHA TERRA

Que terno sonho dourado
Das minhas horas fagueiras,
No recanto das palmeiras
Do meu querido Brasil!
A vida era um dia lindo
Num vergel cheio de flores,
Cheio de aroma e esplendores
Sob um céu primaveril.

A infância, um lago tranquilo
Onde começa a existência,
Onde os cisnes da inocência
Bebem o néctar do amor.
A mocidade era um hino
De melodias suaves,
Formadas de trinos de aves
E de perfumes de flor.

O dia, manhã ridente,
Numa canção de alvorada;
A noite toda estrelada
Após o doce arrebol;
E na paisagem querida,
Os ramos das laranjeiras
E das frondosas mangueiras
Douradas à luz do sol!

Oh! Que clarão dentro dalma,
Constantemente cismando,
O pensamento sonhando
E o coração a cantar,
Na delicada harmonia
Que nascia da beleza,
Do verde da natureza,
Do verde do lindo mar!

Oh! Que poema a existência
De infância e de mocidade,
De ternura e de saudade,
De tristeza e de prazer;
Igual a um canto sublime,
Como uma estrofe inspirada
Na noite e na madrugada,
Na tarde e no amanhecer.

De tudo me lembro e quanto!
A transparência dos lagos,
As carícias, os afagos
E os beijos de minha mãe!
Dos trinos dos pintassilgos,
Da melodia das fontes
As nuvens nos horizontes
Perdidos no azul do além.

Quando eu cruzava as campinas,
Sem sombras de sofrimento,
Descalço, com o peito ao vento,
Num tempo doce e feliz!
Os pessegueiros floridos,
As frondes cheias de amora,
O manto de luz da aurora,
Os pios das juritis!

Se a morte aniquila o corpo,
Não aniquila a lembrança;
Jamais se extingue a esperança,
Nunca se extingue o sonhar!
E à minha terra querida,
Recortada de palmeiras,
Espero em horas fagueiras
Um dia poder voltar.


 CRUZ E SOUZA
     
Catarinense. Funcionário público, encarnou em 1861 e desprendeu-se em 1898, no Estado de Minas. Poeta de emotividade delicada, soube, mercê de um simbolismo inconfundível, marcar sua individualidade literária. Sua vida foi só dores.

HERÓIS

Esses seres que passam pelas dores,
Às geenas do pranto acorrentados,
Aluviões de peitos sofredores,
No turbilhão dos grandes desgraçados;
                   
Corações a sangrar, ermos de amores,
Revestidos de acúleos acerados,
Nutrindo a luz dos sonhos superiores
Nos ideais maiores esfaimados;

Esses pobres que o mundo considera
Os humanos farrapos dos vencidos,
Prisioneiros da angústia e da quimera,

São os heróis das lutas torturantes,
Que são, sendo na Terra os esquecidos,
Coroados nas luzes deslumbrantes!

 AUGUSTO DOS ANJOS

     Paraibano. Nasceu em 1884 e desencarnou em1914, na cidade de Leopoldina, Minas. Era professor no colégio Pedro II .inconfundível pela bizzarria da técnica, bem como dos assuntos de sua predileção, deixou um só livro – Eu – que foi, aliás, suficiente para lhe dar personalidade original.

ALMA

Nos combates ciclópicos, titânicos,
Que eu às vezes na Terra empreendia,
Nos vastos campos da psicologia,
Buscava as almas, seres inorgânicos;

Nas lágrimas, nos risos e nos pânicos,
Nos distúrbios sutis da hipocondria,
Nas defectividades da estesia,
Nos instintos soezes e tirânicos.

Somente achava corpos na existência,
E o sangue em continuada efervescência
Com impulsos terríficos e tredos.

Enceguecido e louco então que eu era,
Que não via, dos astros à monera,
As luzes dalmas em trágicos segredos.

GRATIDÃO A LEOPOLDINA (*)

Sem o vulcão de dor de hórridas lavas,
Beija, Augusto, este solo generoso,
Que te guardou no seio carinhoso
O escafandro das células escravas.

Aqui, buscaste o campo de repouso,
Depois das vagas ríspidas e bravas
No mundo áspero e vão, que detestavas,
E onde sorveste o cálice amargoso.

Volta, Augusto, do pó que envolve as tumbas,
Proclama a vida além das catacumbas,
Nas maravilhas de seus resplendores.

Ajoelha-te e lembra o último abrigo,
Esquece o travo do tormento antigo
E oscula a destra de teus benfeitores.


_________
(*)
Poesia recebida em 18 de julho de 1940, em Leopoldina, onde foi sepultado o poeta.