domingo, 8 de novembro de 2015

PARÓDIA


A paródia é uma recriação de textos, geralmente célebres, em tom burlesco, satírico, humorístico, contestador, crítico, irônico, jocoso.

O excelente soneto, “As quatro velas” de Dedé Monteiro, vem sendo homenageado pela criatividade de outros poetas. Eu também resolvi parodiá-lo com o meu “As quatro estrofes.

Texto-Base: As quatro velas

Quatro velas ardiam sobre a mesa,
E falavam da vida e tudo o mais.
A primeira, tristonha: “Eu sou a PAZ,
Mas o mundo não quer me ver acesa…”

A segunda, em soluços desiguais:
“Sou a FÉ! Mas é triste a minha empresa:
Nem de Deus se respeita a Realeza…
Sou supérflua, meu fogo se desfaz…”

A terceira sussurra, já sem cor:
“Estou triste também, eu sou o AMOR…
Mas perdi o fulgor como vocês…”

Foi a vez da ESPERANÇA – a quarta vela:
“Não desiste ninguém! A Vida é bela!
E acendeu novamente as outras três!

DEDÉ MONTEIRO


Paródias:

As quatro putas

Quatro putas falavam em um bar
Sobre a vida que era muito dura...
A primeira, cheinha de frescura,
Diz assim: “Eu vou me aposentar!

A segunda, morrendo de chorar,
Diz pra outra: “Ninguém mais me segura,
Tô com um metro e cinqüenta de altura
E a balança acabou de se quebrar.

A terceira, já com sessenta anos,
Disse às outras: “Restaram desenganos,
Ninguém mais quer três velhas prostitutas...

Veio a quarta, a que era cafetona,
E, lembrando dos tempos bons da zona,
Deu coragem de novo às outras putas.

Felipe Júnior


 Os quatro cornos

Quatro cornos sentados numa praça
Lamentavam por ter desilusões,
O primeiro lembrando as tradições:
- Eu me vingo das pontas na cachaça.

O segundo chorava de desgraça
E dizia: não perco as ilusões.
Se a mulher preferiu ter Ricardões
Isso é fase, mas sei que logo passa.

O terceiro chifrudo, o mais matreiro:
O que importa é a mulher trazer dinheiro
Pra o que falam de mim, nunca liguei.

Já o quarto cornão, foi taxativo:
- Quando a minha me trai sou vingativo,
Eu arranjo outro bofe e vou ser gay.

Ismael Gaião

 Os quatro bêbados

Quatro bêbados bebiam numa mesa,
E falavam da vida e tudo enfim,
O primeiro dizia: “Eu bebo assim,
Pra poder afogar minha tristeza”...

O segundo, engolindo uma de gim,
Diz: “a cana é quem faz minha defesa...
Se não fosse a bebida, essa beleza,
Minha vida seria muito ruim!

O terceiro, morrendo de ressaca,
Diz: eu sinto a matéria muito fraca,
Vou parar de beber essa semana!

Grita o outro: “não faça essa desgraça,
Mande abrir mais um litro de cachaça,
Que é pra gente morrer bebendo cana!”

Gonga Monteiro

 Os quatro poetas

O primeiro poeta com as velas
Deu um show de poesia, com certeza,
O segundo, num bar, ouve na mesa,
Depois narra, dos bêbados, as seqüelas.

Outro escuta, das putas, as mazelas,
Comentar sobre os ossos do ofício,
E, escutando dos cornos, o suplício,
Chega outro e relata tais procelas:

Como é dura a vida dos poetas,
No afã de cumprirem suas metas,
Desmanchando-se em versos, quem diria

Juntam: bêbados, cornos, velas, putas
Em estrofes bem simples, mas astutas
Transformaram isso tudo em poesia.

Carlos Aires


 As quatro estrofes
                                                                                                          
Quatro estrofes sondavam o poeta,
Pra fazerem parte desse soneto;
A primeira, como algo obsoleto,
Vislumbra-se de forma mui indiscreta!

A segunda, já com feições de esteta:
- Mente adentro do poeta me meto,
Mas vou fazer parte, isso eu prometo,
Pois, esta é que tem sido a minha meta!

A terceira atrai como se fosse ímã,
Para constar também naquela rima.
Mas foi mais uma para o descarte!

Foi a vez, enfim, da quarta estrofe,
Coxa, como quem tá botando os bofes,
Inselecionável a essa obra de arte!

Miguel de Souza


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