Texto-Base
XIII
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".
Olavo Bilac
Via láctea
P. 25
Paródia
FAZER POEMAS
"Ora (direis) fazer poemas! Certo
perdeste o senso!" E eu vos direi também
que, para fazê-los, muita vez desperto
e encontro os bolsos sem nenhum vintém.
Mas vou seguindo o meu futuro incerto
compondo versos, muito mal ou bem,
enquanto vejo algum fulano esperto
nadando em cifras que tão poucos têm.
Direis agora: - Sendo assim desiste!
O que procuras, tresloucado amigo,
pode ser nobre, mas também é triste!
E eu vos direi: Amai!... Amai primeiro!
Pois só quem ama pode ter consigo
tantos poemas e nenhum dinheiro!
Marcos Ferreira
A hora azul do silêncio
P.38
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