sábado, 15 de março de 2014

VOU-ME EMBORA PRO PASSADO

                                                           Pegando carona na nave de Jessier Quirino.
                                                           A bênção Manuel Bandeira, meu mestre de sempre.

Vou-me embora pro passado
Lá, era amigo do juiz!
Lá sim, tenho certeza,
de que era muito feliz!
Vou-me embora pro passado.

Vou-me embora pro passado
no Presente é só pavor!
Lá, a vivência era candura,
de causar até saudade
dos carinhos de D. Áurea:
Mater-Rainha do meu lar,
matrona que me deu a base,
no parco jeito de amar...

E como joguei futebol,
brinquei de manja-pira,
montei no cavalo de pau,
nadei no Solimões,
pulei no igarapé!
E quando me sentia exausto,
deitava na minha rede,
Para ouvir as estórias
de bicho-papão e tudo mais...
Que, na ausência da babá,
Do meu velho eu ouvia.
Vou-me embora pro passado.

No passado tinha de tudo!
Era outra situação:
Tinha Daniel Boonie na tevê
e desenhos de montão,
Tinha Sandocam, o tigre da Malásia;
Daniel Azulay, Papai Papudo,
e tantos filmes bacanas,
pra gente assistir!

E quando me dá saudade,
saudade sem mais fim ...
Quando às vezes me dá
Vontade de voltar lá!
-Lá era amigo do juiz!-
Lá sim, tenho certeza,
de que era muito feliz!
Vou-me embora pro passado.

                     Miguel de Souza

domingo, 9 de março de 2014

TACA A MÃE PRA VER SE QUICA!


 

      Nos anos 80, as músicas tinham muita qualidade, lembro-me de: "AMANHÃ TALVEZ" da Joana; "CORAÇÃO DE ESTUDANTE" do Milton Nascimento; "MENINA VENENO" do Ritchie; "MUITO ESTRANHO" do Dalton; e como esquecer-me de "SONHO DE ÍCARO" do Byafra; entre muitas outras. Mas, tinha um grupo de rock chamado Dr. Silvana e Cia, aquele mesmo do "SERÃO EXTRA", que tinha emplacado uma música cujo nome era: "TACA A MÃE PRA VER SE QUICA". Lembro que essa frase soava na boca de todo mundo, principalmente das meninas. Na escola então, era só a bola, na ginástica, roçar numa delas, quase sempre de propósito, que lá vinha a frase: "TACA A MÃE PRA VER SE QUICA."
     Se alguma pedra batesse em algum telhado, de dentro da casa soava logo a frase: " TACA A MÃE PRA VER SE QUICA." Mas era tudo em tom de brincadeira, ninguém ia às turras com ninguém por causa disso. A verdade era que tinha muitas formas de dizer a frase, tinha a forma amiga: " TACA A MÃE PRA VER SE QUICA..." Tinha a forma séria: " TACA A MÃE PRA VER SE QUICA." Dependendo da situação entre os brincantes.
     Alguém teve a ideia de brincar com as meninas, porque elas eram quem diziam a frase, e, findavam, com isso se dando bem! Eu fiquei de atirar um chumaço de papel amassado numa delas. O pátio da escola, na hora do recreio, ficava apinhado, como elas andavam sempre em bando, foi fácil. Passou pela gente uma cinco ou seis garotas. Eu estava apostos. Alguém deu o sinal: Já! Então, nesse momento, mirei e atirei o chumaço numa delas! Era para pegar no ombro, mas com o movimento, pois elas estavam andando, o chumaço de papel passou sobre a menina e bateu de cheio no rosto da outra...
     Nesse momento, a garota vira pra mim, e, com o rosto vermelho de raiva, teve a famosa frase proferida por tantos, abafada pela nossa frase em coro: "TACA A MÃE PRA VER SE QUICA!" Era a desforra!

sábado, 1 de março de 2014

RANKING DOS CINCO SONETOS MAIS LIDOS NO RECANTO DAS LETRAS

5. O VERSO DA VIDA

    O tempo me escande a vida.
    Espero que seja longo o
    verso, fartamente oblongo,
    para esta missão cumprida!
    O tempo sem nós é nada!
    Não pode cumprir o ofício,
    ou em raios de solstícios,
    declinar-nos na jornada!
    O tempo não passa; nós
    é que passamos por ele!
    E, apesar do poder dele,
    ele não nos é algoz!
         Porque nasceu para a perda.
         Do tempo, é o que se herda!


4. MUDANÇA

   Era bonita, sensual, formosa!
   Tinha na face, os olhos de azeviche,
   graúdos, negros quais se fossem piche,
   e um olor natural, igual às rosas...

   Era, por todos, tida qual gostosa!
   De todos homens, era o mor fetiche,
   mas fazia de tudo grã pastiche,
   ignorava-os, pisava-os, melindrosa!

   Hoje, olho pra ela, com tamanha dor,
   aquele ser esnobe, está um horror,
   a mendigar carinho... E isso é triste!

   Quem antes só vivia com orgulho,
   o tempo a transformou nesse bagulho,
   e agora, ela é que é a vítima de chiste!


3. A FELICIDADE DOS OUTROS

    No decorrer do tempo pela vida
    Tenho visto a felicidade dos outros
    A correr pelos prados como potros
    E de tanta alegria revestida!

    E eu, com a minha solidão, solto
    A tecer amarguras mil vividas
    Vou curtindo a experiência renhida
    De, no amor, ser um homem indouto!

    Vou sentindo por dentro... Ora veja!
    Uma ponta (in)significante de inveja
    Que nem a mim, nem a ninguém cabe.

    Mas quem sabe, se um belo dia, enfim
    Eu possa ter também alguém pra mim
    E esta solidão toda se acabe.


2. ÓTICA ALHEIA

    Olho para o impossível mundo mítico,
    pela ótica dos homens que, sem ética,
    levam as suas vidas bem patéticas,
    como se fossem vidas de políticos!

    Longe, bem longe de ser mirifico!
    Sem todas essas concepções estéticas,
    existentes em várias obras poéticas!
    Sinto asco desses homens mui raquíticos,

    que chegam a inclinar as mentes vastas,
    e reverenciar os iconoclastas,
    por essa posição diante à vida!

    Prefiro seguir firme meu caminho,
    no labor pela estrada, vou sozinho,
    com parco soldo nesta dura lida!


1. DIÁLOGO COM A VIDA

   Às vezes quero mirar outro alvo!
   E me dizes não! E apontas minha seta
   O destino a seguir, a minha meta
   Que hei de atingir, embora tarde, calvo.

   Às vezes quero seguir outra seta!
   E me dizes não! E apontas qual o meu alvo
   O porto aonde aportarei firme, salvo!
   E  farei uma carreira de menor poeta.

   Às vezes sinto-me num desnorteio
   Sem direção, sem bússola, sem freio
   E esqueço que és feita um timoneiro

   A guiar os meus passos como seta
   porque me deste a honra de ser poeta
   E desta prole ser o pioneiro.

                                   Miguel de Souza