domingo, 23 de fevereiro de 2014

DE POETA PARA POETA


DÂMEA MOURÃO

CLARA MANHÃ

Na clara manhã futura
percorro-te os braços longos
e calo-me diante das "Cordas
Vocais" de teus poemas.

Sou todo sonho nesta manhã
clara e futura...

Na diátese desse "Apego ao Tempo"
esmoreço-me exíguo
ante a tua perfeição!...

De truz, a poeta "Acolhe Sons"
e recolhe dos semblantes pasmos
o clique para sempre grafado
na retina da meninaedo

dos "Versos Reversos" dispostos ao plano.


Miguel de Souza

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

CRÔNICA

     Leitura finda do livro "O Novo Manifesto" Antologia de Contos e Crônicas. Destaco a crônica de Lima Barreto que nomeia o livro. Muito interessante!

                                                              LIMA BARRETO  

O NOVO MANIFESTO

     Eu também sou candidato a deputado. Nada mais justo. Primeiro: eu não pretendo fazer coisa alguma pela pátria, pela família, pela humanidade.
     Um deputado que quisesse fazer qualquer coisa dessas, ver-se-ia bambo, pois teria, certamente, os duzentos e tantos espíritos dos seus colegas contra ele.
     Contra as suas ideias levantar-se-iam duas centenas de pessoas do mais profundo senso.
     Assim, para poder fazer alguma coisa útil, não farei coisa alguma, a não ser receber o subsídio.
     Eis aí em que vai consistir o máximo da minha ação parlamentar, caso o preclaro eleitorado sufrage o meu nome nas urnas.
     Recebendo os três contos mensais, darei mais conforto à mulher e aos filhos, ficando mais generoso nas facadas dos amigos.
     Desde que minha mulher e os meus filhos passem melhor de cama, mesa e roupas, a humanidade ganha. Ganha, porque, sendo eles parcelas da humanidade, a sua situação melhorando, essa melhoria reflete sobre o todo de que fazem parte.
     Concordarão os nossos leitores e prováveis eleitores, que o meu propósito é lógico e as razões apontadas para justificar a minha candidatura são bastante poderosas.
     De resto, acresce que nada sei da história social, política intelectual  do país; que nada sei da sua geografia; que nada entendo de ciências sociais e próximas , para que o nobre eleitorado veja bem que vou dar um excelente depurtado.
     Há ainda um poderoso motivo, que, na minha consciência, pesa para dar este cansado passo de vir solicitar dos meus compatriotas atenção para o meu obscuro nome.
     Ando mal vestido e tenho uma grande vocação para elegâncias.
     O subsídio, meus senhores, viria dar-me elementos para realizar essa minha velha aspiração de emparelhar-me com a deschanelesca elegância do Senhor Carlos Peixoto.
     Confesso também que, quando passo pela rua do Passeio e outras do Catete, alta noite, a minha modesta vagabundagem é atraída para certas casas cheias de luzes, com carros e automóveis à porta, janelas com cortinas ricas, de onde jorram gargalhadas femininas, mais ou menos falsas.
     Um tal espetáculo é por demais tentador, para a minha imaginação; e eu desejo ser deputado para gozar esse paraíso de Maomé sem passar pela algidez da sepultura.
     Razões tão poderosas e justas, creio, até agora, nenhum candidato apresentou, e espero da clarividência dos homens livres e orientados o sufrágio do meu humilde nome, para ocupar uma cadeira de deputado, por qualquer Estado, província ou emirado, porque, nesse ponto, não faço questão alguma.
     Às urnas.

                                                                                                                          16.1.1915
       

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

É FOGO!

                                    14.02 - Dia Internacional do Amor

Toda vez, Nega!
Que você chega
com suas manhas,
        suas lanhas,
        suas sanhas...
Roçagando a tez,
burlando as leis,
implorando ósculos,
tirando óculos,
fingindo rusgas,
carinhando rugas!

Improvisando novas
regras nesse jogo...

Toda vez, Nega!
Que você chega
com suas ilhas,
       suas pilhas,
       várias trilhas,
saltando fora,
querendo agora,
selando égua,
correndo léguas,
carpindo nesgas,
sorvendo mega...

Toda vez, Nega!
Que você chega
com essa história,
                é fogo!

Miguel de Souza

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

FUTEBOL

     Era um jogo difícil aquele, eu estava atrasado. O jogo já havia começado e eu ainda estava em casa. Mas, como sempre ficava no banco, e entrava no segundo tempo, não me preocupei muito. Quando me desvencilhei dos afazeres domésticos, lembrei-me do jogo e fui correndo, já estava na metade do primeiro tempo e estávamos perdendo de 1X0.
     Jogo truncado, sem expectativa de vitória nenhuma. Camilo Magno estava no gol. Sérgio, o nosso goleiro oficial estava na arquibancada assistindo e torcendo muito, com o punho machucado.Quando eu entrava, ou era no meio de campo ou no ataque, mas aquele jogo não era pra mim.
     Francisco Agostinho mandava bem no meio de campo, no início do segundo tempo dominou uma bola, e da intermediária mandou um chute improvável com tanto veneno que findou entrando. Era o empate! Agora era segurar na zaga. E segurar era com o Eliomar, como aquele cara jogava bola! Ele recebeu uma bola na lateral esquerda, e num toque envolvente tabelou com José Alberto, recebeu a bola de volta e... Quase viramos o jogo, foi por pouco.
     Faltava cinco minutos pro final quando entrei no lugar do Juvêncio, parecia uma barata tonta correndo pra lá e pra cá, e ninguém me passava a bola. Houve uma jogada linda do Francisco Agostinho pelo meio, ele recebeu uma bola do Camilo, deu um drible de corpo no adversário e virou de primeira pro Eliomar que fez o corta-luz e, sem tocar na bola, deixou pro José Aurélio que pegou na veia! A bola beijou o travessão e sobrou livre pra mim, aí foi só empurrar pra dentro e comemorar.

                                                                     
                                                                  ===XX===

A DECISÃO

     ... E veio a grande final, era contra o time mais marrento da escola. Raimundo Pedraça, Pedaço e Júlio César eram implacáveis! Chegaram inteiros para aquela final. O nosso time estava entregue às traças. Com a melhora do Sérgio, Camilo Magno compôs a zaga com José Aurélio; na cabeça de área, Elailson dava o ar de sua graça; Juvêncio e Francisco Agostinho no meio de campo; Zé Alberto e Eliomar comandavam o ataque; e no banco de reservas eu, para o desafogo do time que contava com a torcida das garotas da nossa sala.
     A bola rolou e o primeiro chute lambeu a trave esquerda do Sérgio, um augúrio percorreu-me a mente naquela hora. O jogo era nervoso. Júlio César de voleio, quase inaugura o placar pra eles. O primeiro tempo passou e não vimos a cor da bola.
     No segundo tempo era a hora da verdade, Eliomar até que enfim, resolveu jogar alguma coisa, numa bola quase perdida, ele penetrou pela lateral e conseguiu arranjar um escanteio.
     O jogo era mais falado do que jogado. Juvêncio estava bem no jogo, desarmava todas as jogadas, recuperava as bolas e servia aos companheiros, que não davam prosseguimento. Findou a partida e restou os pênaltis... Sérgio não pegava uma bola sequer. Ninguém errava nada! Até que Julio César, exímio batedor, conseguiu chutar o seu pênalti pra fora, com o Sérgio batido no lance. Era a vez de José Aurélio que, com muita frieza bateu o penal bem devagarzinho, deslocando o goleiro e fazendo a bola entrar no gol, para o grito de CAMPEÃO!


RECORDAÇÃO

Recordo com saudade dos amigos
dos tempos idos que vivi outrora, a
jogarem futebol sempre comigo...
onde estarão todos eles agora?

A minha mente apenas rememora,
os tempos bons que neste poema digo!
Guardo-os nesta retina como abrigo,
como troféus que o pensamento decora.

Agostinho, José Alberto, Sérgio...
Meus amigos da época do colégio,
protagonistas desses tempos idos...

Hoje tudo que resta são saudades,
dum pedaço de terra nesta cidade,
que foi por nós, muito bem vivido.

                          Miguel de Souza

sábado, 1 de fevereiro de 2014

SONETO DA AMIZADE

                                      Para Lívia

Abro um parênteses na minha vida,
para falar de uma nobre verdade
num soneto... E, com que felicidade,
pelo axioma que tu trazes, querida!

Por essa imediata sinceridade,
sem pausa, sem resposta fingida;
é que mereces nesta luta renhida,
este soneto pela minha amizade.

Inda ecoa, ao meu ouvido, tua voz:
a maior prova da amizade entre nós.
Tuas belas mensagens, minha diva,

São para mim poemas de amor,
Nesse avir nosso, de palavra, cor.
E que nossa amizade sobreviva!

                            Miguel de Souza