segunda-feira, 7 de outubro de 2013

DE POETA PARA POETA

                                                           OSWALD DE ANDRADE

     Em 11 de janeiro de 1890 nasceu, em São Paulo, Oswald de Andrade, uma das figuras mais polêmicas de nossa literatura, que se confundia aos personagens de seus próprios romances.
     De temperamento anarquista, opunha-se às normas literárias, políticas e sociais, instigando, entre seus contemporâneos, o combate ao passadismo, a renovação constante e a descoberta de novos talentos artísticos.
     Teve uma vida sentimental intensa, ligando-se a várias mulheres, com algumas das quais teve filhos ou casou-se; entre elas, estão a pintora Tarsila do Amaral (com a qual fundou o movimento antropofágico) e Patrícia Galvão, a "Pagu" (com a qual fundou o jornal "O Homem do Povo").
     Procedente de rica família paulistana, empreendeu muitas viagens para a Europa, que tiveram grande influência em sua obra, pois representam uma redescoberta do Brasil e uma conscientização do escritor com relação às suas próprias raízes. Para realizá-las, Oswald era capaz de despender toda a sua fortuna.
     Oswald viveu num período de transição descrito por ele mesmo em seu livro de memórias: "Nossos pais vinham do patriarcado rural, nós inaugurávamos a era da indústria".
     Em 1954, morre Oswad de Andrade após prolongada doença, aos cuidados de sua terceira esposa, Maria Antonieta d'Alkmin, a mais duradoura de suas relações.
     Quanto às suas atividades literárias, foi ficcionista, poeta, jornalista e escreveu peças teatrais.
     Como ficcionista, Oswald estreou com o livro Os Condenados, publicado em 1922. Mais tarde, intitulado Alma, ele integraria os romances A Estrela do Absinto e a Escada de Jacó, formando uma trilogia que foi então batizada de Os Condenados.
     Esse primeiro romance trata da vida de Alma, uma prostituta dividida entre a exploração de Mauro Glade (um "cáften") e o amor romântico de João do Carmo, que acaba por suicidar-se. A importância desta obra está na sua originalidade técnica, que prenuncia os procedimentos dos textos mais importantes de Oswald de Andrade.
     Em seus romances seguintes, Memórias Sentimentais de João Miramar (1924) e Serafim Ponte Grande (1933), o ficcionista desvincula-se dos padrões tradicionais da narrativa, fundindo a prosa e a poesia e criando um estilo original.
     Memórias Sentimentais relata as viagens e aventuras de um burguês paulista, numa sátira social em que se misturam  o estilo paródico e o humorístico.
     Em Serafim Ponte Grande há um aprofundamento da sátira social, visando à classificação dos valores burgueses. É considerada uma obra de vanguarda por subverter a ordem habitual do romance, distanciando-se de qualquer esquema tradicional de composição. Narra a vida de Serafim ponte Grande: sua formação, viagens à Europa e ao Oriente, retorno ao Brasil e termina com uma permanente viagem utópica do personagem.
     Como poeta, Oswald estreou com o livro Pau Brasil, em 1925, buscando uma poesia renovadora, a qual chamaria de "poesia de exportação". Trata-se de uma poesia desligada dos modelos tradicionais, pois é construída a partir de uma linguagem coloquial, plena de humor e ironia. Assim, Oswald propõe escrever, sob forma poética, a história do Brasil, fazendo paródias de textos do passado ao mesmo tempo em que o questiona.
     Com relação à sua produção teatral, a peça O Rei da Vela é a mais importante. Publicada em 1937, representa o primeiro texto moderno do teatro brasileiro, Pois só veio a ser apresentada trinta anos depois, em São Paulo.
     A peça é dividida em três atos e trata da aliança da burguesia ascendente com a aristocracia decadente, simbolizada por Abelardo e Heloísa. No título, há a referência à vela, produto da fábrica de Abelardo, que simboliza a estagnação brasileira.
     
     Acompanhe agora a homenagem que Ferreira Gullar prestou a Oswald de Andrade no dia de seu passamento:

OSWALD MORTO

Enterraram ontem em São Paulo
um anjo antropófago
de asas de folha de bananeira
(mais um nome que se mistura à nossa vegetação tropical)

As escolas e as usinas paulistas
não se detiveram
para olhar o corpo do poeta que anunciara a civilização do ócio
Quanto mais pressa mais vagar

O lenço em que pela última vez
assoou o nariz
era uma bandeira nacional

NOTA:
Fez sol o dia inteiro em Ipanema
Oswald de Andrade ajudou o crepúsculo
hoje domingo 24 de outubro de 1954

                      Ferreira Gullar
     

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