No livro RELIQUIAE de 1931, Florbela Espanca publica um soneto no mínimo curioso, pois não há a primeira quadra do soneto intitulado "Eu não sou de ninguém..." Querendo desta forma, informar ao leitor de algo a mais que não estava explícito no texto. Vejamos o Soneto:
EU NÃO SOU DE NINGUÉM
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Eu não sou de ninguém!... Quem me quiser
Há de ser luz do sol em tardes quentes;
Nos olhos de água clara há de trazer
As fúlgidas pupilas dos videntes!
Há de ser seiva no botão repleto,
Voz no murmúrio do pequeno inseto,
Vento que enfuna as velas sobre os mastros!...
Há de ser outro e outro num momento!
Força viva, brutal, em movimento,
Astro arrastando catadupas de astros!
Florbela Espanca
Eu, na minha curiosidade de bisbilhotar as coisas, resolvi preencher a primeira estrofe do soneto, procurando entender bem, o que a poetisa quis dizer com aquela ausência! Claro que é loucura, pois lendo e relendo as três estrofes restantes, cheguei a esta conclusão:
"Eu não sou de ninguém!... Nem quero ser...
A não ser que, ao invés de ser demente,
Seja, ao menos igual a essa gente,
Que me odeia, mas lá no fundo me quer!"
Miguel de Souza
Então, eis aí senhoras e senhores, o quebra-cabeça montado:
EU NÃO SOU DE NINGUÉM
Eu não sou de ninguém!... Nem quero ser...
A não ser que, ao invés de ser demente,
Seja, ao menos igual a essa gente,
Que me odeia, mas lá no fundo me quer!
Eu não sou de ninguém!... Quem me quiser
Há de ser luz do sol em tardes quentes;
Nos olhos de água clara há de trazer
As fúlgidas pupilas dos videntes!
Há de ser seiva no botão repleto,
Voz no murmúrio do pequeno inseto,
Vento que enfuna as velas sobre os mastros!...
Há de ser outro e outro num momento!
Força viva, brutal, em movimento,
Astro arrastando catadupas de astros!
Florbela Espanca / Miguel de Souza
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