Em 1995, eu era
um homem com uma indagação. O que fazer com um número considerável de poemas
engavetados? Pois havia chegado o momento de expô-los. Mas de que forma? Foi
quando, por acaso, descobri numa estação de rádio, uma voz feminina no comando
de um programa sobre literatura chamado “Momento Poético”. Fiquei na escuta,
embevecido com aquilo tudo. Lá pelas tantas, a voz feminina se coloca a
disposição para divulgar poemas dos ouvintes.
Não
acreditei! Era a minha chance, enfim, de expor os meus escritos. Passei uma
semana me preparando. O programa era aos sábados. Naquela época, um idiota
havia ido à TV expor a imagem de Nossa Senhora Aparecida ao ridículo. Como
católico/espírita que sou não poderia deixar passar aquilo em branco, e fiz um
poema chamado “Acinte a Nossa Senhora”, juntamente com mais dois poemas
rabiscados no papel e levei-os até a rádio.
Com um
walkman nos ouvidos, fiquei ouvindo o programa na porta da rádio, esperando o
seu término, para enfim, conhecer a dona daquela voz feminina e tão maviosa.
Quando terminou o programa, dou de cara com uma senhora loira, de olhos esverdeados,
e muito educada. Sentamo-nos ali mesmo, no batente da porta da rádio, ela
passou a vista nos meus textos e disse que na semana seguinte leria os poemas.
Aí se deu um
fato estranho aos meus ouvidos, porque ela me chamou de poeta! Na semana
seguinte fui questionar o porquê daquilo tudo. Segundo eu, era para ela me
apresentar como um ouvinte que escreve poemas, e não um poeta! Ela me disse: -
E quem escreve poemas o que é? Açougueiro, por acaso! Tive que aceitar essa
insígnia que até hoje acho uma responsabilidade muito grande.
Bem, daí em
diante foram tantos poemas meus lidos que perdi até a conta. Digo que a Ana
Zélia me ensinou o caminho das pedras, me encaminhou ao poeta-compositor Everaldo
Nascimento com seus projetos literários. Foi quem me descobriu, por isto sou
tão grato a ela.
Leiam o que Ana Zélia falou sobre mim em sua página na Usina
de Letras.
No programa “Momento Poético” tinha um espaço: DIVULGANDO OS
POETAS DA TERRA.
Muitos foram os que procuraram, entre eles, um fiel, Miguel de
Souza. Tímido, chegava na rádio antes das 17h. Hora em que eu chegava para
apresentar o programa às 18h. Um dia abri o microfone ao Miguel para que ele
falasse alguma coisa, ele simplesmente emudeceu. Fora do ar disse ao Miguel que
falar era fácil. Uma técnica apenas. A sós você amarra um fio no alto e vai
puxando este fio e a cada puxada você fala bem alto uma palavra qualquer. Conta
de 3 a 1 e vai, o medo passa, as coisas são superficiais, tudo tem técnica.
Acredito que o poeta deva defender seu trabalho. Hoje vejo Miguel declamando
firme, sem papel. O nosso tempo passou, ele é jovem, tem espaço pra assumir.
Manaus, 23.01.2010 (Ana Zélia)
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