Um novo livro de poemas nasceu. Assim como surgem os poemas, também surgem os livros. A partir da minha loucura pelo Ernesto Penafort, a meu ver, um dos melhores poetas desta terra. Tive
a ideia de desmembrar um dos seus magníficos poemas: "Calendário Interior".
Transformei-o em dez dísticos e dois monósticos que funcionam como epígrafes dos sonetos shakespearianos, uma das estruturas preferidas do Ernesto. Para cada mês, um soneto.
Os sonetos são uma continuação do pensamento do poeta. Uma afirmação nos dísticos e nos monósticos, segundo o meu desmembramento. Intitulei-o Ciclo, e, claro, é dedicado ao próprio Ernesto pelo grande poeta que é. O poema Calendário Interior vem na íntegra no final do livro.
Eis alguns sonetos:
ERNESTO PENAFORT
III
sentindo março
nó no cadarço
E.P.
sentindo março bem firme
bater à porta da casa
(o relógio que não atrasa)
e, com prazer, agora ir-me
seguir o sol do meu dia
para cumprir minha meta
por causa do grande poeta
quatorze reina a poesia
e o nó que outro vate trouxe
afrouxo do meu cadarço
pois, já é passado março
nesta vida a trouxe-mouxe
e que venha o mês seguinte
com sua senha, requinte!
VII
em vindo julho
no ar fagulho
E.P.
em vindo julho sem folga
sem dia útil pro descanso
em teus dias úteis me canso
e esse teu mar me afoga
também, em ti, o meu fagulho
uma suave centelha
em tuas horas parelhas
onde, exótico mergulho
e vão se passando as horas
as horas formando os dias
e, seguem-se na porfia
até o mês ir embora
para vir, enfim, agosto
o mês duro do desgosto
IX
feito setembro
mais eu me lembro
E.P.
feito setembro na trilha
mais eu me lembro da cor
azul que o poeta, com amor
dita, e do quanto ela brilha!
mais eu me lembro do AZUL
GERAL , primeiro dos livros
e que ainda hoje está vivo
em Manaus de norte a sul
e me lembro d'A MEDIDA
DO AZUL. Também de OS LIMITES
DO AZUL, que sem ter limite
comoveu-nos toda a vida!
mais eu me lembro do Ernesto
da sua poesia, estro!
Miguel de Souza
CALENDÁRIO INTERIOR
quando é janeiro
planto primeiro
em fevereiro
colho em paneiro
sentindo março
nó no cadarço
pondo-se abril
mão no fuzil
se o mês é maio
encho o balaio
e se faz junho
cerro o meu punho
em vindo julho
no ar fagulho
dando-se agosto
escondo o rosto
feito setembro
mais eu me lembro
o cinza rubro
cinzela outubro
já que é novembro
fogo em dezembro
Ernesto Penafort
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