Haikai (Haiku ou haikai) é uma forma poética de origem japonesa, que valoriza a concisão e a objetividade. Os poemas têm três linhas, contendo na primeira e na última cinco caracteres japoneses (totalizando cinco sílabas) e sete caracteres na segunda linha (sete sílabas).
Em japonês, haiku são tradicionalmente impressos em uma única linha vertical, enquanto haiku em Língua Portuguesa geralmente aparecem em três linhas, em paralelo. Muitas vezes, há uma pintura a acompanhar o haicai ( ela é chamada de haiga). "Haijin" é o nome que se dá aos escritores desse tipo de poema, o principal haijin (ou haicaista), dentre os muitos que se destacaram nessa arte, foi Matsuô Bashô (1644-1694), Que se dedicou a fazer do haicai uma prática espiritual.
HAICAI NO BRASIL
Segundo Mr. Hoigays (1988), o primeiro autor brasileiro de haicai foi Afrânio Peixoto, em 1919, através de seu livro Trovas Populares Brasileiras, onde prefaciou suas impressões a respeito do poema japonês:
"Os japoneses possuem uma forma elementar de arte, mais simples ainda que a nossa trova popular: é o haikai, palavra que nós ocidentais não sabemos traduzir senão com ênfase, é o epigrama lírico. São tercetos breves, versos de cinco, sete e cinco pés, ao todo dezessete sílabas. Nesses moldes vazam, entretanto, emoções, imagens, comparações, sugestões, suspiros, desejos, sonhos... de encanto intraduzível.
Quem o popularizou, porém, foi Guilherme de Almeida, com sua própria interpretação da rígida estrutura de métrica, rimas e titulo. No esquema proposto por Almeida, o primeiro verso rima com o terceiro, e o segundo verso possui uma rima interna (A segunda sílaba rima com a sétima sílaba). A forma de haicai de Guilherme de Almeida ainda tem muitos praticante no Brasil.
Outra corrente do Haicai brasileiro é a tradicionalista, promovida inicialmente por imigrantes ou descendentes de imigrantes japoneses, como H. Masuda Goga e Teruko Oda. Esta corrente define haicai como um poema escrito em linguagem simples, sem rima, estruturados em três versos que somem dezessete sílabas poéticas; cinco sílabas no primeiro verso, sete no segundo e cinco no terceiro. Além disso, o haikai tradicional deve conter sempre uma kigo. Estas são palavras ou frases, utilizadas na poesia japonesa que têm uma associação com uma estação do ano. (Ex.: "sakura", flor de cerejeira é associada à Primavera).
Como fonte nipônca do ainda haiku, em sua forma original, GOGA atribui aos imigrantes japoneses, que começa com a chegada do navio Kassato Maru ao porto de Santos em 18 de junho de 1908, nele estava Shuhei Uetsuka (1876-1935), um bom poeta de haiku, conhecido como Hyôkotsu, Consta ter sido a sua primeira produção, momentos antes de chegar ao porto de Santos, o seguinte haiku:
A nau intrigante
chegando: vê-se lá do alto
a cascata seca.
Foi na década de 1930 que aconteceu o intercâmbio e difusão do haiku entre os haicaistas japoneses e brasileiros, constituindo-se, assim, outro caminho do haicai no Brasil. Foi naquela década também que apareceu a mais antiga coletânea de haicais chamada simplesmente Haicais, de Siqueira Júnior, publicada em 1933. Guilherme de Almeida, no ano anterior, havia publicado Poesia Vária, mas o livro não era exclusivamente de haicais. Fanny Luiza Dupré, foi a primeira mulher a publicar um livro de haicais, em fevereiro de 1949, intitulado Pétalas ao Vento- Haicais, As rotas do haicai no Brasil podem ser resumidas cronologicamente da seguinte forma:
* Em 1879, através do livro da França ao Japão, de Francisco Antônio Almeida.
* Em 1908, através da chegada dos imigrantes japonese ao porto de Santos.
* Em 1919, através do livro Trovas Populares Brasileiras de Afrânio Peixoto.
* Em 1926, através do cultivo e difusão do haiku dentro da colõnia por Keiseki e Nenpuku.
Na década de 1930, através do intercâmbio dos haicaistas japoneses e brasileiros, principalmente pelo próprio H. Masuda Goga.
Com a ambientação e difusão do haiku em lígua portuguesa, algumas correntes de opinião sobre este se formaram:
* A corrente dos defensores do conteúdo do haiku;
* A corrente dos que atribuem importância à forma.;
* A corrente dos admiradores da importância do kigo.
Os defensores do conteúdo do haiku são aqueles que consideram algumas características do poema peculiares, como concisão, a condensação, a intuição e a emoção, que estão ligadas ao zen-budismo. Oldegar Vieira é um haicaista que aderiu a essa corrente.
Os que consideram a forma (teikei) a mais importante seguem a regra das 17 sílabas poéticas (5-7-5). Guilherme de Almeida não só aderiu essa corrente como criou uma forma peculiar de compor os seus poemas chamados de haicais "guilherminos". Abaixo, a explicação da forma conforme o gráfico que o próprio Guilherme elaborou:
-------------------------X
------O-------------------------O
-------------------------X
Além de rimar o primeiro verso com o terceiro e a segunda sílaba com a sétima do segundo verso, Guilherme dava título aos seus haicais. Exemplo (GOGA, 1988, p. 49):
Histórias de algumas vidas
Noite. Um silvo no ar,
Ninguém na estação. E o trem
passa sem parar.
Os admiradores da importância do kigo respeitam em seus haicais o termo ou palavra que indique a estação do ano. Jorge Fonseca Júnior, é um deles. Apesar de existirem essas distinções retratadas aqui como correntes, nomes como o de Afrânio Peixoto, Millôr fernandes, Guilherme de Almeida, Waldomiro Siqueira Júnior, Jorge Fonseca Júnior, Wenceslau de Moraes, Oldegar Vieira, Abel Pereira e Fanny Luiza Dupré são importantes na história do hacai no Brasil.
EXEMPLOS
Pétala caiu
se quis colorir o chão
fez bem, conseguiu.
Carlos Antonholi
no despenhadeiro
a sombra da pedra
cai primeiro
Carlos Seabra
a grama cortada
espalha um perfume novo
no velho jardim
Zemaria Pinto
Bênção para os olhos-
na queimada da floresta
a orquídea resiste.
Aníbal Beça
Rasteja no chão
como a beleza de um tapete
sonolento: a grama.
Anísio Mello
Casa de cupim
na ponta do pau do poste...
Fósforo gigante!
Luiz Bacellar
Na tarde ampla e calma
o sino é um óleo divino
ungindo-nos a alma.
Alencar e Silva
o ar eclode lento,
em bolha, e por toda folha
instaura vento.
Ernesto Penafort
Perfume das flores
suor e mãos calejadas
ofício de jardineiro.
Rayder Coelho
Ah, que maravilha
De roxas e rubras coxas
Goza a buganvília.
Sérgio Luiz Pereira
Na encharcada relva
sobre o escuro e frio rio Negro.
Raios propagam luz.
Michele Pacheco
Chamuscar de sol:
a labareda esquenta a
tarde tropical.
Miguel de Souza
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