Assim como existem as palavras paternidade e maternidade, deveria existir a palavra "vovocidade" ou "avocidade". O exercício de ter netos. A qualidade de ser avós.
Reportagem recente de A Crítica fala de Renata, que não tinha sobrenome e nem documentos. Ganhou judicialmente esse direito à cidadania. Renata viveu até os dezoito anos numa instituição de acolhimento de crianças. Sem nunca ter sido adotada, cresceu e se tornou adulta no orfanato, de onde saiu para a vida.
O sobrenome que adotou é uma homenagem a uma espécie de padrinho que tinha no orfanato. A Defensoria Pública argumentou em juízo que ausência do sobrenome causava constragimentos e impedia a prática de atos da vida civil. A Vara de Registros Públicos atendeu ao pleito e foi incluído um sobrenome, mesmo que fictício, nos registros de Renata.
Está de parabéns a Defensoria, o Ministério Público e o Poder Judficiário. Renata, muito feliz, disse que vai entrar com ação para mudar os registros dos filhos e regularizar a situação do mais velho, que mora com ela, mas o pai é que tem a guarda do menino.
Pensei nessas crianças que nunca terão avós. Jamais saberão o que é "vovocidade". Dia 26 de julho é comemorado o dia dos avós, data promulgada pelo Papa VI em homenagem a Santa Ana e São Joaquim, pais de Maria, mãe de Jesus. Apesar da referência católica, o dia entrou para o calendário laico, pelo menos, no Brasil.
Minha neta Maria Luísa tem avós maternos e paternos, os quatro exercem com alegria, plenitude e muito amor essa função divina e maravilhosa da "vovocidade". Não é preciso muito esforço para notar como a interação entre netos e avós é positiva. A convivência é muito benéfica para ambos.
Maria Luísa é uma privilegiada. Levá-la para passear e brincar não é uma obrigação ou uma forma de gastar a energia dela. Estar com a nossa netinha é uma oportunidade deliciosa de curtir e se divertir de verdade com ela.
É um grande contentamento o exercício da "vovocidade" ou seria "avocidade".
Pedro Lucas Lindoso
In: Palavra do fingidor
*************************************************************************
Dos meus avós tive mais contato com os maternos: o Vovô Luiz e a Vovó Chiquinha, chamados por nós carinhosamente de Pai e Mãe. Dos registros dessa pouca convivência restaram dois poemas onde relato fatos marcantes que perduram na minha retina. Aqui minha homenagem a ambos. É com emoção que publico tais poemas! Êh, saudade!
VOVÔ
Olha a linha do horizonte,
Por detrás
daquela serra...
O último
ponto que encerra ,
A beleza
desses montes.
Se não sabe,
quer que conte
O que por lá
se descerra?
O último
ponto da terra,
Diante de
nossas frontes!
Da varanda
da morada,
Com a voz
emocionada,
Relatou-me o
VOVÔ Luiz.
Jamais me
saiu do tino,
Esse tempo
de menino,
Em que eu
era muito feliz!
Miguel de
Souza
VOVÓ
Da VOVÓ,
lembro-me bem,
-enxergava
pelos tatos-
Colher,
garfo, copo, prato...
Tudo, enfim,
que lhe convém.
Até meu
rosto também,
Ela sabia de
fato;
Era mesmo o maior barato,
Ela era como
ninguém!
Na boca, o
seu cachimbo.
Esse era o
seu carimbo,
Que marcava
a sua imagem...
Eu, menino levando
água,
Sem trazer
nenhuma mágoa,
Por aquela
rica passagem.
Miguel de
Souza
Nenhum comentário:
Postar um comentário