sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

PEQUENA ABORDAGEM SOBRE O POEMA LIRA INFAUSTA

LIRA INFAUSTA

 Quando a flecha do destino
 Feito luz de estrela ingrata
 Varar-lhe o amargo peito,
 Cessará o Amor-imperfeito
 Que habitam os tormentos?

 Oh, Lira infausta da morte
 Tu que és tão bela e sábia
 E embala o coração que sofre
 Finda essa triste noite que corre
 Feito largo e tenebroso rio.

 Dá-lhe jazigo ao moribundo cravo
 E faz o canto da rasga mortalha
-Sombrias e tristíssimas cantigas-
 Velar as mazelas adormecidas
 Que regam seus eternos pesares!

 E, quando o palácio azul do céu
 Abrir o fosco véu de suas portas
 Possam as lágrimas opulentas
 Sobrestar as dores violentas
Que enluta o seu infeliz coração!

                                         Eylan Lins




            Numa breve passagem pelo título, para poder entender a junção dessas palavras, cheguei à seguinte conclusão: lira, como se sabe é um instrumento de cordas dedilhadas usado na antiguidade. Mas no sentido figurado, quer dizer criação poética, poesia. Já a palavra infausta significa infeliz, funesto. Isto me faz entender que Lira Infausta significa poesia infeliz. (Ou canção infeliz, para soar melhor.)
O texto em questão foi dividido em quatro estrofes de cinco versos cada. Sem rimas perfeitas e heterométricos. O que me faz entender que é um texto de forma livre. Nos três primeiros versos o poeta usa da metáfora para falar da morte. “Quando a flecha do destino / Feito luz de estrela ingrata / Varar-lhe o amargo peito [...] Ora, o que é essa flecha do destino? E essa luz de estrela ingrata? (há aqui uma inversão de valores: as estrelas não nos devem gratidão, por isto, não podem ser ingratas.) A varar o amargo peito? Se não a própria morte. Nos dois últimos versos da primeira estância, o autor se abstém de qualquer afirmação sobre uma continuação da vida após a morte: Cessará o amor imperfeito / Que habitam os tormentos? [...]
    A segunda estrofe é um diálogo entre o eu poético e a morte. Há aí a entrega do que ele tanto resguardara na estância acima. Traz nos três primeiros versos palavras como bela, sábia, sofre que se entremeiam costurando como se fosse uma teia a conceituar a morte. E nos dois últimos versos, o apelo seguido de uma comparação: Finda essa triste noite que corre / Feito largo e tenebroso rio.
Na terceira estância duas palavras me chamaram a atenção cravo e regam, coincidentemente ou não, no primeiro e último verso. Duas palavras que se locupletam que se interdependem. Mas que estão distantes no poema. O eu poético se autodenomina cravo, um cravo convalescente e, logo, o poeta invoca a rasga mortalha que anuncia com seu canto agourento a morte. O autor transforma duas palavras aparentemente boas, sublimes; em palavras obscuras, más: Dá-lhe jazigo ao moribundo cravo / [...] Que regam seus eternos pesares!
Na quarta e última estrofe do poema, por fim, o  eu poético se vê defronte de sua morte! E quando o palácio azul do céu / Abrir o fosco véu de suas portas [...] Nos três últimos versos, o poeta nos fala do arrependimento e nos entrega a palavra infeliz numa referência ao título, quem sabe.      





Nenhum comentário:

Postar um comentário