quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

EM SEARA NOVA

Estava com vontade de escrever, mas não sabia o quê. Se poema, ou alguma coisa em prosa para o regozijo momentâneo. E se fosse poema, o que seria? Haicai? Soneto? E se soneto, que tipo de soneto? Italiano ou inglês? Talvez um poema minimalista que tanto gosto? Ou uma balada que tenho muita dificuldade em compor? Devo ter uma meia dúzia que nunca mostrei a ninguém. Só sei que estava com uma vontade imensa de escrever.
Então, fui ao computador. Primeiro pensei num soneto italiano, mas só pensei sem tentar um verso sequer. Seria improvável. Depois arrisquei uma palavra de um pretenso verso em prosa para Hilda Furacão que havia falecido em terras estranhas. Sem muito sucesso, a ideia de um haicai passou longe de mim naquele momento. Um indriso talvez? Mas indrisos são bem humorados e não estou de bom humor ultimamente. Berceuse? Não tenho criança alguma para ninar. Rondel? Tenho tão poucos. Melhor não.
Que tal me aventurar na prosa? Já que sou o autor de um único conto até agora: “O homem que chovia dinheiro”, que cometi o disparate de extraviá-lo, e não sei cadê. Já revirei o mundo atrás e nada! Ou quem sabe uma crônica? Não, acho que não me atreveria, sei lá! Podem mangá de mim. Mas o que faço com essa vontade de escrever, sem saber ao certo o quê?
Espera lá! Só sei que não quero me estender muito. Já é alguma coisa. Temos uma pista sobre o texto prematuro que quer vir à tona. Sim, é curto e em prosa. O quebra-cabeça está se formando... E pode ser dessas experiências novas, como um microconto, por exemplo. 

Então vamos a ele:

Era tarde, chovia em mim... -Na manhã vindoura farei tua canção que se prepara há muito sem pressa alguma. Cristina Beatriz, a Cris Bel era toda sol naquela madruga de novembro. Gostava dela, porque ela vinha junto sem pudor! Remava firme contra a correnteza. “Mais uma dose/ é claro que eu também tô a fim/ a noite nunca tem fim” [...] Cazuza cantava no velho quarto emprestado por um amigo.
-Amanhã te celebro num poema. -Mais um... -Já são quantos mesmo? -Ah, não sei! Com esse acho que uns quinze. -Puxa! -Você merece. -Em quase todos revelo teu nome. -Sou transparente. Ao levantar-se pela manhã, Cris Bel deixou uma frase na porta da geladeira: “o amor é uma franja azul”. Foi mais um verso de um poema meu dedicado a ela.


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