domingo, 29 de janeiro de 2017

UMA JUSTA HOMENAGEM

Uma amiguinha de escola da minha sobrinha Fernanda Souza, ao me saber poeta, me mandou um poema do Fernando Pessoa escrito numa folha de caderno com sua própria letra. Gostei tanto desse gesto que resolvi agradecê-la com um poema que intitulei de Canção para Lídia. Vide:

CANÇÃO PARA LÍDIA

Obrigado minha querida,
pelo poema tão lindo!
Que adocicou minha vida,
e me deixou sorrindo!...    

É bom saber que no mundo,
há pessoas iguais a você...
Que no cerne, lá no fundo,
gostam de ler e escrever!

Que lição você me deu!
E que surpresa tão boa
receber esse poema! Logo eu,
que adoro Fernando Pessoa!

Miguel de Souza


quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

POEMA DO ABRAÇO

                                                                          Aos meus verdadeiros amigos
Quero mandar um abraço pro Zeca Tinga,
O bisneto do Seu Nava.
Ah, e um abraço pro Seu Nava também.
Pra Dolores Mafra, o meu comportado abraço.
E pro Rodolfo Lopes, um grande abraço!
E para aquele que nunca foi do contra,
O meu queridíssimo amigo Jota Lontra,
Um forte abraço!
Pro Aprígio Bittencourt Fagundes Louro,
O meu, não menos fervoroso, abraço!
E pro Gonçalves Alves,
Vai o meu abraço também.
Só quem não ganha abraço neste poema é a Gertrudes.
Porque a Gertrudes merece algo acima de um abraço!     

                                                             Miguel de Souza

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

PEQUENA ABORDAGEM SOBRE O POEMA LIRA INFAUSTA

LIRA INFAUSTA

 Quando a flecha do destino
 Feito luz de estrela ingrata
 Varar-lhe o amargo peito,
 Cessará o Amor-imperfeito
 Que habitam os tormentos?

 Oh, Lira infausta da morte
 Tu que és tão bela e sábia
 E embala o coração que sofre
 Finda essa triste noite que corre
 Feito largo e tenebroso rio.

 Dá-lhe jazigo ao moribundo cravo
 E faz o canto da rasga mortalha
-Sombrias e tristíssimas cantigas-
 Velar as mazelas adormecidas
 Que regam seus eternos pesares!

 E, quando o palácio azul do céu
 Abrir o fosco véu de suas portas
 Possam as lágrimas opulentas
 Sobrestar as dores violentas
Que enluta o seu infeliz coração!

                                         Eylan Lins




            Numa breve passagem pelo título, para poder entender a junção dessas palavras, cheguei à seguinte conclusão: lira, como se sabe é um instrumento de cordas dedilhadas usado na antiguidade. Mas no sentido figurado, quer dizer criação poética, poesia. Já a palavra infausta significa infeliz, funesto. Isto me faz entender que Lira Infausta significa poesia infeliz. (Ou canção infeliz, para soar melhor.)
O texto em questão foi dividido em quatro estrofes de cinco versos cada. Sem rimas perfeitas e heterométricos. O que me faz entender que é um texto de forma livre. Nos três primeiros versos o poeta usa da metáfora para falar da morte. “Quando a flecha do destino / Feito luz de estrela ingrata / Varar-lhe o amargo peito [...] Ora, o que é essa flecha do destino? E essa luz de estrela ingrata? (há aqui uma inversão de valores: as estrelas não nos devem gratidão, por isto, não podem ser ingratas.) A varar o amargo peito? Se não a própria morte. Nos dois últimos versos da primeira estância, o autor se abstém de qualquer afirmação sobre uma continuação da vida após a morte: Cessará o amor imperfeito / Que habitam os tormentos? [...]
    A segunda estrofe é um diálogo entre o eu poético e a morte. Há aí a entrega do que ele tanto resguardara na estância acima. Traz nos três primeiros versos palavras como bela, sábia, sofre que se entremeiam costurando como se fosse uma teia a conceituar a morte. E nos dois últimos versos, o apelo seguido de uma comparação: Finda essa triste noite que corre / Feito largo e tenebroso rio.
Na terceira estância duas palavras me chamaram a atenção cravo e regam, coincidentemente ou não, no primeiro e último verso. Duas palavras que se locupletam que se interdependem. Mas que estão distantes no poema. O eu poético se autodenomina cravo, um cravo convalescente e, logo, o poeta invoca a rasga mortalha que anuncia com seu canto agourento a morte. O autor transforma duas palavras aparentemente boas, sublimes; em palavras obscuras, más: Dá-lhe jazigo ao moribundo cravo / [...] Que regam seus eternos pesares!
Na quarta e última estrofe do poema, por fim, o  eu poético se vê defronte de sua morte! E quando o palácio azul do céu / Abrir o fosco véu de suas portas [...] Nos três últimos versos, o poeta nos fala do arrependimento e nos entrega a palavra infeliz numa referência ao título, quem sabe.      





sábado, 14 de janeiro de 2017

POESIAS MEDIÚNICAS

OBRAS PÓSTUMAS

Oh! Mundo tão cruel, tão vil que ignora
As obras póstumas dos mores vates,
Que inundaram os livros com sua arte,
Nos tempos idos que viveram outrora!

Que lição, que mistério encerra agora,
As obras desses grandes baluartes?
Nesse continuar-contínuo sem descartes,
Quando minha cabeça rememora

Os seus poemas feitos em vida...
A mesma inspiração neles contida,
Mas, dirigida para um só tema!

Essa lição que cada vate encerra,
Longe das ventanias desta terra,
Retratados com todo ardor nos poemas.

Miguel de Souza


IRMÃOS DO MUNDO

Irmãos do mundo, a vida continua...
Morrer não é chegar ao fim da estrada.
Da escura noite que julgais o nada
Uma existência nova se insinua...

Após deixar a cova fria e nua
O corpo desgastado na jornada,
Foi que minh'alma de sofrer cansada
Fitou a luz que as mágoas atenua...

Não choreis vossos mortos, não choreis,
Questionando ao Senhor e às suas leis,
Que nos ensinam a viver e a amar.

Não creiais em adeus, nem despedidas,
Pois vossas afeições, as mais queridas,
Aguardam-vos na Luz do grande Lar!...

Vinicius de Moraes (1913-1980)
 In: Jardim de Estrelas, por Carlos A, Baccelli
da Casa e Editora Espírita Pierre-Paul Didier - Votuporanga -SP.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

EM SEARA NOVA

Estava com vontade de escrever, mas não sabia o quê. Se poema, ou alguma coisa em prosa para o regozijo momentâneo. E se fosse poema, o que seria? Haicai? Soneto? E se soneto, que tipo de soneto? Italiano ou inglês? Talvez um poema minimalista que tanto gosto? Ou uma balada que tenho muita dificuldade em compor? Devo ter uma meia dúzia que nunca mostrei a ninguém. Só sei que estava com uma vontade imensa de escrever.
Então, fui ao computador. Primeiro pensei num soneto italiano, mas só pensei sem tentar um verso sequer. Seria improvável. Depois arrisquei uma palavra de um pretenso verso em prosa para Hilda Furacão que havia falecido em terras estranhas. Sem muito sucesso, a ideia de um haicai passou longe de mim naquele momento. Um indriso talvez? Mas indrisos são bem humorados e não estou de bom humor ultimamente. Berceuse? Não tenho criança alguma para ninar. Rondel? Tenho tão poucos. Melhor não.
Que tal me aventurar na prosa? Já que sou o autor de um único conto até agora: “O homem que chovia dinheiro”, que cometi o disparate de extraviá-lo, e não sei cadê. Já revirei o mundo atrás e nada! Ou quem sabe uma crônica? Não, acho que não me atreveria, sei lá! Podem mangá de mim. Mas o que faço com essa vontade de escrever, sem saber ao certo o quê?
Espera lá! Só sei que não quero me estender muito. Já é alguma coisa. Temos uma pista sobre o texto prematuro que quer vir à tona. Sim, é curto e em prosa. O quebra-cabeça está se formando... E pode ser dessas experiências novas, como um microconto, por exemplo. 

Então vamos a ele:

Era tarde, chovia em mim... -Na manhã vindoura farei tua canção que se prepara há muito sem pressa alguma. Cristina Beatriz, a Cris Bel era toda sol naquela madruga de novembro. Gostava dela, porque ela vinha junto sem pudor! Remava firme contra a correnteza. “Mais uma dose/ é claro que eu também tô a fim/ a noite nunca tem fim” [...] Cazuza cantava no velho quarto emprestado por um amigo.
-Amanhã te celebro num poema. -Mais um... -Já são quantos mesmo? -Ah, não sei! Com esse acho que uns quinze. -Puxa! -Você merece. -Em quase todos revelo teu nome. -Sou transparente. Ao levantar-se pela manhã, Cris Bel deixou uma frase na porta da geladeira: “o amor é uma franja azul”. Foi mais um verso de um poema meu dedicado a ela.


sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

SOB ENCOMENDA

SAMUEL, UM BROTHER DE SEMPRE.

Toda vez que encontro com o Samuel o papo flui que esquecemos até da hora. Ele trabalha como vigia num material de construção aqui perto de casa. Goleiro nas horas vagas, um artista plástico de mão cheia é o cara.
Certa ocasião ele me encomendou um poema para uma determinada garota. Disse-me algumas características dela e perguntou se seria possível sua composição. Respondi a ele o que sempre digo quando me pedem um poema. Que não daria certeza! Mas que iria tentar, enfim... Madurei as ideias e aconteceu o poema. Eu disse:

Tem um “quê” de mistério
Incrível que me fascina!
Não traz o rosto sério
Nesse corpo de menina

Talvez por ser álacre
E nem um pouco soturna
A vida não abriu o lacre
Das borrascas noturnas

Ainda! Por isso esse ar
De tanta felicidade! Essa
Imensa sede de amar! E
Forte a personalidade!

Não sei o que o Samuel fez com esse poema. Só sei que gostei do poema que fiz para uma musa desconhecida, embora seja a pretendente do meu amigo. Mas ela não precisa saber, vai!