EXCEÇÃO: BERNANOS, QUE SE DIZIA ESCRITOR DE SALA DE JANTAR
Escrever é estar no extremo
de si mesmo, e quem está
assim se exercendo nessa
nudez, a mais nua que há,
tem pudor de que outros vejam
o que deve haver de esgar,
de tiques, de gestos falhos,
de pouco espetacular
na torta visão de uma alma
no pleno estertor de criar.
(Mas no pudor do escritor
o mais curioso está
em que o pudor de fazer
é impudor de publicar:
com o feito, o pudor se faz
se exibir, se demonstrar,
mesmo nos que não fazendo,
profissão de confessar,
não fazem para se expor
mas dar a ver o que há.)
João Cabral de Melo Neto
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