quinta-feira, 4 de junho de 2015

05 DE JUNHO, DIA DO MEIO AMBIENTE

          Ao chegar por aqui no final da década de 70, Manaus era uma cidade sem a modernidade dos tempos atuais, é bem verdade. Mas chamava a atenção pela peculiaridade de estar à margem esquerda de um rio, entrecortada por igarapés de águas cristalinas, onde aos domingos funcionava como área de lazer, lembro-me bem disso.... Levávamos rede de vôlei, bola de futebol, pulávamos nos igarapés, e pasmem agora os que não vivenciaram esta fase tão boa, até pescávamos em suas águas. Recordo-me certa vez em que cheguei a pegar um tracajá com minhas próprias mãos!
          Mas infelizmente, no correr do tempo, pude presenciar a degradação desta cidade. Aos poucos suas águas foram poluindo-se, com a não educação de um povo que em menos de duas décadas, transformou isto aqui nesse pandemônio que é a Manaus de hoje. O fato é que os igarapés feneceram. Suas águas podres têm o mau cheiro provindo da ignorância de seu povo. E não há, pelo menos, não ouvi falar ainda, de algum projeto do governo, prefeito, ou seja lá o que diabo for, pra salvar nossos igarapés.
          Ao caminhar por esta cidade, beirando o igarapé do 40, observando suas águas pútridas e recordando-me dos tempos ditosos relatado acima, escrevi "Igarapés", uma realidade duríssima sobre o que fizeram com esta Manaus que poucas pessoas amam.

IGARAPÉS

Águas dos igarapés sujas.
Brancas, limpas, antes eram
Tua frieza benfazeja, que
Meus olhos, hoje, não veneram.

Podres águas dos igarapés,
Antes, cristalinas
Onde molhávamos os pés...
Hoje, pútrida visão de retinas.

Dos igarapés, fétidas águas,
Ontem límpidas, claras,
Em que não tínhamos mágoa
Daquela imagem, hoje, rara.

          Como o menor se projeta sempre no maior, essa é a lei da natureza. Os igarapés deságuam no rio. É aí que está o perigo! Não façamos como os nossos irmãos sulistas. Vamos cuidar bem do nosso "Negro". Pensando nisso escrevi "Ao Negro", uma advertência àqueles que mataram os igarapés, para que não façam o mesmo com o nosso rio.

AO NEGRO

Corre tuas águas, Negro
Corre tuas águas morenas
E refletes no teu espelho
Da garça, as brancas penas.

Corre tuas águas, Negro
Corre tuas águas serenas
E foges da poluição
Do homem que te condena.

Corre tuas águas, Negro
Corre tuas águas amenas
E te escondes das ambições
Vis e sempre pequenas.

          Mais uma vez senhores, a poesia cumpre seu papel de dizer, de apontar, de não se calar diante dos fatos aberratórios que tanto aflige, que tanto incomoda. Mas como já disse por aqui, torno a dizer de novo aos ouvidos dos que não escutaram: Ela (a poesia) não resolve nada na vida. Apenas tem a missão do relato.
         

Nenhum comentário:

Postar um comentário