sábado, 27 de maio de 2017
INVASÃO (l)
O Super-Homem pousa no meu solo;
Homem Aranha joga sua teia;
e Capitão Caverna, volta e meia,
larga um grito a tremer o subsolo.
Scooby Doo, com medo, pede colo;
e Salsicha, com fome, pede ceia;
Zé Colméia e Mobi Dicky, a baleia,
fazem um piquenique com Apollo.
Aparece do nada o Gargamel,
na companhia inseparável de Cruel,
pra pegar os Smurfes em armadilha.
E Dick Vigarista leva um tombo,
na corrida pra capturar o pombo,
seguindo, desta forma, a mesma trilha!
Miguel de Souza
domingo, 21 de maio de 2017
PERSONAGENS DA INFÂNCIA
João Bicudo, citado no poema em prosa nº 8, foi um personagem
da minha infância que se tornou um “bebum”. A ele dediquei este soneto:
JOÃO BICUDO
Ainda o vejo sem os tropeços da vida,
a
Dedilhar a desafinada viola;
Ainda o vejo a me ver jogando bola,
Resguardado p’la infância querida!
Mas o tempo tirou sua nobre lida,
Foi, na sua vida, essa dura escola;
Em doses de cachaça, hoje, se atola,
E adormece ao relento... a esquecida
Vida do nobre amigo João Bicudo.
Sempre contente, nunca o vi sisudo.
A me chamar também de Miguelzinho...
Agora o vejo no correr dos anos,
Sofrendo, dessa vida, os maiores
danos,
“Bodado” nas calçadas, sempre
sozinho!
Miguel de Souza
domingo, 14 de maio de 2017
ÀS VOLTAS COM UM POEMA
Hoje é o dia das mães. Isso me remete a um poema que faz parte da minha vida: "Para Sempre", de Carlos Drummond de Andrade. O primeiro contato que tive com esse poema foi no âmbito escolar. Tocou-me de súbito. Com o correr do tempo fui me esmerando nessa coisa de gostar de poemas, e procurando entender cada vez mais esse gênero literário. E esse poema foi ficando cada vez mais genial na minha ótica.
Costumo dizer que: "se Drummond não fizesse mais nada depois de tê-lo feito, mesmo assim seria o grande poeta que o foi." Durante um determinado tempo desisti de abordar esse tema, por causa desse texto. Achava que depois de "Para Sempre", tudo o que se dissese, seria bobagem. Até que, numa conversa com a poetisa Ana Zélia, fui convencido a encarar novamente o tema. Foi aí que surgiu o meu soneto "Você é Incrível", onde agradeço à minha mãe pela dor do parto. E tantos outros poemas que compus às mães.
Segundo minha maneira de lidar com o poema, o poeta ao começar seu texto, não pode, de maneira alguma, perder em qualidade no verso seguinte. É como se os versos competissem para o êxito do texto. Um bom poema vai sempre ganhando em qualidade até o seu desfecho. É aí que está a genialidade desse texto de Carlos Drummond de Andrade. Ele começa muito bem e consegue manter essa qualidade no decorrer do texto até o seu desfecho. Isso é para poucos. Outro fato que me chamou atenção foi o questionamento, pois Drummond questiona Deus do começo ao fim do texto sobre a morte. (a existência.)
PARA SEMPRE
Por que Deus permite
Que as Mães vão-se embora?
Mãe não tem limite
É tempo sem hora
Luz que não apaga
Quando sopra o vento
E chuva desaba
Veludo escondido
Na pele enrugada
Água pura, ar puro
Puro pensamento
Morrer acontece
Com o que é breve e passa
Sem deixar vestígio
Mãe, na sua graça
É eternidade
Por que Deus se lembra
-Mistério profundo-
De tirá-la um dia?
Fosse eu rei do mundo
Baixava uma lei:
Mãe não morre nunca
Mãe ficará sempre
junto de seu filho
E ele, velho embora
Será pequenino
Feito grão de milho.
Carlos Drummond de Andrade
Costumo dizer que: "se Drummond não fizesse mais nada depois de tê-lo feito, mesmo assim seria o grande poeta que o foi." Durante um determinado tempo desisti de abordar esse tema, por causa desse texto. Achava que depois de "Para Sempre", tudo o que se dissese, seria bobagem. Até que, numa conversa com a poetisa Ana Zélia, fui convencido a encarar novamente o tema. Foi aí que surgiu o meu soneto "Você é Incrível", onde agradeço à minha mãe pela dor do parto. E tantos outros poemas que compus às mães.
Segundo minha maneira de lidar com o poema, o poeta ao começar seu texto, não pode, de maneira alguma, perder em qualidade no verso seguinte. É como se os versos competissem para o êxito do texto. Um bom poema vai sempre ganhando em qualidade até o seu desfecho. É aí que está a genialidade desse texto de Carlos Drummond de Andrade. Ele começa muito bem e consegue manter essa qualidade no decorrer do texto até o seu desfecho. Isso é para poucos. Outro fato que me chamou atenção foi o questionamento, pois Drummond questiona Deus do começo ao fim do texto sobre a morte. (a existência.)
PARA SEMPRE
Por que Deus permite
Que as Mães vão-se embora?
Mãe não tem limite
É tempo sem hora
Luz que não apaga
Quando sopra o vento
E chuva desaba
Veludo escondido
Na pele enrugada
Água pura, ar puro
Puro pensamento
Morrer acontece
Com o que é breve e passa
Sem deixar vestígio
Mãe, na sua graça
É eternidade
Por que Deus se lembra
-Mistério profundo-
De tirá-la um dia?
Fosse eu rei do mundo
Baixava uma lei:
Mãe não morre nunca
Mãe ficará sempre
junto de seu filho
E ele, velho embora
Será pequenino
Feito grão de milho.
Carlos Drummond de Andrade
domingo, 7 de maio de 2017
HAICAI
O haicaista deve estar sempre atento às coisas da natureza.
Pois a qualquer momento poderá ser brindado com esta arte criada pelos
japoneses, mas não deve ir de encontro a ele, como se percebe em alguns. O
haicai acontece naturalmente e deve ser captado pelo haijin no momento exato.
Por exemplo: certa feita vinha eu de moto num lugar onde havia muitas
mangueiras e vislumbrei a queda de uma manga a se espatifar no chão, de súbito
o haicai se apresentou a mim:
Dura recepção:
A manga madura sangra
No
asfalto do chão.
Outro dia presenciei uma cena que estava adormecida dentro de
mim. A libélula se contorce e fica igualmente a um “c”, para molhar a sua
cauda. Quantas vezes fui testemunha desse episódio no meu tempo de guri, e
tinha me esquecido de tal alumbramento. Ao perguntar sobre o porquê daquele
movimento, responderam-me que ela estava lavando a bunda. Pronto, o haicai
estava feito.
Libélula afunda
A cauda n’água! E o homem malda:
-Tá lavando a bunda!
N’outra ocasião, assistindo a um
documentário, mais uma cena adormecida despertou em mim um haicai. O galho da
árvore tremendo após o voo do pássaro. Como um garoto interiorano, foram muitas
as vezes que presenciei tal cena. Mais uma vez sou brindado pela natureza com mais um haicai.
Galho treme após
Galho treme após
O vôo do
silente pássaro.
Momento sublime!
Estou contando essas coisas porque
esta semana fui testemunha de mais uma cena que me sugeriu um haicai. Assisti a
queda de um cupuaçu e fiquei ali, contemplando o balançar do galho. Algo ao
alcance de qualquer ser humano, mas só o poeta ou o haijin, que olha pra tudo
com um olhar diferente, pode captar disso tudo poesia ou haicai.
Balançar de galho:
No vão entre árvore e chão,
Cupu sem atalho.
Miguel de Souza
Assinar:
Postagens (Atom)