sábado, 4 de março de 2017

DOIS SONETOS PARECIDOS

No soneto XXI da Rua dos Cataventos, Mário Quintana dedica um soneto aos seus amigos mortos. Um tanto trágico, não fosse a beleza com que o poeta encara o tema. Quintana tem muito disso, falar das coisas trágicas de uma forma tão doce que encanta a todos.
XXI
                                                Para os amigos mortos

Gadêa... Pelichek... Sebastião.
Lobo Alvim... Ah, meus velhos camaradas!
Aonde foram vocês? Onde é que estão
Aquelas nossas ideais noitadas?

Fiquei sozinho... Mas não creio, não,
Estejam nossas almas separadas!
Às vezes sinto aqui, nestas calçadas,
O passo amigo de vocês... E então

Não me constranjo de sentir-me alegre,
De amar a vida assim, por mais que ela nos minta...
E no seu romantismo vagabundo

Eu sei que nestes céus de Porto Alegre
É para nós que inda S. Pedro pinta
Os mais belos crepúsculos do mundo!...

Mário Quintana
In: Rua dos Cataventos
P. 39

Em Caminhos da Alma, Almir Diniz dedica um soneto aos seus amigos boêmios da cidade. Em tom nostálgico, o soneto de Diniz não chega a ser tão trágico como o de Quintana. Mas achei deveras parecido ambos por se tratar do mesmo tema, a saudade.  

BUSCA
           Aos boêmios da Cidade, representados por Iran Caminha, J. Corrêa Lima, Chico Veiga.

Onde andam tantas lindas madrugadas,
Cheias de amor, de cores, de ternuras?
Tantas manhãs de luz e tantas juras,
Tantas noites febris... e as luaradas?

Onde andarão os velhos camaradas
Partícipes fiéis das aventuras
Nos botequins da vida, das loucuras...
Dos serões, violões, e das rodadas?

Rebusco no escaninho da memória
Os elos esquecidos dessa história
Vivida entre os boêmios da Cidade...

E só o que vem são sons de beijos,
De flautas, cavaquinhos, realejos,  
De copos, de canções... e de saudade!

Almir Diniz
In: Caminhos da Alma
P: 49

  


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