No soneto XXI da Rua
dos Cataventos, Mário Quintana dedica um soneto aos seus amigos mortos. Um
tanto trágico, não fosse a beleza com que o poeta encara o tema. Quintana tem
muito disso, falar das coisas trágicas de uma forma tão doce que encanta a
todos.
XXI
Para os amigos mortos
Gadêa... Pelichek... Sebastião.
Lobo Alvim... Ah, meus velhos camaradas!
Aonde foram vocês? Onde é que estão
Aquelas nossas ideais noitadas?
Fiquei sozinho... Mas não creio, não,
Estejam nossas almas separadas!
Às vezes sinto aqui, nestas calçadas,
O passo amigo de vocês... E então
Não me constranjo de sentir-me alegre,
De amar a vida assim, por mais que ela nos minta...
E no seu romantismo vagabundo
Eu sei que nestes céus de Porto Alegre
É para nós que inda S. Pedro pinta
Os mais belos crepúsculos do mundo!...
Mário Quintana
In: Rua dos Cataventos
P. 39
Em Caminhos da Alma,
Almir Diniz dedica um soneto aos seus amigos boêmios da cidade. Em tom nostálgico,
o soneto de Diniz não chega a ser tão trágico como o de Quintana. Mas achei
deveras parecido ambos por se tratar do mesmo tema, a saudade.
BUSCA
Aos boêmios da Cidade, representados por
Iran Caminha, J. Corrêa Lima, Chico Veiga.
Onde andam tantas lindas madrugadas,
Cheias de amor, de cores, de ternuras?
Tantas manhãs de luz e tantas juras,
Tantas noites febris... e as luaradas?
Onde andarão os velhos camaradas
Partícipes fiéis das aventuras
Nos botequins da vida, das loucuras...
Dos serões, violões, e das rodadas?
Rebusco no escaninho da memória
Os elos esquecidos dessa história
Vivida entre os boêmios da Cidade...
E só o que vem são sons de beijos,
De flautas, cavaquinhos, realejos,
De copos, de canções... e de saudade!
Almir Diniz
In: Caminhos da Alma
P: 49
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