O meu histórico escolar daria uma novela. Foram tantas idas e voltas que até perdi a conta. E ainda não foi dado por concluído. Mas a história que vou narrar é a história de um poema que não aconteceu. Ou melhor, que não teve seu objetivo para o qual ele foi composto.
Numa dessas voltas, estava concluindo o antigo primeiro grau, o que hoje seria o ensino fundamental. Ficou acertada a composição de um poema para ser lido por mim no dia da formatura. Pois bem, o poema aconteceu. Primeiramente voltar o pensamento para o tema, começava aí o introito, o nascedouro. Depois a matéria da composição: falar sobre o quê? Era preciso escolher algo, alguma coisa, palmilhar um caminho onde eu pudesse homenagear a todos. Nada fácil a missão do poeta.
Foi quando percebi que a borracha seria esse caminho, por ser ela tão ativa. Vocês já perceberam que ela some do nada e é preciso procurá-la! E a sua função de apagar e ir sendo consumida por isto? Enfim, estava aí um prato cheio para a composição do poema. E assim aconteceu.
Porém, tudo certinho. Poema composto, dia de festa, guloseimas, salgados, e... Cadê o Miguel com o bendito poema para homenagear a classe? Todos se perguntavam. E nada! O Miguel não apareceu. Nem Miguel, nem poema. Adoeci logo no dia da formatura. Peguei dengue e infelizmente não pude homenagear os meus colegas de classe com a leitura do poema.
O poema ficou engavetado esse tempo todo. Talvez por ter sido encomendado, não sei. Acho sempre que os poemas encomendados não são meus, e quando pretendo usá-los, preciso pedir permissão de quem o encomendou. Mas como estamos em agosto, e no próximo dia 11, é o dia do estudante, resolvi fazer esta homenagem, não só àqueles alunos daquela extinta classe. Mas a todos
os alunos do Brasil. Parabéns!
A BORRACHA
Borracha que apaga
o erro da escrita
Que apaga qualquer
palavra: feia ou bonita.
E com isto te desfaz!
É triste tua sorte
o teu jeito de morte
desfaz o que se faz.
Se eu fosse tu, borracha...
Apagaria a morte
apagaria a guerra
apagaria tudo de ruim
que minha vista encerra.
Apagaria o ódio
apagaria a fome
apagaria tudo de mau
que minha vista consome.
Se eu fosse tu, borracha...
Só não apagaria a vida
eu não apagaria a paz
e não apagaria tudo de bom
que minha vista apraz.
Só não apagaria o amor
eu não apagaria a bonança
e não apagaria o bem
o riso das crianças.
Mas és imparcial:
assim como apagas o bem
apagas também o mal.
Queria que tu, borracha
nesta minha vida
apagasse os meus erros
apagasse minhas falhas
apagasse meus dias difíceis
e tudo quanto me atrapalha.
Apagasse minhas raivas
apagasse meus transtornos
apagasse meus tédios
tudo isto sem retorno.
Queria que tu, borracha
nesta minha vida
só não apagasse os acertos
só não apagasse as virtudes
só não apagasse os dias bons
e as melhores atitudes.
Só não apagasse a felicidade
só não apagasse as harmonias
só não apagasse as opções
e nunca, a poesia.
Mas tu, borracha
além de tanto apagar
ainda encontras tempo
para brincar!
-Brincas de esconde-esconde.
E quem te procura:
-Mas onde estás?
-Onde?
Uma coisa só te peço
neste meu lamento:
Não apagues, por favor
o meu feliz momento!
Miguel de Souza
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