O sol descamba nímio na costura
irregular talhada por serras...
Para trazer calor à imensa terra,
e à vida, essa ínfima postura!
Que ao perpassar, o tempo soterra,
para o véu do atro -(in)dócil candura!-
Com o tempo mudável, que dura
trinta e um sóis que a existência encerra!
Teus rijos dias trazem as mudanças,
no decorrer irrefreável do ano,
transformando quimeras em desgostos...
E, coitado daquele que se lança,
no viver duro do cotidiano, a
modificar a sina de agosto!
Miguel de Souza
sexta-feira, 31 de julho de 2015
sexta-feira, 24 de julho de 2015
HOMENAGEM
Aniversaria neste 25 de julho, a minha querida amiga Gracinete Felinto, uma das poetisas mais talentosas da minha geração. A ela rendo esta pequena homenagem. Parabéns.
Gracinete Felinto
Sonetilho
A pose ereta
olhos cerrados
quando declama, a
cara poeta!
Mãos que flutuam
pousam no espaço
versos que atuam
nesse regaço...
Voz maviosa
tocante à alma
âmbar, a tez...
-Maravilhosa!-
E a ela palmas
mais uma vez!
Miguel de Souza
Gracinete Felinto
Sonetilho
A pose ereta
olhos cerrados
quando declama, a
cara poeta!
Mãos que flutuam
pousam no espaço
versos que atuam
nesse regaço...
Voz maviosa
tocante à alma
âmbar, a tez...
-Maravilhosa!-
E a ela palmas
mais uma vez!
Miguel de Souza
sexta-feira, 17 de julho de 2015
RIMA FALSA
Existem algumas diferenças do texto escrito no papel e o texto lido ou declamado, como queiram. Às vezes a rima pode-se dizer que é falsa, porque ela está lá! O poeta rimou seu soneto perfeitamente. Mas ao dizer o poema, se o declamador obedecer à pontuação, a rima desaparece. Por isso (grifo meu) digo que se trata de rima falsa. É o que podemos chamar de cavalgamento: o seguimento da fala no final do verso, fazendo com que a rima desapareça.
Vejamos o soneto "Versos de orgulho" de Florbela Espanca:
"O mundo quer-me mal porque ninguém
tem asas como eu tenho! Porque Deus
me fez nascer princesa entre plebeus
numa torre de orgulho e de desdém.
Porque o meu reino fica para além...
Porque trago no olhar os vastos céus
e os oiros e clarões são todos meus!
Porque eu sou Eu e porque eu sou ninguém!
O mundo? O que é o mundo, ó meu amor?
- O jardim dos meus versos todo em flor...
A seara dos teus beijos, pão bendito...
Meus êxtases, meus sonhos, meus cansaços...
- São os teus braços dentro dos meus braços,
Via Láctea fechando o infinito."
Florbela Espanca
In: Charneca em flor (1930)
P.: 65
Logo no primeiro verso da primeira estrofe acontece o que chamo de rima falsa, pois o seguimento do primeiro verso para o verso seguinte, isto é, sem pausa, faz com que a rima "ninguém" desapareça. A pausa ao pontuador obediente acontece na palavra "tenho" por conta da exclamação. Na fala, portanto, não existe a rima.
Vejamos o soneto "Versos de orgulho" de Florbela Espanca:
"O mundo quer-me mal porque ninguém
tem asas como eu tenho! Porque Deus
me fez nascer princesa entre plebeus
numa torre de orgulho e de desdém.
Porque o meu reino fica para além...
Porque trago no olhar os vastos céus
e os oiros e clarões são todos meus!
Porque eu sou Eu e porque eu sou ninguém!
O mundo? O que é o mundo, ó meu amor?
- O jardim dos meus versos todo em flor...
A seara dos teus beijos, pão bendito...
Meus êxtases, meus sonhos, meus cansaços...
- São os teus braços dentro dos meus braços,
Via Láctea fechando o infinito."
Florbela Espanca
In: Charneca em flor (1930)
P.: 65
Logo no primeiro verso da primeira estrofe acontece o que chamo de rima falsa, pois o seguimento do primeiro verso para o verso seguinte, isto é, sem pausa, faz com que a rima "ninguém" desapareça. A pausa ao pontuador obediente acontece na palavra "tenho" por conta da exclamação. Na fala, portanto, não existe a rima.
quinta-feira, 9 de julho de 2015
NO QUE VOCÊ ESTÁ PENSANDO?
Resposta em forma de poema.
Sei lá!
Talvez no vento que bate no rio,
no cicio que vem das espumas;
ou na vida a passar sem pressa,
e confessa a cor dessas brumas.
Sei lá!
Talvez na brisa que sopra nas folhas,
ou na bolha que se desfaz frágil!
Ou no sol que empresta seu lume,
com ciúme do tempo tão ágil!
Sei lá!
Talvez no amor a florir os caminhos,
ou carinhos no vão desse tempo;
ou no ódio, antônimo do bem,
que não tem regaço no templo.
Sei lá!
Talvez no sol nesse vasto ocaso,
por acaso no dia que se vai...
Ou na lua a surgir tão bela,
aquarela num átimo haicai.
Sei lá...
Miguel de Souza
Sei lá!
Talvez no vento que bate no rio,
no cicio que vem das espumas;
ou na vida a passar sem pressa,
e confessa a cor dessas brumas.
Sei lá!
Talvez na brisa que sopra nas folhas,
ou na bolha que se desfaz frágil!
Ou no sol que empresta seu lume,
com ciúme do tempo tão ágil!
Sei lá!
Talvez no amor a florir os caminhos,
ou carinhos no vão desse tempo;
ou no ódio, antônimo do bem,
que não tem regaço no templo.
Sei lá!
Talvez no sol nesse vasto ocaso,
por acaso no dia que se vai...
Ou na lua a surgir tão bela,
aquarela num átimo haicai.
Sei lá...
Miguel de Souza
quinta-feira, 2 de julho de 2015
A POESIA PODE SALVAR VIDAS?!
Certa vez, ao responder uma pergunta de uma locutora num programa de rádio, falei que o poeta tem que ser salvo pela poesia para tornar-se grande, e que tem que ter gratidão a ela. E ao escrever, escrever com a consciência de que o seu trabalho pode sim, salvar vidas. Quantas vezes fui salvo pela poesia! Quantas vezes, na solidão do meu quarto, me deparei com algum texto de algum poeta distante, que não sabe nem se eu existo, mas salvou a minha vida.
Estou contando isso pelo fato ocorrido na noite de ontem no Largo de São Sebastião, Eu, Nelson Castro e Gracinete Felinto, estávamos no "Tacacá da Bossa", e encontramos por lá Bruna Marinho, uma artista plástica super talentosa. Conversa vai e conversa vem, lá pelas tantas, Bruna falou da nossa importância na vida dela, que ao se sentir sozinha tinha na leitura a companhia ideal...
E sempre lia a nossa antologia, a "Quinta Estação". E a leitura lhe devolvia o prazer pela vida.
Eu que tantas vezes fui salvo, agora juntamente com meus companheiros de geração, passo através da poesia a salvar vidas também. Existem alguns sonhos que não sei se realizarei, como deixar algo que vire um dito popular, do tipo: "a noite é uma criança" ou "a pedra no meio do caminho", alguém que coloque música num poema meu, enfim, são sonhos, apenas sonhos.
Outro dia, Bruno Pantoja um dos mais novos integrantes do CLAM, me afirmou que numa dessas minhas apresentações por aí afora, fui tão contundente que o deixei sem fôlego na plateia. Achei um exagero da parte dele. Mas sei que estava falando a verdade, pois o Bruno não é de lorota.
Estou contando isso pelo fato ocorrido na noite de ontem no Largo de São Sebastião, Eu, Nelson Castro e Gracinete Felinto, estávamos no "Tacacá da Bossa", e encontramos por lá Bruna Marinho, uma artista plástica super talentosa. Conversa vai e conversa vem, lá pelas tantas, Bruna falou da nossa importância na vida dela, que ao se sentir sozinha tinha na leitura a companhia ideal...
E sempre lia a nossa antologia, a "Quinta Estação". E a leitura lhe devolvia o prazer pela vida.
Eu que tantas vezes fui salvo, agora juntamente com meus companheiros de geração, passo através da poesia a salvar vidas também. Existem alguns sonhos que não sei se realizarei, como deixar algo que vire um dito popular, do tipo: "a noite é uma criança" ou "a pedra no meio do caminho", alguém que coloque música num poema meu, enfim, são sonhos, apenas sonhos.
Outro dia, Bruno Pantoja um dos mais novos integrantes do CLAM, me afirmou que numa dessas minhas apresentações por aí afora, fui tão contundente que o deixei sem fôlego na plateia. Achei um exagero da parte dele. Mas sei que estava falando a verdade, pois o Bruno não é de lorota.
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