terça-feira, 10 de março de 2015

CURIOSIDADE LITERÁRIA

Manuel Bandeira convidado a fazer parte do corpo de jurados num Festival de Violeiros realizado no Rio de Janeiro, ficou encantado com os poetas repentistas. Assis Ângelo, autor do livro "A presença dos cordelistas e cantadores repentistas em São Paulo", conta que Manuel Bandeira escreveu o poema "Saudações aos cantadores", depois de ouvi-los durante esse festival. O poema foi publicado no Jornal do Brasil em 11 de dezembro de 1959 e, posteriormente, no livro "Estrela da vida inteira", de 1965. "O que me chamou atenção foi o fato do poeta já consagrado, lá pelas tantas do poema escrever: "saí dali convencido/QUE NÃO SOU POETA NÃO (...) Putz!!!"

SAUDAÇÕES AOS CANTADORES


Anteotem, minha gente,
fui juiz numa função
de violeiros do Nordeste
cantando em competição,
vi cantar Dimas Batista,
Otacílio, seu irmão,
ouvi um tal de Ferreira,
ouvi um tal de João.
Um a quem faltava um braço
tocava cuma só mão;
mas como ele mesmo disse,
cantando com perfeição,
para cantar afinado,
para cantar com paixão,
a força não está no braço,
ela está no coração.
Ou puxando uma sextilha,
quer a rima fosse em inha
quer a rima fosse em ão,
caíam rimas do céu,
saltavam rimas do chão!
Tudo muito bem medido
no galope do sertão.
A Eneida estava boba,
o Cavalcante bobão,
o Lúcio, o Renato Almeida,
enfim toda comissão.
Saí dali convencido
que não sou poeta não;
que poeta é quem inventa
em boa improvisação
como faz Dimas Batista
e Otacílio seu irmão;
como faz qualquer violeiro,
bom cantador do sertão,
a todos os quais humilde
mando minha saudação.

Manuel Bandeira

  

Nenhum comentário:

Postar um comentário