SAUDAÇÕES AOS CANTADORES
Anteotem, minha gente,
fui juiz numa função
de violeiros do Nordeste
cantando em competição,
vi cantar Dimas Batista,
Otacílio, seu irmão,
ouvi um tal de Ferreira,
ouvi um tal de João.
Um a quem faltava um braço
tocava cuma só mão;
mas como ele mesmo disse,
cantando com perfeição,
para cantar afinado,
para cantar com paixão,
a força não está no braço,
ela está no coração.
Ou puxando uma sextilha,
quer a rima fosse em inha
quer a rima fosse em ão,
caíam rimas do céu,
saltavam rimas do chão!
Tudo muito bem medido
no galope do sertão.
A Eneida estava boba,
o Cavalcante bobão,
o Lúcio, o Renato Almeida,
enfim toda comissão.
Saí dali convencido
que não sou poeta não;
que poeta é quem inventa
em boa improvisação
como faz Dimas Batista
e Otacílio seu irmão;
como faz qualquer violeiro,
bom cantador do sertão,
a todos os quais humilde
mando minha saudação.
Manuel Bandeira
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