A MÚSICA DO CARAPANÃ
À noite o sono teso me incorpora.
E lá vem ele, num voejo ágil,
com sua música irritante, frágil,
a me aborrecer todo nessa hora.
A melodia, a mesma que decora,
como se fosse espécie de plágio...
Não há nela nenhum apanágio,
nenhuma diferença sonora.
Uso das mãos..., não para bater palmas,
e em vez de... para tentar esmagá-lo,
por ter tirado há muito minha calma!
E quando, enfim, consigo surpreendê-lo,
na tentativa de tentar matá-lo,
olho meu sangue sem poder bebê-lo!
CARAPANÃ SEM NOÇÃO
Não é noite nem nada, e lá vem ele,
com o seu canto tanto quanto rude
aos meus ouvidos, pena que não pude
esmagá-lo por ter picado a minha pele,
e ter sugado assim meu sangue..., aquele
reles, vil e deveras amiúde!...
Com a cantata como quem ilude
ao manso, estapafúrdio ofício dele!
E lá vem, pela mansidão do quarto,
a extrair o meu sangue igual a um parto,
para a satisfação com afã...
Quando sentir a leva picada,
preparo logo uma fatal palmada,
mas escapou de novo o carapanã!
Miguel de Souza
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