Os ipês estão todos floridos, lindos ornando a floresta, a cidade. Em setembro adentrando outubro, pelo menos em Manaus, eles dão o ar de sua graça, e infestam as nossas retinas com suas cores belíssimas. Parabéns a quem tem a sensibilidade de perceber sua presença. O poeta que tem o dom de transformar a natureza em versos não ficou de fora dessa, e Carlos Drummond de Andrade, preparou uma justa homenagem a esse tempo... Tempo de ipê.
TEMPO DE IPÊ
Não quero saber de IPM, quero saber de IP.
O M que se acrescentar não será de militar,
Será de Maravilha.
Estou abençoando a terra pela alegria do ipê.
Mesmo roxo, o ipê me transporta ao círculo da alegria,
onde encontro, dadivoso, o ipê-amarelo.
Este me dá as boas-vindas e apresenta:
-Aqui é o ipê-rosa.
Mais adiante, seu irmão, o ipê-branco.
Entre os ipês de agosto que deveriam ser de outubro
Mas tiveram pena de nós e se anteciparam
Para que o Rio não sofresse de desamor, tumulto, inflação, mortes.
Sou um homem dissolvido na natureza.
Estou florescendo em todos os ipês.
Estou bêbado de cores de ipê, estou alcançando
A mais alta copa do mais alto ipê do Corcovado.
Não me façam voltar ao chão,
Não me chamem, não me telefonem, não me dêem dinheiro,
Quero viver em bráctea, racemo, panícula, umbela.
Este é tempo de ipê. Tempo de glória.
Carlos Drummond de Andrade.
In: Amar se Aprende Amando.
HAICAIS
É tempo de ipê:
Que belo, o ipê-amarelo
contemplo do apê.
Aquele é o ipê-rosa Que infesta toda a floresta
cena dadivosa.
É a vez do ipê-roxo
Que encena uma bela cena
Pesar do tom coxo.
Agora o ipê-branco
Invade assim a cidade
Com tom lindo, franco.
Miguel de Souza
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