domingo, 3 de maio de 2020

ENTRE TEXTOS

Velhas Árvores

Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores novas, mais amigas:
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas...

O homem, a fera, e o inseto, à sombra delas
Vivem, livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.

Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo! envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem:

Na glória da alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem.

Olavo Bilac

Papel

                                      Para Olavo Bilac

Sê como aquelas árvores antigas,
impolutas à beira do caminho,
recebendo do vento tal carinho,
e oferecendo sombra a quem se abriga.

Ou companhia ao ser sempre sozinho,
a transitar por entre elas, amigas,
as árvores tão boas quanto antigas,
a esparzirem caridade p'lo caminho.

Sê como elas, benéficas ao mundo,
ao saciar a fome do moribundo.
A reinar sobre a terra e sob o céu!

E mesmo empós, da serra, a ouvir-lhe o ronco,
a podar-lhe rés a terra pelo tronco,
mesmo empós, ela cumpre o seu papel!

Miguel de Souza
In:. Poemais
P:.25

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