sábado, 30 de setembro de 2017

SOBRE POEMAS



Outro dia, encontrei um poema solto dentro do livro de um poeta espanhol que havia conhecido em trânsito por Manaus. Sinceramente não me lembro de quem, e nem como esse poema foi parar lá! No final do texto, deparei-me com uma assinatura, creio eu, do autor daquela obra. Mesmo assim, não me ocorreu a lembrança de ninguém.
Costumo guardar todos os poemas que recebo de amigos poetas. Tenho vários... Mas não conheço nenhum Noel Yvel. Poderá ser um pseudônimo talvez, não sei! Um dia, quem sabe, quando estiver com a cuca fresca, eu me recorde desse nobre poeta e, depois de uma boa gargalhada, peça desculpas a ele, pelo mico do esquecimento.
Ou quem sabe, você meu “anônimo amigo” está lendo este texto, nesse exato momento, e se divertindo com essa situação. Certa feita, numa conversa com uma amiga, proferi a seguinte frase: “não vejo o poeta na poesia, e sim, a poesia no poeta.” Isto deve consolar-te um pouco, acho. O fato é que nunca mais me esqueci desta frase que soou como um pensamento. Assim como acho que quem deve aparecer é a minha poesia, e não eu.
Achei deveras interessante teu poema meu caro. É emblemático. Enigmático. Filosófico. Espiritual. Fala de amizade. Parece realmente me conhecer profundamente, se é que alguém conhece alguém profundamente. E no final se despede com um adeus. É lindo e triste!
Não sou um sujeito curioso. Mas gostaria realmente de saber quem seria o poeta de tão maravilhoso poema que estava ali, dentro daquele livro, esperando uma mão que o recolhesse para a salutar leitura. Lembrou-me um soneto que fiz outro dia: “Apresentação”, pelas circunstâncias que os envolve.


ANÔNIMO AMIGO

Irmão,
sou teu anônimo amigo, laboras como eu
todo dia de sol a sol.
Em te ver, eu me vejo.
Porque também vivencio esta busca
que alguns chamam de felicidade.

Todo dia eu te vejo. Você também me vê.
O teu semblante hoje é diferente de ontem.
Também, eu sou diferente.
Nós temos mil faces. Porém , somos os mesmos
de todos os dias.

Teu nome? O que fazes? Não sei! Oxalá soubesse.
Maior seria minha admiração por ti.
Quantas qualidades tu ocultas, exclusivamente tuas.

Sabe amigo,
talvez nunca mais nos encontremos.
Porém, recebe de mim profundo sentimento de gratidão.
Pois, contigo aprendo dia a dia,
a suportar as dores do mundo.
Obrigado meu anônimo amigo,
que a paz do Senhor te acompanhe.

Noel Yvel 

sábado, 23 de setembro de 2017

O POVO

                                         Ao povo brasileiro
1      
                                  O povo, na verdade, é um cavalo,
2                                                       Que colocaram nele uma antolha!
3                                                        Direcionando-o para onde ele olha,
4                                                        Causando na nação grande abalo.

5                                                         E quando, com alguns deles, resvalo,
6                                                         Com dó fico, por essa tal escolha!
7                                                         Eles são como o vento, e o povo a folha,
8                                                         Que é levado por eles ao ralo!...

9                                                          “Liberta Barrabás e prende Jesus”,
1                                   A plebe, sem inteligência, luz,
1                                   Clamou assim praticando injustiça.

1                                                           O povo, no passar do tempo, é o mesmo...,
1                                                           E a conseqüência das bobagens a esmo,
1                                  Sofremos todos numa fé postiça!

                                            Miguel de Souza



sábado, 16 de setembro de 2017

SOBRE LIVROS



Acredito que os poetas não deveriam lançar livros. Pois o que fica são os poemas soltos, fora da amarra enfileiradas de páginas e mais páginas amontoadas em bibliotecas que pouca gente lê. Em contrapartida, os livros servem para apurar esses poemas que se sobressaem sobre os outros. Em se tratando de livros sou mesmo assim.
Querem ver só: dos cinquenta poemas que compõem Esconderijos do tempo, de Mário Quintana, apenas quatro foram os que se sobressaíram sobre os outros. São eles: Os poemas, Bilhete, Seiscentos e sessenta e seis e Solau à moda antiga. Não que os outros não tenham menos qualidade, não é isso. Mas foram esses que caíram na graça do povo, que é quem dita o sucesso.
Há livros que de cara não gosto. Mas depois de certo tempo, passo a amá-los! O poeta Mário Quintana foi um especialista em títulos. O livro o Aprendiz de feiticeiro, é tido como o melhor livro de poemas de Quintana. O mais maduro segundo Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade.
Em Sapato florido, há uma quebra que surpreendeu muita gente. Pois é um livro de prosa poética. O poeta deixa de lado a métrica e a rima da Rua dos cataventos Canções, para se aventurar nesse gênero limítrofe. Um livro singular na obra de Quintana. O que tenho percebido na sua poética, é que o poeta ora aqui ora acolá, continua no decorrer de sua trajetória fazendo os sonetos e as canções dos primeiros livros, principalmente em A cor do invisível. Sonetos como: As estrelas, Detrás de um muro surge a lua, Ah, os relógios... entre outros e muitas canções espalhadas pela sua trajetória, afirmam isso. 
Agora quero falar de um livro que foi amor à primeira vista: Espelho mágico. Delicioso livro. São 111 quadras de métricas variadas, com título. "São poemas breves, no qual os dois últimos versos espelham os dois primeiros, como se os invertessem," [...] Explicita Tania Franco Carvalhal, na orelha do livro.

Miguel de Souza

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

O FUMAÇA

O “Fumaça” não se foi qual fumaça,
Como se foram muitos desse tempo.
Nos percalços da vida, contratempos,
A ingerir também doses de cachaça.
                            
Como um bruto zagueiro, ele rechaça
Bem pra longe essa tal bola-tempo,
Em vão... Pois fica sempre o tal exemplo,
Ou bom ou mau que nunca mesmo passa.

Tenho asco dos que de ti, sentem asco,
Querido companheiro da infância,
Do qual o tempo, a meu ver, foi carrasco.

Como poeta que sou, extraio substância
Das substâncias contidas em frascos,
E oferto a todos minha repugnância!


Miguel de Souza


sábado, 2 de setembro de 2017

IPÊS

                                                                                                                        
É setembro, e no meio da floresta,
Os ipês com as suas flores lindas,
Dão ao mês primaveril as boas-vindas,
Espargindo aos olhares suas festas!

É setembro, e a natura se manifesta
Em quatro cores de beleza infinda,
E, ao adentrar por outubro ainda,
Não finda as cores que a retina infesta!

Das flores, com certeza, a mais formosa,
São, sem dúvida, as flores do ipê-rosa.
Mas, e as flores bonitas do ipê-branco, 

A embelezar o ambiente brando, franco?
E há ainda as flores roxas, amarelas,
A deixar as retinas sempre belas!                                                                         

 Miguel de Souza