Conheci Marcileudo Barros no projeto da Escola de samba Reino
Unido da Liberdade: “Poesia Solta na Rua”, encabeçado pelo locutor Ivan de
Oliveira. Ele era um dos poetas convidados a palestrar naquela edição do projeto.
Eu, um mero iniciante que fui fazer uma ponta como convidado do Everaldo
Nascimento. Achei divertidíssima a sua participação, sempre com histórias bem
humoradas sobre sua vida, seus amigos e sobre tudo.
Ganhei das mãos dele o livro “O boteco” que li quase de um
fôlego só, por ter achado muito interessante. O livro é ótimo. Divertidíssimo.
Dei boas gargalhadas com ele. Outro dia, o próprio Marcileudo me apresentou a
um amigo seu, personagem vivo do livro “O boteco”. Aquilo foi mágico. Adorava
puxar conversa com ele, era sempre uma aula que eu recebia sobre arte. O cara
além de ótimo poeta era excelente músico, um compositor de mão cheia. Na nossa
última conversa perguntei a ele qual seu processo de criação com relação à
música? Reparem que interessante a resposta do cara: “Eu começo a tocar uma música
que eu gosto na bateria... (imitava a bateria com a boca) e... lá pelas tantas
entro com a minha composição e, assim, surge minhas músicas.
Marcileudo Barros é a prova viva de como esta cidade trata
seus artistas. Desconhecido da grande massa, desvalorizado por aqueles que se
cercam de meia dúzia de poetas e acham que o mundo gira em torno desses caras!
Marginalizado, viveu à margem desde sempre. Mas foi uma porrada na face de
muita gente que se esconde por trás de preconceitos bobos. Ficou seu legado:
seus livros, seus poemas, suas músicas, sua voz.
Marcileudo Barros
PASSAGEM
Soube da tua passagem...
aos sessenta e quatro anos,
viajaste a outro plano,
chegaste à terceira margem
como tantos, sem despedida!
sem lenço e sem acenos,
com esse teu ar sereno,
porque foi assim tua vida!
Agora, dirás poemas
em vão, no vão desse nada,
nessa imensa madrugada
de sotilégios e dilemas.
e segues tirando sarro,
mestre Marcileudo Barros.
Miguel de Souza
*Poema composto em razão de seu passamento.