Nesta cidade do Rio
De dois milhões de habitantes
Estou sozinho no quarto
Estou sozinho na América.
Estarei mesmo sozinho?
Ainda há pouco um ruído
Anunciou vida a meu lado.
Certo não é vida humana,
Mas é vida. E sinto a Bruxa
Presa na zona de luz.
De dois milhões de habitantes!
E nem precisava tanto...
Precisava de um amigo,
Desses calados, distantes,
Que lêem verso de Horácio
Mas secretamente influem
Na vida, no amor, na carne.
Estou só, não tenho amigo,
E a essa hora tardia
Como procurar amigo?
E nem precisava tanto.
Precisava de mulher
Que entrasse nesse minuto.
Recebesse esse carinho
Salvasse do aniquilamento
Um minuto e um carinho loucos
Que tenho para oferecer.
Em dois milhões de habitantes
Quantas mulheres prováveis
Interrogam-se no espelho
Medindo o tempo perdido
Até que venha a manhã
Trazer leite, jornal, calma.
Porém a essa hora vazia
Como descobrir mulher?
Esta cidade do Rio!
Tenho tanta palavra meiga,
Conheço vozes de bichos,
Sei os beijos mais violentos,
Viajei, briguei, aprendi.
Estou cercado de olhos,
De mãos, afetos, procuras.
Mas tento comunicar-me,
O que há é apenas a noite
E uma espantosa solidão.
Companheiros, escutai-me!
Essa presença agitada
Querendo romper a noite
Não é simplesmente a Bruxa.
É antes a confindência
Exalando-se de um homem.
Carlos Drummond de Andrade
sábado, 25 de fevereiro de 2017
sábado, 18 de fevereiro de 2017
O SANTO QUE BAIXOU NO TERREIRO
O Santo que baixou
no terreiro
incorporado no
"cavalo"
Trouxe a todos
um abalo
e ao "sacaca"
primeiro,
O Santo que baixou
no terreiro...
O Santo que baixou
no terreiro
tirou um ponto
bonito falando de Paz
e Amor
e que depois da
dor
é a vez do
infinito,
O Santo que baixou
no terreiro...
O Santo que baixou
no terreiro
usou um "pito" pro
defume
descarregou os seus
médiuns
(Com o melhor dos
remédios)
Pediu força, às mentes
lume,
O Santo que baixou
no terreiro...
O Santo que baixou
no terreiro
Saravou todos
os filhos
despediu-se do
congar
e retornou a
Oxalá!
O Santo que baixou
no terreiro.
no terreiro
incorporado no
"cavalo"
Trouxe a todos
um abalo
e ao "sacaca"
primeiro,
O Santo que baixou
no terreiro...
O Santo que baixou
no terreiro
tirou um ponto
bonito falando de Paz
e Amor
e que depois da
dor
é a vez do
infinito,
O Santo que baixou
no terreiro...
O Santo que baixou
no terreiro
usou um "pito" pro
defume
descarregou os seus
médiuns
(Com o melhor dos
remédios)
Pediu força, às mentes
lume,
O Santo que baixou
no terreiro...
O Santo que baixou
no terreiro
Saravou todos
os filhos
despediu-se do
congar
e retornou a
Oxalá!
O Santo que baixou
no terreiro.
terça-feira, 14 de fevereiro de 2017
CURIOSIDADE LITERÁRIA
Em agosto
entrei numa lanchonete para merendar. Lá pelas tantas, se aproxima uma moça,
perguntando qual a minha religião. Sou católico, respondi à moça. Pediu-me uma
ajuda para a sua igreja, e me ofereceu um escapulário e uma imagem de um Santo
por R$ 2,00. Coloquei a mão no bolso e, como não tinha dinheiro trocado,
entreguei a ela R$ 10,00, esperando evidentemente, R$ 8,00 de volta. Ela
avançou sobre a nota de R$ 10,00 como um faminto avança sobre um prato de
comida. Estranhei aquele comportamento. - Espera aí disse a moça, que vou ali
trocar o dinheiro e trazer o restante. Assim que ela saiu, o atendente da
lanchonete disse: - ela não volta mais, você caiu no golpe! - Se ela me
enganou, problema dela, respondi ao atendente meio sem jeito. Ao pagar a
merenda para a caixa, que já me conhecia, pois não é de hoje que freqüento a
lanchonete, ela me disse: - eu trabalho aqui há 20 anos, não são 20 dias, eu
sei distinguir todo tipo de pessoas que entram aqui, se você quiser praticar a
caridade a alguém, reserve um pouco do seu dinheiro para os idosos que estão
desassistidos nos asilos, para os doentes esquecidos nos hospitais, para as crianças
que estão nas casas de misericórdias, enfim... Tomei isto como lição. Mais
tarde, escrevi o soneto abaixo, talvez para desabafar, não sei, enfim, eis o
soneto:
SONETO
BRUSCO
A uma
golpista
Coitado de
quem tenta, num engodo,
Enganar o
outro ardilosamente,
Com astúcia,
com artimanha, crente
De que... E
sair de cena com apodo
De golpista,
a viver metido em lodo!
Coitado de
quem, para enganar, mente,
Usando de má
fé com toda a gente,
E que com
isto, vai me ferrar todo.
Coitada
dessa gente desonesta,
Que veio ao
mundo atrapalhar a festa,
E que não
sabe nem viver a vida.
Coitada de
quem se acha sempre esperta,
De quem
pensa que dessa forma acerta,
Mas está enganando-se
a si, querida!
Miguel de
Souza
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017
PINGUE-PONGUE
Nas fábricas por onde trabalhei, depois do almoço há aquilo
que já se tornou praxe, a famosa hora da sesta. Mas há também aqueles que
ignoram a sesta e preferem se aventurar como verdadeiros esportistas. Pimbolim, sinuca, pingue-pongue... enfim,
os mais variados jogos são apresentados nessa mirrada hora. Também me
aventurava nesse entretenimento vez ou outra, foi aí que me transformei não num
extraordinário jogador de pingue-pongue, mas pelo menos, num sujeito bem
competitivo. E o resultado disso é um poema em que, na sua estrutura, tento
imitar um jogo de pingue-pongue. Observe:
Pingue
Pongue
Pingue
Pongue
É o som da bolinha frágil
Quando bate na raquete!
Pingue
Pongue
Pingue
Pongue
É o que faz a bolinha ágil
Neste jogo em que se compete!
Miguel de Souza
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017
SOB O VÉU DA AMIZADE
A Rosa
Para Rosa Helena
Tu és, no jardim da
vida, a
Rosa das rosas de
fato!
De sorriso franco e
lato,
todo dia nessa
lida!
Tu és a Rosa que
não finda,
a que não se despetala,
e do teu âmago,
ainda,
um suave perfume exalas!
Tu és a nossa Rosa
imóvel,
a balançar pernas,
braços...
Avessa a todos os
ócios,
na paisagem dos
espaços.
Tu
és a Rosa mais querida, a
florir
no jardim da vida!
Miguel de Souza
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