sábado, 11 de junho de 2016

SOBRE POEMAS

Sou um sujeito que nunca escreveu um poema. Nunca me sentei para escrever um poema. Todas as vezes que me pego escrevendo algo, não estou compondo um poema, estou me exercitando. E se esse exercício chega a algo parecido com um poema é deveras interessante.
Existem rascunhos de poemas em folhas soltas dentro de livros, nos cadernos da época da escola, faculdade, enfim... Agora, na era do computador, eles migraram para lá, basta um clique e pronto, surgem à minha frente centenas de sonetos ou exercícios de sonetos feitos ali mesmo. Sem a menor pretensão de coisa alguma.
Ontem mesmo, estava num desses exercícios, talvez para preencher alguma lacuna dentro de mim, não sei. Só sei que como uma conversa puxa outra, um verso pede outro, e assim acontecem os textos. Mas os textos acontecem mesmo muito antes de irem deitar-se nas folhas dos cadernos, ou na tela dos computadores, como queiram. Ou surgem de uma conversa com alguém, ou de uma reportagem, enfim, dos acontecimentos mais estapafúrdios podem surgir um poema.
Por exemplo: ao assistir uma reportagem num determinado veículo televisivo, o repórter mostrava uma cidade em que os homens estavam saindo para outros lugares, exatamente porque lá, nessa cidadezinha, não havia mulheres suficientes para eles.  Achei que isso daria um bom enredo para um poema. Coloquei-me no lugar de um daqueles homens, para dar vazão ao tema e surgiu um soneto que intitulei de “A chave”. Uma abordagem sobre um homem que nunca teria dado um beijo.

Eis o soneto:

A CHAVE

Nunca pousou na minha boca um beijo
Que trouxesse junto a ele alguma língua!...
E toda essa necessidade à míngua,
Nunca matou, enfim, esse desejo!

Seja por timidez... quiçá por pejo,
Mas nunca pousou nesta boca outra língua!...
Tudo isso me incomoda igual a uma íngua
Dorida! E com vergonha já me vejo!

Por nunca ter sentido esse sabor,
Da chave dessa porta para o amor,
Que é o ósculo num momento de ternura...

Já me vejo com a paciência extinta,
Por ter passado há muito dos meu trinta, e
Nunca ter dado um beijo! Que loucura!

Miguel de Souza 



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