quinta-feira, 21 de abril de 2016

SOBRE POEMAS

Participo de um site de poesia, o “Recanto das Letras”, onde internautas-poetas divulgam seus versos para o regozijo daqueles que amam esta arte. Sou mais lido do que comentado. E pela falta de tempo ou... Poucas vezes comento algo por lá.
Mas de vez em quando, recebo certos comentários que acho que vale a pena ter dedicado o meu tempinho publicando meus textos nesse site. Recentemente recebi do poeta Renato Passos de Barros comentários sobre dois sonetos que divulguei no site: “Pesadelo” e “Dualidade”. Algo que muito me lisonjeou.


Pesadelo

Eu saco o meu revólver desse coldre,
E miro bem na fuça do sujeito;
Abaixo a mira, agora eu miro o peito,
Tô a ponto de mandá-lo para o odre.

E, antes disso tudo feder a podre,
Vou me mexendo abrupto nesse leito;
E me acordando estranho desse jeito,
Com certo augúrio, ou sei lá o quê, sobre

O pesadelo horrível que ora tive.
Mas como o bem padece, e sobrevive;
Também sobrevivi, pesar dos danos.

Agora, vou à seara, acendo velas...
Pra me livrar de tantas querelas,   
E que está atrapalhando os meus planos.

Miguel de Souza



17/04/2016 08:10 - RENATO PASSOS DE BARROS

Caramba, Miguel! Muito foda: da primeira estrofe, construí um breve pulp fiction policial, mas sei que o pesadelo que o eu-poético teve é apenas uma alegoria-estandarte para expressar cismas existenciais. Seu intenso e impactante soneto tem um q de Augusto dos Anjos e pertence à "geração dos malditos" devido à temática e devido também ao "como" recriar a linguagem para expor essa temática. Se Charles Bukowski lesse seu soneto, Miguel, iria sentenciar com entusiasmo: "esse cara é dos meus!". Não pare de publicar, poeta, ainda existem algumas ilhas de excelência nesse site. Você é um deles.



DUALIDADE

Lá fora, um tom funéreo, cinza, inunda
a paisagem exótica, dual!
Enquanto que se tange todo o mal,
dessa intrínseca imagem moribunda,

que a meu ver agora se afunda,
nesse luxuriante ritual.
Subo às pressas para ir à catedral,
e u'a devassa mulher, mostrando a bunda,

aproxima-se cheia de manha...
Minha libido, nesse instante, se assanha,
Mas não dou bola para isso... Afinal,

ainda temos pela frente o ano inteiro,
estamos só vivendo fevereiro,
o mês radiante do carnaval!

Miguel de Souza


 17/04/2016 08:35 - RENATO PASSOS DE BARROS
Repare como o carnaval e a sexta-feira da paixão estão conectados num mesmo cronograma festivo. É um evento barroco: o sagrado e o profano. Essa dualidade você descreveu muito bem em seu soneto-curta-metragem. É muito raro o poder da linguagem criar na mente do leitor imagens tão nítidas. Seu estilo poético alcança tal feito com extrema facilidade: a narrativa breve, intensa e dinâmica constrói cenas de cinema numa estrutura textual (o soneto) de pouquíssimo fôlego. Isso sim é arte literária! O resto é perfumaria! Pelo que eu reparei, Miguel, você não tem muito tempo pra ficar interagindo com outros caras do Recanto das Letras ou então está cagando pra esse lance de divulgação. Gosto dessa atitude. É um comportamento típico dos "Malditos" (Tom Zé, Zeca Baleiro, Raul Seixas, Waly Salomão, Edgar Allan Poe, Augusto dos Anjos, Gregório de Matos, Charles Bukowski, Rimbaud e seus amigos simbolistas). Tenho a leve impressão que você curte todos esses caras também muito fodas! Bom, da minha parte só me resta falar de você pra outros poetas que curtem poesia transgressora do tipo: nocaute no primeiro round! Até mais ler, "Maldito" camarada!


*Renato Passos de Barros é Poeta e professor de Língua Portuguesa.







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