Participo de um site de poesia, o “Recanto das Letras”, onde
internautas-poetas divulgam seus versos para o regozijo daqueles que amam esta
arte. Sou mais lido do que comentado. E pela falta de tempo ou... Poucas vezes
comento algo por lá.
Mas de vez em quando, recebo certos comentários que acho que
vale a pena ter dedicado o meu tempinho publicando meus textos nesse site.
Recentemente recebi do poeta Renato Passos de Barros comentários sobre dois
sonetos que divulguei no site: “Pesadelo” e “Dualidade”. Algo que muito me
lisonjeou.
Pesadelo
Eu saco o
meu revólver desse coldre,
E miro bem
na fuça do sujeito;
Abaixo a
mira, agora eu miro o peito,
Tô a ponto
de mandá-lo para o odre.
E, antes
disso tudo feder a podre,
Vou me
mexendo abrupto nesse leito;
E me
acordando estranho desse jeito,
Com certo
augúrio, ou sei lá o quê, sobre
O pesadelo
horrível que ora tive.
Mas como o
bem padece, e sobrevive;
Também
sobrevivi, pesar dos danos.
Agora, vou à
seara, acendo velas...
Pra me
livrar de tantas querelas,
E que está
atrapalhando os meus planos.
Miguel de Souza
Caramba, Miguel! Muito foda: da
primeira estrofe, construí um breve pulp fiction policial, mas sei que o
pesadelo que o eu-poético teve é apenas uma alegoria-estandarte para expressar
cismas existenciais. Seu intenso e impactante soneto tem um q de Augusto dos
Anjos e pertence à "geração dos malditos" devido à temática e devido
também ao "como" recriar a linguagem para expor essa temática. Se
Charles Bukowski lesse seu soneto, Miguel, iria sentenciar com entusiasmo:
"esse cara é dos meus!". Não pare de publicar, poeta, ainda existem
algumas ilhas de excelência nesse site. Você é um deles.
DUALIDADE
Lá fora, um tom funéreo, cinza,
inunda
a paisagem exótica, dual!
Enquanto que se tange todo o mal,
dessa intrínseca imagem moribunda,
que a meu ver agora se afunda,
nesse luxuriante ritual.
Subo às pressas para ir à catedral,
e u'a devassa mulher, mostrando a bunda,
aproxima-se cheia de manha...
Minha libido, nesse instante, se assanha,
Mas não dou bola para isso... Afinal,
ainda temos pela frente o ano inteiro,
estamos só vivendo fevereiro,
o mês radiante do carnaval!
a paisagem exótica, dual!
Enquanto que se tange todo o mal,
dessa intrínseca imagem moribunda,
que a meu ver agora se afunda,
nesse luxuriante ritual.
Subo às pressas para ir à catedral,
e u'a devassa mulher, mostrando a bunda,
aproxima-se cheia de manha...
Minha libido, nesse instante, se assanha,
Mas não dou bola para isso... Afinal,
ainda temos pela frente o ano inteiro,
estamos só vivendo fevereiro,
o mês radiante do carnaval!
Miguel de Souza
Repare como o carnaval e a sexta-feira
da paixão estão conectados num mesmo cronograma festivo. É um evento barroco: o
sagrado e o profano. Essa dualidade você descreveu muito bem em seu
soneto-curta-metragem. É muito raro o poder da linguagem criar na mente do
leitor imagens tão nítidas. Seu estilo poético alcança tal feito com extrema
facilidade: a narrativa breve, intensa e dinâmica constrói cenas de cinema numa
estrutura textual (o soneto) de pouquíssimo fôlego. Isso sim é arte literária!
O resto é perfumaria! Pelo que eu reparei, Miguel, você não tem muito tempo pra
ficar interagindo com outros caras do Recanto das Letras ou então está cagando
pra esse lance de divulgação. Gosto dessa atitude. É um comportamento típico
dos "Malditos" (Tom Zé, Zeca Baleiro, Raul Seixas, Waly Salomão,
Edgar Allan Poe, Augusto dos Anjos, Gregório de Matos, Charles Bukowski,
Rimbaud e seus amigos simbolistas). Tenho a leve impressão que você curte todos
esses caras também muito fodas! Bom, da minha parte só me resta falar de você
pra outros poetas que curtem poesia transgressora do tipo: nocaute no primeiro
round! Até mais ler, "Maldito" camarada!
*Renato Passos de Barros é Poeta e professor de Língua
Portuguesa.
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