segunda-feira, 7 de setembro de 2015
SONETOS SOBRE O HINO NACIONAL
I.
Do sol da liberdade até agora,
não vi um raio sequer com o seu brilho,
a iluminar a estrada desses filhos,
da pátria amada idolatrada, embora,
enchem o peito da canção sonora, e
repetem com orgulho este estribilho!
Só tenho visto, até então, é empecilho,
a atravancar o nosso caminho, ora!
E o brado retumbante que ouviram,
Às margens plácidas do Ipiranga,
foram uns falsos guizos que feriram
nossos ouvidos, e ainda hoje ferem,
e, puseram no povo, velha canga,
pois manter-nos sob-rédeas, é o que preferem!
II.
Teu sonho intenso virou pesadelo
intacto com nenhuma vicissitude,
deverasmente parco e amiúde...
Do amor e da esperança sem podê-los,
ao menos, pôr os pés em escabelos...
olhar a imagem do cruzeiro pude!
Porque observar a imagem ilude,
e do espectador inflama todos pelos!
Se és belo, és forte, impávido colosso,
o teu povo, coitado, vive no osso,
num país rico, em plena pobreza!
E ainda dizem esta frase hostil:
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Oh, gigante pela própria natureza!
III.
Deitado eternamente neste berço,
estão poucos com seus privilégios.
E os que usufruem desse berço-régio,
da grande massa, não chega a 1/3.
Sou filho que olho, sofro e padeço,
por não ter ido, desde cedo, ao colégio.
Não faço parte desse sortilégio,
e nado contra o tempo, esse é meu preço.
Iluminado ao sol do novo mundo,
tua luz não ilumina meu futuro,
pois, com saúde, sinto-me moribundo!
Teus tristonhos, feios campos, não têm flores,
enquanto poucos muito ricos, eu duro!
Nesta vida, com receios, sem amores.
IV.
Brasil, cadê aquele amor eterno,
do qual, com certeza, serias símbolo?
E o lábaro que ostentas sempre terno,
para onde foi com toda tua índole?
E cadê o verde-louro desta flâmula?
A paz do teu futuro? És subalterno!
E a mensagem descrita no teu lábaro?
Para onde foram teus homens supernos?
Verás que um filho teu só foge à luta.
Embora que, de sangue a farda borre,
será o exemplo dessa vã conduta!
Nem teme quem te adora essa vã sorte.
ao invés de socorrer... A ninguém socorre!
E tomarás também teu rumo norte!
Miguel de Souza
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