AYRTON SENNA
Numa manhã de domingo,
acostumado às vitórias...
Escreveu numa curva negra,
a lauda desta história!
Trazia no bojo,
o arrojo!
Não era cena.
Era Senna!
E numa curva: "tamburello",
tomba o nosso herói
de verde e amarelo.
Mas como dói!
Miguel de Souza
quarta-feira, 30 de abril de 2014
sexta-feira, 25 de abril de 2014
POEMAS PREFERIDOS
Este poema foi, é, e sempre será uma espécie de Pai Nosso para mim. Procurei e procuro cumprir com dedicação os ensinamentos desta, que se configurou uma das melhores poetisas que tive o prazer de descobrir. E, com ele, abro aqui neste blog, mais um tópico: "POEMAS PREFERIDOS". São poemas que marcaram a minha vida.
CORA CORALINA
O POETA E A POESIA
Não é o poeta que cria a poesia.
E sim, a poesia que condiciona o poeta.
Poeta é a sensibilidade acima do vulgar.
Poeta é o operário, o artítifice da palavra.
E com ela compõe a ourivesaria de um verso.
Poeta, não somente o que escreve.
E aquele que sente a poesia,
se extasia sensível ao achado
de uma rima, à autenticidade de um verso.
Poeta é ser ambicioso, insatisfeito,
procurando no jogo das palavras,
no imprevisto do texto, atingir a perfeição inalcansável.
O autêntico sabe que jamais
chegará ao prêmio Nobel.
O medíocre se acredita sempre perto dele.
Alguns vêm a mim.
Querem a palavra, o incentivo, a apreciação.
Que dizer a um jovem ansioso na sede precoce de lançar um livro ...
Tão pobre ainda a sua bagagem cultural,
tão restrito seu vocabulário,
enxugando lágrimas que não chorou,
dores que não sentiu,
sofrimentos imaginários que não experimentou.
Falam exaltados de fome e saudades, tão desgastadas
de tantos já passados.
Primários nos rudimentos de sua escrita
e aquela pressa moça de subir.
Alcançar estatura de poeta, publicar um livro.
Oriento para a leitura, reescrever,
processar seus dados concretos.
Não fechar o caminho, não negar possibilidades.
É a linguagem deles, seus sonhos.
Cora Coralina
quinta-feira, 17 de abril de 2014
SOBRE LIVROS
Este clássico do Modernismo brasileiro, Primeiro Caderno do Aluno de Poesia Oswald de Andrade, de Oswald de Andrade, publicado em 1927, além de colocar em xeque o conceito tradicional de livro de poemas, radicaliza procedimentos políticos da vanguarda: o estilo telegráfico e a montagem. Ao publicar o Primeiro Caderno de Poesia do Aluno Oswald de Andrade, ele buscava uma poesia como que feita por criança, uma poesia que visse o mundo com olhos novos.
O livro se apresenta como se fosse efetivamente um caderno de poesias de um jovem estudante. Arabescos, rabiscos, caricaturas são inseridas ao lado de poemas, alguns tão breves e sintéticos que nos dão a impressão de inacabados, de rascunhos ou esboços. No frontispício há a paródia dos ramos de café do brasão nacional, colocando em cada folha o nome de um estado numa divisão silábica por vezes sugerindo o improviso do desenho ou a ingenuidade do jovem poeta. (Amazona-s; Cergipe) ou brincadeiras com nomes dos estados (Goyabada por Gois; Rio Parahyba; L no Piauhi).
Logo após uma página com a suposta identificação de dados do autor-estudante: Escola: pau brasil /Classe primeira/ Sexo: masculino/ Professora: a Poesia. Os determinantes escola, classe, sexo e professora como se fossem dados de uma etiqueta de caderno escolar vimos impresso em tipo de imprensa, ao passo que os dados são colocados como se fossem para reforçar a impressão de um caderno de poesias. No entanto, a escola pau-brasil tem nova amplitude estética, o modernismo Oswaldiano, a classe primeira alude ao sentido inaugural da busca da criação e da originalidade da estética modernista.
No prefácio há o comentário acerca desse menino-experimental, suposto narrador que recupera memórias de uma criança que de fato não existiu. Ao contrário de um narrador que adulto, recupera memórias da infância e as interpreta, aqui, o narrador recria uma criança da ideia do adulto sob uma roupagem da infância.
A criança monta um teatro espacial que ensaia, concomitantemente uma tipografia gestual. Em sua mudez, a ingenuidade se expressa pela performatividade do branco. A grafia de um aluno de poesia guarda-se, assim, em quatro gares locais que se desdobram em tempos: infância, adolescência, maturidade, velhice. A montagem desconjuntada de elementos de infância, os fragmentos de um diálogo - um discurso que não houve - em adolescência, o sobressalto do corte em velhice são co-produzidos pelo branco e pelo gesto de recusa da política maior.
Ao lado de poemas de "As Quatro Gares", pode se colocar os poemas: Meus Sete Anos e Meus Oito Anos em que a picardia em Casimiro de Abreu instaura uma série de oposições como romântico/moderno, rural/urbano, idealizado/dessacralizado, saudoso/irônico. De fato, o livro sugere-se como elemento autobiográfico desse menino experimental, sabe-se que o cojunto de poemas cria uma personagem no poeta adulto, que faz da ingenuidade da fala do menino o artifício para desvelar e ironizar as contrariedades e conflitos do meio social que pretende circunscrever como centro de suas lembranças. Não são lembranças de um autor adulto oriundas de um passado de décadas, mas um menino que se presentifica no instante adulto do escritor.
A infância retratada promove a ruptura com estereótipos da poesia romântica e parnasiana brasileiras, de forma antilírica. A criança e a visão da infância em Oswald está cercada pelos acontecimentos de uma cidade que "progredia". Essa visão de São Paulo, misturada ao tema da infância, fica mais acentuada no poema "Brinquedo", da mesma obra, que alude ao "progresso" da cidade, assinalado pela referência aos bondes da Light, telefones, automóveis e desmetifica a infância paradísiaca dos românticos e mesmo dos parnasianos.
Possível ainda identificar na obra, a prática do pasticho no poema "Balada do Esplanada", que é uma imitação do estilo em regime lúdico. O poeta imita no poema a arte dos menestréis, produzindo uma balada ao estilo das tradicionais, onde insere palavras que apresentam elipses sonoras a exemplo da pronúncia portuguesa: "Antes dir", Eu quria", "minspirar", "splanada".
O eu poético apresenta-se como um menestrel, designação que confirma a intenção de fazer o pasticho das baladas medievais. O termo "balada" nomeia duas formas líricas distintas: uma de origem folclórica que surgiu entre os povos de fala germânica e outra cujo apogeu se deu no século XV, na França.
Neste livro, a política da brevidade Oswaldiana encontra seu ponto máximo de expressão em poemas como velhice (O netinho jogou os óculos/ na latrina), fazenda (O mandacaru espiou a mijada da moça), crônica (Era uma vez/ o mundo), e o conhecido Amor/ Humor, onde a primeira palavra é o título, e a segunda, o poema. A gozação paródica dos cânones da ideologia oficial e do academismo literário está presente em poemas como história pátria (Lá vai uma barquinha carregada/de aventureiros) e balada do Esplanada ( Há poesia/ Na dor/ Na flor/ No beija-flor/ No elevador). O sarcasmo brandido por Oswald, ao golpear nosso provincialismo, o emboloramento mental de nossas elites, preparava o terreno para uma perspectiva utópica, que apontava em direção a uma nova cultura, ao mesmo tempo bárbara e moderna, A ideia (já embrionária na fase pau-brasil) de comer o que há de melhor na civilização ocidental para a elaboração de uma nova sociedade iria inaugirar outra etapa no pensamentoo e na criação artística de Oswald de Andrade: a Antropofagia.
OSWALD DE ANDRADE
A terra antropófaga devorou ontem
em São Paulo
o maior dos Modernistas
o mais pachorrento dentre todos
pobre e sem fama
continuará vivo nos seus livros
na sua forma esparramada
de viver a vida
agora vale a memória
vale a história pastichenta
na maneira léria de viver
minhas condolências ao Brasil
60 anos depois
terça-feira 15 de abril de 2014
Miguel de Souza
quarta-feira, 16 de abril de 2014
SEMPRE OUTONO
O Sul brinca de outono,
nas curvas mudáveis do tempo.
Nas frondes invisíveis do vento,
as folhas perdem seu trono.
Mas, só de vez em quando.
Pois o Norte brinca sempre!
Mesmo em outras estações,
é sempre outono nos corações,
formando exótica trempe!
E as Folhas amarelando!
Miguel de Souza
sábado, 12 de abril de 2014
SOBRE LIVROS
ESTREIA
"A RUA DOS CATAVENTOS", livro de estreia do poeta Mário Quintana, é um livro que gosto muito, primeiro pela estrutura dos poemas, pois o poeta adotou o soneto, essa forma fixa de 14 versos, sendo duas quadras e dois tercetos, tão executado por grandes nomes da nossa literatura. Segundo, a forma com que ele lida com seus sonetos é tão particular, que se formos obedecer à pontuação na leitura que fizermos, em alguns deles, perceberemos que não se trata de sonetos apesar da forma fixa. O que acontece com o soneto XXXI dedicado aVerlaine.
O poeta do diminutivo: "Dorme, ruazinha... É tudo escuro"... (soneto II). Na minha rua há um menininho doente." (sonetoVI). Avozinha garoa vai cantando/Suas lindas histórias à lareira." (soneto VII). Mostra, com isso um carinho, um zelo todo especial com as coisas, pessoas... Matéria de sua poesia. É como se chamarmos alguém que gostamos muito pelo diminutivo, para demonstrarmos carinho.
Contrariando, um pouco Cecília Meirelles que disse: "De tanto olhar pra longe, não vejo o que passa perto." O poeta não precisou olhar para tão longe assim, ele apenas abriu a janela que dava para a rua, e de lá, retirou todo o seu cabedal poético para nos deslumbrar com tamanha verve.
Outra face do livro é a maneira com que o poeta relata sua forma de fazer poesia quase sempre ou sempre dolorosa. Ora ele se assemelha aos "saltimbancos" do circo no jeito de fazer versos, indicando sempre que para ele fazer poesia não é algo fácil e fonte de prazer, mas ao contrário, é esforço dolorido. E. que ao escrever, "vão começar as convulsões e arrancos", (...) ou que se compara ao próprio "Frankstein" (soneto XXVI), o belo monstro ingênuo e sem memória..."
O poeta assume uma posição marginal, como se fazer versos fosse delito e ele um meliante, por isso as andorinhas dizem: "Olha aí! É o idiota desta aldeia!" Se coloca à margem da sociedade no soneto XI em homenagem a Antônio Nobre, uma de suas grandes afinidades poéticas. E coloca-se numa situação de penúria querendo, ao que me parece, causar dó no leitor. E desabafa no sonetoV quando diz: "Eu nada entendo da questão social", e isola-se ao preocupar-se somente com o que lhe é particular: "E sei apenas do meu próprio mal/ Que não é bem o mal de toda a gente." Em nítido subjetivismo.
Outro tema recorrente na obra é o da reflexão sobre a morte. vejamos alguns fragmentos de sonetos sobre o tema.
"Foi minha voz, fantástica e sonâmbula!
Foi na noita alucinada
A voz do morto que cantou."
Por vezes, a morte se converte em interlocutora atraente, na companhia dos ventos:
"Os ventos vêm e batem à janela:
A tua vida, que fizeste dela?
E chega a morte: anda, vem dormir...
Faz tanto frio... E é tão macia a cama...
Mas toda a longa noite inda hei de ouvir
A inquieta voz dos ventos que me chama!...
A morte é uma velha amiga, como nos versos do soneto XIX, um dos mais belos do conjunto:
"Minha morte nasceu quando eu nasci,
Despertou, balbuciou, cresceu comigo...
E dançamos de roda ao luar amigo
Na pequenina rua em vivi."
A concepção da morte como exato correspondente da vida, e, ainda, como um símile das perdas é central na poesia de Mário Quintana. Por isso seu soneto XVII é tão expressivo e já antológico:
"Da vez primeira que me assassinaram
Perdi um jeito sorrir que tinha...
Depois, de cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha...
E, assim, segue o poeta até o final da "Rua dos Cataventos", tomando vento no rosto, sob as nuvens em constante movimentação, num passeio poético onde reencontrou velhos camaradas e matou a saudade dos companheiros de sempre.
Alguns sonetos da "Rua dos Cataventos".
II
Dorme ruazinha... É tudo escuro...
E os meus passos, quem é que pode ouvi-los?
Dorme o teu sono sossegado e puro
Com teus lampiões, com teu jardins tranquilos...
Dorme... Não há ladrões, eu te asseguro...
Nem guardas para acaso persegui-los...
Na noite alta, como sobre o muro,
As estrelinhas cantam como grilos!
O vento está dormindo na calçada,
O vento enovelou-se como um cão...
Dorme ruazinha... Não há nada...
Só os meus passos... Mas tão leves são
Que até parecem pela madrugada,
Os da minha futura assombração...
VI
Minha rua está cheia de pregões,
Parece que estou vendo com os ouvidos:
"Couves! Abacaxis! Cáquis! Melões!
Eu vou sair pro carnaval dos ruídos,
Mas vem, Anjo da Guarda... Por que pões
Horrorizado as mão em teus ouvidos?
Anda: escutemos esses palavrões
Que trocam dois gavroches atrevidos!
Pra que viver assim num outro plano?
Entremos no bulício quotidiano...
O ritmo da rua nos convida.
Vem! Vamos cair na multidão!
Não é poesia socialista... Não,
Meu pobre Anjo... É simplesmente a vida!...
quinta-feira, 10 de abril de 2014
ANTRO JARDIM
Ainda falo em flores nos meus versos,
apesar dos espinhos desta vida!
Ainda exalto Rosas, Margaridas,
a perfumarem meu sombrio universo...
De cores, meu jardim está imerso,
sem as ervas daninhas, pesticidas...
Vou borrifando com inseticidas,
milhões de insetos, todos dispersos!
Ainda falo em flores, suas pétalas...
E, em seu folíolo cálice: sépalas,
para o colibri, nessas asas ágeis,
sugar o néctar com os seus voejos...
Das flores férteis, sempre o desejo
de alimentá-lo, nas sépalas frágeis!
Miguel de Souza
apesar dos espinhos desta vida!
Ainda exalto Rosas, Margaridas,
a perfumarem meu sombrio universo...
De cores, meu jardim está imerso,
sem as ervas daninhas, pesticidas...
Vou borrifando com inseticidas,
milhões de insetos, todos dispersos!
Ainda falo em flores, suas pétalas...
E, em seu folíolo cálice: sépalas,
para o colibri, nessas asas ágeis,
sugar o néctar com os seus voejos...
Das flores férteis, sempre o desejo
de alimentá-lo, nas sépalas frágeis!
Miguel de Souza
Assinar:
Postagens (Atom)