"Li o
Eu na adolescência e foi como se levasse um soco na cara. Jamais eu vira antes, engastadas em decassílabos, palavras estranhas como simbiose, mônada, metafisicismo, fenomênica, quimiotaxia, zooplasma, intracefálica... E elas funcionavam bem nos versos! Ao espanto sucedeu intensa curiosidade. Quis ler mais esse poeta diferente dos clássicos, dos românticos, dos simbolistas, de todos os poetas que eu conhecia. A leitura do
Eu foi para mim uma aventura milionária. Enriqueceu minha noção de poesia. Vi como se pode fazer lirismo com dramaticidade permanente, que se grava para sempre na memória do leitor. Augusto dos Anjos continua sendo o grande caso singular da poesia brasileira." Disse Carlos Drummond de Andrade.
Hoje que a mágoa me apunhala o seio,
e o coração me rasga atroz, imensa,
eu a bendigo na descrença em meio,
porque eu hoje só vivo da descrença.
À noute quando em funda soledade
minh'alma se recolhe tristemente,
pra iluminar-me a alma descontente,
se acende o círio triste da saudade.
E assim afeito às mágoas e ao tormento,
e à dor e ao sofrimento eterno afeito,
para dar vida à dor e ao sofrimento,
da saudade na campa enegrecida
guardo a lembrança que me sangra o peito,
mas que no entanto me alimenta a vida.
Augusto dos Anjos
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