sábado, 28 de abril de 2018

DESFECHO


A história de ontem, de hoje, de sempre...
Mostra-nos que quem foi a favor do povo,
Se lascou, se lasca e se... de novo,
Quem fez ou quem faz parte dessa trempe!

E se você não lembra. Por favor, lembre
Da história genuína como o ovo,
Que se renova a cada hera num renovo,
Para mostrar a ingratidão! Relembre...

Verás que o povo se voltará contra,
Achando seu comportamento afronta,
E apoiará, por fim, sua condenação!

Se minha atitude, talvez, não o agrade,
Temo por ir também atrás das grades,
Como o ex-Presidente desta nação!

Miguel de Souza

sábado, 21 de abril de 2018

SAUDADE

"Li o Eu na adolescência e foi como se levasse um soco na cara. Jamais eu vira antes, engastadas em decassílabos, palavras estranhas como simbiose, mônada, metafisicismo, fenomênica, quimiotaxia, zooplasma, intracefálica... E elas funcionavam bem nos versos! Ao espanto sucedeu intensa curiosidade. Quis ler mais esse poeta diferente dos clássicos, dos românticos, dos simbolistas, de todos os poetas que eu conhecia. A leitura do Eu foi para mim uma aventura milionária. Enriqueceu minha noção de poesia. Vi como se pode fazer lirismo com dramaticidade permanente, que se grava para sempre na memória do leitor. Augusto dos Anjos continua sendo o grande caso singular da poesia brasileira." Disse Carlos Drummond de Andrade.

Hoje que a mágoa me apunhala o seio,
e o coração me rasga atroz, imensa,
eu a bendigo na descrença em meio,
porque eu hoje só vivo da descrença.

À noute quando em funda soledade
minh'alma se recolhe tristemente,
pra iluminar-me a alma descontente,
se acende o círio triste da saudade.

E assim afeito às mágoas e ao tormento,
e à dor e ao sofrimento eterno afeito,
para dar vida à dor e ao sofrimento,

da saudade na campa enegrecida
guardo a lembrança que me sangra o peito,
mas que no entanto me alimenta a vida.

Augusto dos Anjos 

sábado, 14 de abril de 2018

DESFECHO


Olhando tantas vezes o Coyote
Se dá mal diante do Papa-léguas...
Hoje, no youtube, ele passou a régua,
E armou uma cilada, simples bote,

Sem dar mesmo nenhuma trégua,
Com aquela borrasca, aquele trote,
Que foi usado como se fosse mote,
E o Papa-léguas, com isto, foi à égua!

E ele pode, enfim, pegar sua presa,
E armado com seu garfo e faca à mesa,
Saboreou a tão desejada ceia.               

E por aqui se encerra essa peleja,
 A “grand finale” foi, por certo, a cereja
                                                     Do bolo para o tal Coyote, creia!

                                                                                        Miguel de Souza

sábado, 7 de abril de 2018

VOCÊ É INCRÍVEL

Foi você, Mãe querida, quem deu a luz
a mim, que vim ao mundo indefeso!
Por isso, minha Mãe, jamais meu desprezo!
Por isso, hoje sou eu quem a conduz.

Foi em você, Mãe humilde, que pus
minha boca faminta, sem peso!
Pude sugar o leite lícito e ileso,
e jamais ao seu ofício me opus.

Foi você, minha Mãe, quem me teve,
é por isso que todo filho deve
ser sempre o melhor filho possível.

Quantas vezes suguei seu seio farto!
Eu lhe agradeço pela dor do parto,
oh, Mãe querida, você é incrível!

Miguel de Souza
In: Poemais
P. 60