sábado, 6 de janeiro de 2018

Agonia de um filósofo

Consulto o Phtah-Hotep. Leio o obsoleto 
Rig-Veda. E, ante obras tais, me não consolo... 
O Inconsciente me assombra e eu nele rolo 
Com a eólica fúria do harmatã inquieto! 

Assisto agora à morte de um inseto...! 
Ah! todos os fenômenos do solo 
Parecem realizar de pólo a pólo 
O ideal de Anaximandro de Mileto! 

No hierático areópago* heterogêneo 
Das idéias, percorro como um gênio 
Desde a alma de Haeckel à alma cenobial!... 

Rasgo dos mundos o velário espesso; 
E em tudo, igual a Goethe, reconheço 
O império da substância universal! 

Augusto dos Anjos


Blog

Consulto o Google. Leio uma obsoleta
enciclopédia. Continuo à míngua...
Nenhum filósofo, em nenhuma língua,
resolveu o problema que me inquieta!

Ando de um lado para outro. Xingo
a realidade frustra, vil, abjeta...
Mas reconheço: nada disso a afeta.
Vocifero, esbravejo,... E não me vingo.

Se eu fosse jovem, criaria um blog...
Há quem vislumbre nisso algum remédio,
há quem todos os dias monologue

on line, à espera de que alguém o leia!
Se não escapa à aranha, escapa ao tédio
o inseto que se agita, preso à teia!

Marco Catalão
in: Palimpsestos
P: 74

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