Na crônica “Dívida para com o Peixe Vivo”,
do livro Andorinha, Andorinha, Bandeira conta como o poema “A Estrela” surgiu a
partir da canção popular Peixe Vivo, uma das preferidas do presidente Juscelino
Kubitschek: “Como pode o peixe vivo/Viver fora da água fria/Como poderei
viver/Sem a tua companhia”. E Bandeira continua: “Letra e toada são lindas.
Creio não exagerar dizendo que considero a divulgação do Peixe vivo como um dos
maiores serviços prestados ao Brasil pelo presidente Juscelino. A primeira vez que
ouvi cantá-lo foi na casa do meu saudoso primo José Cláudio. Pedro Nava atuou
como corifeu e me lembro que Vinicius de Moraes estava presente; cada um de nós
teve de improvisar sua quadrinha. Nava cantou: ‘Nas areias de Loanda/Dirceu
chora noite e dia/Desde que sentiu perdida/ Tua doce companhia”. Vinicius
secundou: “A minha alma chorou tanto/Que de pranto está vazia/Desde que eu
fiquei sozinho/Sem a tua companhia”. Depois foi a minha vez e eu desafinei: ‘Vi
uma estrela tão alta!/Vi uma estrela tão fria!/Estrela, por que me deixas/Sem a
tua companhia”. Imediatamente entrei em transe e os dois primeiros versos da
quadra germinaram posteriormente no poeminha “A Estrela”, que figura na Lira
dos Cinquent’Anos e é dos que me inspiram maior ternura de pai. A célula do
Peixe vivo está visível na terceira estrofe: “Por que da sua distância/Para
minha companhia/Não baixava aquela estrela?/Por que tão alto luzia?”.
A ESTRELA
Vi uma estrela tão alta.
Vi uma estrela tão fria!
Vi uma estrela luzindo
Na minha vida vazia.
Era uma estrela tão alta!
Era uma estrela tão fria!
Era uma estrela tão sozinha
Luzindo no fim do dia.
E ouvi-a na sombra funda
Responder que assim fazia
Para dar uma esperança
Mais triste ao fim do dia.
Manuel Bandeira
Nenhum comentário:
Postar um comentário