sábado, 3 de agosto de 2013

SOBRE POEMAS

     O soneto "GUARDIÃO DA RUA" foi um daqueles temas que estavam sempre ali, a meu dispor, tão próximo... Mas que ninguém percebia, nem este poeta, por incrível que possa parecer! Já que os poetas costumam enxergar coisas onde ninguém mais consegue notar. Era um poste. Um velho e querido poste a luzir por tanto tempo a rua da minha infância.
     Um belo dia, ao chegar do trabalho, deparei-me com meu bairro sem luz, pois estavam trocando os postes da rua, e logo ele, ali, na frente do beco onde moro, estava sendo substituído por outro. Foi quando pude notar a sua importância, fiquei-lhe grato por seu serviço nesse tempo todo. E que tempo, hein! Aquele poste havia atravessado décadas, presenciado fatos, ouvido conversas, notado a minha felicidade nos dribles desconcertantes nas peladas, visto o progresso chegar, quando a rua da minha infância se emperiquitou toda, ao colocar seu vestido negro de gala, convivido, de certa forma, com a gente!
     Coube a mim, eternizá-lo num poema! Acho que seria o mínimo que, na minha condição de poeta, poderia fazer para guardá-lo na lembrança. Hoje em dia, o poste virou um soneto a luzir sempre que, como ledor de poemas o leio, e aqui, neste blog, vai criar asas e brilhar em outras freguesias, mentes.



     GUARDIÃO DA RUA

     Poste da minha infância tão querida!
     És como um guardião a guardar a rua!
     Quantas vezes por ti, a minha vida
     esbarrou na gigante altura tua!

     Meu nobre, imenso imitador da lua,
     qual uma esfinge inerte, esmaecida,
     verticalmente nesta... feito pua,
     a sangrar minha vida dolorida!

     Quanto tempo perdurará intacto,
     causando, se possível, até impacto,
     por vê-lo assim, passar quase que imune?!

     Ao passarem por ti, ninguém percebe,
     do carinho que tu poste, recebes,
     e das reminiscências que reúnes!

                                            Miguel de Souza

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