Sob um olhar distinto
faz-se um poeta.
Quebra a vidraça nata
de um ser desprendido.
Viaja sobre asas de luneta
com sua musa nua, crua
de essência
Busca elementos e a cada fragmento
vai compondo-a de alma, de vida.
É hora,
o canto é de liberdade
seu destino pousar na sensibilidade
daqueles que têm sede ávida.
E agora,
não existe mais medo retido,
desperta na aura um sorriso
de um êxtase rítmico.
Gracinete Felinto
ANÁLISE
O poema "MUSA DO POETA" se encaixa dentro da proposta modernista. Pois são versos de forma não fixas, isto é, livres: que não contém métricas. E brancos: que não contém rimas. A temática proposta pela poetisa é sobre o fazer poético ou do metapoema que trata da própria construção poética. Foi agrupado em quatro estrofes, sendo que a segunda estrofe contém seis versos e as demais são estâncias de quatro versos. A partir do título, a poetisa cria ou reinventa, já que aos olhos comuns, a musa do poeta é a mulher amada, desejada e tão inalcançada pelo poeta! Cria, portanto, a partir daí, a grande metáfora que irá perpassar todo o poema. Isto já é o suficiente para detectarmos poesia neste "Musa do poeta". Os dois primeiros versos, "Sob um olhar distinto/faz-se um poeta. (...) é o introito necessário para surpreender o leitor que se submete às análises mais críticas em prol dos estudos ou do seu conhecimento singular. Lembrando que o artigo no segundo verso está indefinido, /UM poeta/. Há nisso tudo aquela comunicação extra que dizem se tratar de entrelinhas, a poeta, muita sabiamente, deixa aí o seu ponto de vista, a sua ótica do que seria um poeta para ela. Ainda sobre os dois primeiros versos, "sob um olhar distinto / faz-se um poeta" (...) O poeta é aquele que extrai das coisas da vida a sua matéria prima, digamos assim, para o seu labor poético, enxerga coisas impossíveis a "seres normais" enxergarem e que estão aí tão à mercê de todos. E segue nos dois versos seguintes: "quebra a vidraça, nata / de um ser desprendido." Reforçando a ideia do início do poema. A segunda estrofe ou estância, como queiram, é talvez, a mais importante do poema, porque é nela que o poeta insere o seu momento ápice, o cimo; é o arremate dos primeiros versos, em que a poetisa conceitua ou insinua a prática descrita. É de uma beleza ímpar: "Viaja sobre asas de luneta / Com sua musa nua, crua / de essência / busca elementos é a cada fragmento / vai compondo-a de alma / de vida. (...) É a pura vivência transfigurada em palavras. A terceira estrofe surge como aquele momento em que a poeta sorveu as experiências necessárias, para enfim, deitá-la ao plano. O segundo verso dessa terceira estrofe: "O canto é de liberdade." É denunciador do momento atual que vivemos na literatura. Por fim, chegamos ao desfecho do poema. Nos dois últimos versos denota-se a sua existência palpável, pegável como uma caneta ou um copo. " desperta na aura um sorriso / de um êxtase rítmico.