DIA 26 DE JULHO É DIAS DOS AVÓS
MEU AVÔ
Hoje,
cansado, caminha lentamente pela casa.
Sem rumo...
Mora num passado distante
de que fala com muito orgulho.
Emocionado,
chora por qualquer razão.
Seja por motivo de tristeza
ou alegria.
Vencido pelo tempo,
parece um pássaro sem asas,
querendo voar para o infinito.
Oculta em sua face: sonhos, desejos e vontades
que guarda só para ele.
E assim vai vivendo:
dormindo com medo da morte
e acordando com medo da vida.
De: Márcio Pimentel
In: CESPOE/99 Concurso Estudantil de Poesia
Poetas Emergentes
LENTO CAMINHAR
Lentamente caminha o ancião.
Levando consigo um inesgotável
manancial de sabedoria.
que no entanto entesoura-se
em inquebrantável lacre,
e a ninguém é permitido acesso.
Triste quase sempre é o seu semblante,
e lentamente caminha o ancião,
em passos ora tristes, ora trôpegos,
pela estrada desconhecida.
Seus olhos já cansados,
perscrutam os horizontes,
e a tarde cai.
E o ângelus é anunciado.
Estrelas sempre lindas e misteriosas,
testemunham as leis do equilíbrio.
Lentamente caminha o ancião,
na esperança de amanhã...
Quem sabe encontrar o eterno repouso,
fazendo pousada na estalagem alva.
Leon Levi
VOVÔ
Olha a linha do horizonte,
por detrás daquela serra...
O último ponto que encerra,
a beleza desses montes.
Se não sabe, quer que conte
o que por lá se descerra?
O último ponto da terra,
diante de nossas frontes!
Da varanda da morada,
com a voz emocionada,
relatou-me o VOVÔ Luiz.
Jamais me fugiu do tino,
esse tempo de menino,
em que eu era muito feliz!
Miguel de Souza
sexta-feira, 25 de julho de 2014
sábado, 19 de julho de 2014
SOBRE POEMAS
ARTE DA DECLAMAÇÃO
Se escrever poemas requer, entre outras coisas, habilidade com as palavras. Declamá-los é visto também como um dom. O poeta completo é aquele que, além de escrever bem seus textos, consegue passar sentimentos ao lê-los ou declamá-los. Mas declamar é arte de ator, por ter o dom da interpretação.
Escrever não é ofíco fácil. É trabalhoso. Pede vocabulário, experimentos, transpiração! Mas, onde fica a tão propalada inspiração? O que é? Ela existe? Esta é uma discussão um tanto complexa entre os doutos no assunto. Há quem diga que um texto contem 80% de transpiração e 20% de inspiração. E há também os que, acreditam na inspiração, e dizem que há textos 100% inspirados.
Ao declamar um texto, o ator ou poeta se coloca no lugar da poesia, é na verdade, a poesia que salta do papel e ganha vida nos gestos de um ator. Ele, naquele momento, é como se fosse um istmo ou elo, entre a mensagem do poema e o público receptor dessa mensagem.
A sua leitura requer certo talento: obedecer à pontuação, não parar no final do verso, se ele pedir um segmento. Sem contar com a entonação que determinados poemas pedem. Enfim, há toda uma história a ser vista.
Em virtude disso, se pode dizer que determinado poeta famoso ou não, é completo ou incompleto. Isto, de maneira alguma, diminui este ou aquele poeta por não ser completo. Já que o primeiro e o principal talento dessa trempe ele possui, que é o dom da palavra. Por isso, ei-lo poeta.
MIGUEL DE SOUZA
RECEITA PARA RECITAR POEMAS
Feche os olhos...
Imagine que cada palavra,
cada verso
seja um doce,
seu doce predileto.
Cocada, marmelada,
goiabada, licor de cereja,
pudim, doce de cupuaçu...
Agora deguste, saboreie
esse doce sem pressa!
Sinta seu aroma,
seu gosto.
E imite as feições de regozijo
que ele lhe causa,
e se preocupe em passar
o gosto, o prazer, a vontade...
E em deixar as pessoas com água na boca!
Miguel de Souza
Se escrever poemas requer, entre outras coisas, habilidade com as palavras. Declamá-los é visto também como um dom. O poeta completo é aquele que, além de escrever bem seus textos, consegue passar sentimentos ao lê-los ou declamá-los. Mas declamar é arte de ator, por ter o dom da interpretação.
Escrever não é ofíco fácil. É trabalhoso. Pede vocabulário, experimentos, transpiração! Mas, onde fica a tão propalada inspiração? O que é? Ela existe? Esta é uma discussão um tanto complexa entre os doutos no assunto. Há quem diga que um texto contem 80% de transpiração e 20% de inspiração. E há também os que, acreditam na inspiração, e dizem que há textos 100% inspirados.
Ao declamar um texto, o ator ou poeta se coloca no lugar da poesia, é na verdade, a poesia que salta do papel e ganha vida nos gestos de um ator. Ele, naquele momento, é como se fosse um istmo ou elo, entre a mensagem do poema e o público receptor dessa mensagem.
A sua leitura requer certo talento: obedecer à pontuação, não parar no final do verso, se ele pedir um segmento. Sem contar com a entonação que determinados poemas pedem. Enfim, há toda uma história a ser vista.
Em virtude disso, se pode dizer que determinado poeta famoso ou não, é completo ou incompleto. Isto, de maneira alguma, diminui este ou aquele poeta por não ser completo. Já que o primeiro e o principal talento dessa trempe ele possui, que é o dom da palavra. Por isso, ei-lo poeta.
MIGUEL DE SOUZA
RECEITA PARA RECITAR POEMAS
Feche os olhos...
Imagine que cada palavra,
cada verso
seja um doce,
seu doce predileto.
Cocada, marmelada,
goiabada, licor de cereja,
pudim, doce de cupuaçu...
Agora deguste, saboreie
esse doce sem pressa!
Sinta seu aroma,
seu gosto.
E imite as feições de regozijo
que ele lhe causa,
e se preocupe em passar
o gosto, o prazer, a vontade...
E em deixar as pessoas com água na boca!
Miguel de Souza
quinta-feira, 10 de julho de 2014
HOMENAGEM
Uma das três Marias faz aniversário neste dia 11, a Maria das Graças/Oh, quanta graça! A ela dedico este soneto:
PELO TEU ANIVERSÁRIO
Das três Marias, foste a segunda
a reinar absoluta neste clã;
e a tez tão branca qual a manhã,
nunca te foi marcada com u'a tunda!
E, neste dia onze do mês de julho,
o clã dos nove, encontra-se em festa;
pois, a alegria em nós se manifesta,
pelo teu aniversário com orgulho!
O meu presente? Este singelo poema,
para guardares no teu relicário...
Sobre esta linda data: o teu aniversário,
e que deste soneto é o grande tema.
Parabéns, minha irmã tão querida,
e que Deus te dê muitos anos de vida!
Miguel de Souza
PELO TEU ANIVERSÁRIO
Das três Marias, foste a segunda
a reinar absoluta neste clã;
e a tez tão branca qual a manhã,
nunca te foi marcada com u'a tunda!
E, neste dia onze do mês de julho,
o clã dos nove, encontra-se em festa;
pois, a alegria em nós se manifesta,
pelo teu aniversário com orgulho!
O meu presente? Este singelo poema,
para guardares no teu relicário...
Sobre esta linda data: o teu aniversário,
e que deste soneto é o grande tema.
Parabéns, minha irmã tão querida,
e que Deus te dê muitos anos de vida!
Miguel de Souza
terça-feira, 8 de julho de 2014
FOI-SE A COPA?
Foi-se a Copa? Não faz mal.
Adeus chutes e sistemas.
A gente pode, afinal,
cuidar de nossos problemas.
faltou inflação de pontos?
perdura a inflação de fato.
deixaremos de ser tontos
se chutarmos no alvo exato.
O povo, noutro torneio,
havendo tenacidade,
ganhará, rijo, e de cheio,
a Copa da liberdade.
Carlos Drummond de Andrade
P. 149
Amar se aprende amando
sábado, 5 de julho de 2014
POEMAS PREFERIDOS
MANUEL BANDEIRA
"Balada das três mulheres do sabonete Araxá" encerra com nitidez grande parte da filosofia e da técnica da poesia de Manuel Bandeira. Segundo relata o autor, foi após ver um cartaz de sabonete que se pôs a compor o poema. "O trabalho de composição está em ter adequado às circunstâncias de minha vida, fragmentos de poetas queridos e decorados em minha adolescência (...)", escreveu nos depoimentos que estão no seu Itinerário de Pasárgada, de 1954.
Bandeira foi grande admirador de Luiz Delfino, autor de "As três irmãs". As três mulheres de Bandeira parodiam as três irmãs de Delfino. Só que sem amor paternal, o amor fraternal e o amor redução. E sem a paixão. O "Se a segunda casasse, eu mesmo iria à igreja, levá-la pela mão" de Delfino se transforma em "Se a segunda casasse, eu ficava safado da vida" em Bandeira.
O poema incorpora, ainda, versos de Rimbaud: "a minha vida de outrora teria sido um festim!"; repete a pergunta de Tetrarca a Salomé de Oscar Wilde -"não quero nada disso, Tetrarca. Eu só quero as três mulheres do sabonete Araxá". Faz o mesmo com Ricardo II, de Shakespeare - "o meu reino pelas três mulheres do sabonete Araxá". Vale-se sempre com a mesma ironia de Bilac, de Castro Alves e de letras de samba do carnaval carioca.
A colagem e o entrecruzamento dos textos seguem a experiência cubista e surrealista. O autor sempre afirmou que era comum compor meio fora de si - febre, cansaço, sonho. O surrealismo de André Breton potencializava o humor, algo triste do Bandeira tuberculoso. Contra a morte, a ironia e o insólito.
BALADA DAS TRÊS MULHERES DO SABONETE ARAXÁ
As três mulheres do sabonete Araxá me invocam, me bouleversam, me hipinotizam.
Oh, as três mulheres da sabonete Araxá às quatro horas da tarde!
O meu reino pelas três mulheres do sabonete araxá!
Que outros, não eu, a pedra cortem
Para brutais vos adorarem,
Ó brancaranas azedas,
Mulatas cor da lua vem saindo cor de prata,
Ou celestes africanas:
Que eu vivo, padeço e morro só pelas três mulheres do sabonete Araxá!
São amigas, são irmãs, são amantes as três mulheres do sabonete Araxá!
São prostitutas, são declamadoras, são acrobatas?
São as três Marias?
Meu Deus, serão as três Marias?
A mais nua é doirada borboleta.
Se a segunda casasse, eu ficava safado da vida, dava pra beber e nunca mais telefonava.
Mas se a terceira morresse... Oh, então, nunca mais a minha vida outrora teria sido um festim!
Se me perguntassem: Queres ser estrela? Queres ser rei? Queres uma ilha no pacífico?
[Um bangalô em Copacabana?
Eu responderia: não quero nada disso Tetrarca. Eu só quero as três mulheres do sabonete Araxá:
O meu reino pelas três mulheres do sabonete Araxá!
Manuel Bandeira
In: Estrela da Manhã
"Balada das três mulheres do sabonete Araxá" encerra com nitidez grande parte da filosofia e da técnica da poesia de Manuel Bandeira. Segundo relata o autor, foi após ver um cartaz de sabonete que se pôs a compor o poema. "O trabalho de composição está em ter adequado às circunstâncias de minha vida, fragmentos de poetas queridos e decorados em minha adolescência (...)", escreveu nos depoimentos que estão no seu Itinerário de Pasárgada, de 1954.
Bandeira foi grande admirador de Luiz Delfino, autor de "As três irmãs". As três mulheres de Bandeira parodiam as três irmãs de Delfino. Só que sem amor paternal, o amor fraternal e o amor redução. E sem a paixão. O "Se a segunda casasse, eu mesmo iria à igreja, levá-la pela mão" de Delfino se transforma em "Se a segunda casasse, eu ficava safado da vida" em Bandeira.
O poema incorpora, ainda, versos de Rimbaud: "a minha vida de outrora teria sido um festim!"; repete a pergunta de Tetrarca a Salomé de Oscar Wilde -"não quero nada disso, Tetrarca. Eu só quero as três mulheres do sabonete Araxá". Faz o mesmo com Ricardo II, de Shakespeare - "o meu reino pelas três mulheres do sabonete Araxá". Vale-se sempre com a mesma ironia de Bilac, de Castro Alves e de letras de samba do carnaval carioca.
A colagem e o entrecruzamento dos textos seguem a experiência cubista e surrealista. O autor sempre afirmou que era comum compor meio fora de si - febre, cansaço, sonho. O surrealismo de André Breton potencializava o humor, algo triste do Bandeira tuberculoso. Contra a morte, a ironia e o insólito.
BALADA DAS TRÊS MULHERES DO SABONETE ARAXÁ
As três mulheres do sabonete Araxá me invocam, me bouleversam, me hipinotizam.
Oh, as três mulheres da sabonete Araxá às quatro horas da tarde!
O meu reino pelas três mulheres do sabonete araxá!
Que outros, não eu, a pedra cortem
Para brutais vos adorarem,
Ó brancaranas azedas,
Mulatas cor da lua vem saindo cor de prata,
Ou celestes africanas:
Que eu vivo, padeço e morro só pelas três mulheres do sabonete Araxá!
São amigas, são irmãs, são amantes as três mulheres do sabonete Araxá!
São prostitutas, são declamadoras, são acrobatas?
São as três Marias?
Meu Deus, serão as três Marias?
A mais nua é doirada borboleta.
Se a segunda casasse, eu ficava safado da vida, dava pra beber e nunca mais telefonava.
Mas se a terceira morresse... Oh, então, nunca mais a minha vida outrora teria sido um festim!
Se me perguntassem: Queres ser estrela? Queres ser rei? Queres uma ilha no pacífico?
[Um bangalô em Copacabana?
Eu responderia: não quero nada disso Tetrarca. Eu só quero as três mulheres do sabonete Araxá:
O meu reino pelas três mulheres do sabonete Araxá!
Manuel Bandeira
In: Estrela da Manhã
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